O PRIMEIRO DOM (PARTE#2)

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_Sem mais truques, Gus.

_Não são truques de mágica no qual eu vou te iludir, eu pratiquei anos com a minha planta pra conseguir fazer esse tipo de coisa. Eu posso te provar.

O Avô o olhava com cara de poucos amigos, se sentia enganado.

_Vô, eu passei minha vida toda fingindo ser normal porque quando contei para o meu pai do que era capaz, só faltou me internar num manicômio. Eu aprendi desde cedo a mentir, eu mentia que não as escutava, que não as sentia, mentia que gostava de futebol, mentia que me interessava por outras coisas, quando na verdade tudo que eu queria era ir para o meu quarto e estar com a minha planta. Só ela me entendia. Assim como eu, ela se sentia sozinha, não havia mais nenhum de sua espécie, como também não havia mais ninguém como eu._Gus respirou fundo e seguiu_ Sempre achei que você fosse diferente, que você me entenderia, mas você não quer me dar nem ao menos a chance de te provar que não sou louco. Eu acabo de confessar que sou um mentiroso, mas pela primeira vez na vida não estou mentindo. Eu sou diferente, só isso.

_Gus...

_Está bem, vamos voltar, só te peço que por favor não conte nada disso para os meus pais. Faz tempo os convenci de que era normal e se eles voltam a escutar essa história das plantas eu provavelmente voltaria a tomar minhas pílulas em um quarto fechado e branco, durante um bom tempo e não quero nem imaginar o que aconteceria com a minha planta._Gus estava arrependido de ter contado, temia perder tudo que havia conseguido e começou a se desesperar _Fala das drogas, mas não mencione as plantas, por favor, por favor. Eles vão me internar, vão jogar ela fora. Pode dizer que sou drogado, eu te implo...

_Se acalme, Gus _o avô estava comovido com a angustia do neto_eu vou te dar uma chance para provar o quão diferente é.

_Você tá falando sério?_Gus parecia não acreditar_ Obrigado,vô, eu nem sei como agradecer....

_Não me agradeça ainda. Me demonstre que eu estou errado a seu respeito.

Gus olhou sério para o avô e disse:

_Eu vou provar o que digo. Você só tem que escolher como. Eu posso fazer várias coisas: você pode arrancar uma flor, qualquer uma e eu te digo de onde arrancou e como ela é. Ou se quiser, pode se esconder e eu te acho com os olhos fechados. Ou também, você pode deixar cair um objeto em qualquer lugar, sem que eu veja e eu vou descrevê-lo e encontrá-lo, ou..._ Gus estava emocionado por poder demonstrar do que era capaz.

_Eu já sei._ interrompeu Arthur.

_Qual?

_Vamos fazer tudo isso de uma só vez.

O garoto concordou com a cabeça, estava radiante. Mas o que ele não sabia é que o avô planejava algo mais, uma prova de fogo.

Arthur conhecia a floresta tão bem como sua casa, ele sabia muito bem que chegar na pedra escrita era uma tarefa extremamente complicada. Além de estar bem oculta, muitas árvores bloqueavam o caminho, em determinado trecho era necessário agachar-se para poder prosseguir. Decidiu que aí seria o lugar perfeito para esconder-se e esperar pelo neto. Além disso, no meio do caminho passaria por várias espécies de flores, arrancaria uma linda florzinha branca, bem miudinha e a deixaria justo aí com as demais, assim matava duas tarefas de uma vez só. O neto nunca perceberia que a flor era o objeto que deveria encontrar. Arthur pensou que seria muito fácil para Gus achar um objeto fora de lugar, mas uma pequena flor no meio de tantas flores iguais, seria impossível. Depois só faltaria a prova de fogo e dessa vez Gus não o enganaria.

Foi de acordo com seu plano que Arthur prosseguiu, primeiro vendou bem os olhos de Gus e saiu em disparada floresta adentro, o velho se movia com destreza para evitar que o neto o espiasse. Gus até podia estar olhando, porém isso não seria suficiente, Arthur era muito ágil na floresta, seria impossível localizá-lo, mesmo vendo para que direção tinha ido.

A PROFECIA DOS TRÊSOnde histórias criam vida. Descubra agora