FLORESTA ALTA (Parte#1)

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Avô e neto passaram horas ali sentados compartilhando "loucuras" um com o outro. Arthur explicou que todo o Povo das Florestas o tratava como maluco e que pela primeira vez, podia conversar sobre a profecia com alguém que o levava a sério. Gus também, pela primeira vez, podia falar de suas habilidades com outra pessoa sem temer ser levado para um manicômio. E assim, desfrutando da compreensão alheia o tempo foi voando, quando perceberam, já era noite.

_Gus temos que voltar, é muito perigoso estar aqui de noite.

_Ficaremos mais, por favor!

_Temos de ir, que irresponsabilidade a minha!

_Por que?

_A floresta é maravilhosa, mas aqui tem muitos animais selvagens, de noite eles se aventuram por toda floresta, temos que voltar rápido._Arthur estava aflito.

_Calma, vô.

Arthur puxava o menino o mais rápido que podia.

_Temos que fazer silêncio, tente ser o mais cuidadoso possível, Gus.

Só quando pisaram no corredor entre as montanhas que Arthur respirou aliviado e permitiu novamente o diálogo.

_Agora já passou o perigo, estamos bem.

_Que perigo? Por que aqui estamos bem? Aqui me sinto mais encurralado do que nunca, não tem pra onde fugir, a não ser seguir reto.

_Deixa eu te explicar uma coisa, a Floresta Alta sempre foi muito respeitada por nós, tanto os animais como as plantas. Acontece que há alguns anos isso vem mudando, ambos os lados estão mais ariscos. Há uns cinco anos atrás os animais começaram a se tornar mais territorialistas, mais agressivos e nós fizemos um "acordo" por assim dizer. Se não cruzamos o rio eles não nos incomodam, mas se alguém ousa pisar além..._Arthur deteve suas palavras para causar mais impacto.

_O que?_perguntou Gus curioso.

_Eles partem pra cima.

_Os animais atacam?

_Não era assim antes, antigamente eu andava por toda floresta tranquilo e nada acontecia. Agora, temos limites, o rio é um deles e o outro é a noite. Se está escuro não devemos estar em nenhuma parte da Alta. Por isso no caminho estreito estamos seguros.

_Como pode ser?

_Eu não sei, mas te asseguro que acontece. Assim que, por favor Gus, respeite a vontade da Floresta.

_Isso é muito estranho, vô.

_Não, você tem que entender que assim como os animais, nós também havíamos mudado, cada vez mais entravam na floresta para farrear, para procurar o que fazer, para explorar, foi uma maneira da natureza de se proteger dessa invasão. As gerações mais novas foram perdendo o medo e o respeito pela floresta, ela apenas deu o troco.

_A invasão e esse comportamento abusivo dos humanos me parece comum, o que não se enquadra é a resposta da floresta. Eu nunca escutei nada parecido com este "acordo" que vocês tem, como um animal pode estabelecer regras, vô?

_Gus, é só não invadir o território deles, essa é a regra básica do reino animal.

_E por que de noite...

_Por que é quando eles se sentem mais seguros para atacar. Não sei...

_Mas por que antes não era assim? Você não acha esquisito?

_Não, eu acho sábio e necessário. Se não fosse esse comportamento mais agressivo dos animais, a Floresta estaria infestada.

_Mas por que antes não era assim?

_Já te expliquei, Gus. Antes nós respeitávamos os animais, as flores...

_Me desculpa, vô, mas a floresta não é racional. As regras são criadas por homens, são obedecidas por homens, não por animais. Isso me parece extremamente estranho.

_A natureza é sábia, meu neto.

_Disso eu não discordo.

Gus estava com a pulga atrás da orelha. Algo ali estava fora de ordem. A invasão dos homens podia modificar o comportamento dos animais, mas não dessa maneira. Isso merecia um investigação mais profunda e o garoto estava decidido a tirar a limpo essa história. 


A PROFECIA DOS TRÊSOnde histórias criam vida. Descubra agora