TRIÂNGULO ESCALENO (parte#4)

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Os três corriam por cima de Violi, que os perseguia de baixo. Gus ia construindo a passagem à medida que avançavam. A fera, porém não conseguia acompanhar seus passos e quando Gus deixou de sentir a ferroada do perigo em seu peito, avisou:

– Já podemos descer, ela ficou para trás.

– Descer pra quê? Aqui estamos a salvo.

– Você acha que é fácil fazer isso? Estou exausto.

As árvores se dobraram na direção do solo e os três pisaram em terra firme.

– Ok, e agora? Qual é o plano? – Perguntou Danilo.

– Me deixa descansar um pouco, depois buscamos a Malu. – Disse Gus, deitando-se em um tronco escuro.

Mas a pausa durou pouco, Jalí não estava disposto a esperar. O gorila batia as mãos contra seu peito, movendo-se de um lado ao outro em protesto.

– Parece que o macacão não está de acordo com o seu plano.

– Calma, Jalí. Calma, pronto, estou de pé. Viu? Já, já vamos encontrá-la – Mas ele mesmo não estava calmo e compartilhou seus medos com Dani:

– Parece que ele precisa de mim, Dani. Ele não consegue achá-la e isso não é um bom sinal.

– Porquê?

– Porque ou ela está muito longe ou...

– Ou o quê, Gus? – Danilo começava a ficar nervoso também.

– Ou está inconsciente.

Gus reuniu todas as forças que lhe restavam e se concentrou para achar o rastro de Malu. A resposta foi imediata, a menina não estava longe e isso gelou seu coração...O garoto se movia rápido e certeiro, Danilo e Jalí o seguiam em silêncio.

Gus parou seis quilômetros depois e olhou para cima. Estavam rodeados por árvores magníficas e antigas, os troncos eram delgados, pareciam tocar o céu, de tão compridos. Quando os outros dois o alcançaram, Gus apontou para cima. Danilo não podia ver o que havia ali, o sol ofuscava-lhe a vista, mas Jalí saiu desesperado para onde apontava Gus. O gorila subiu a árvore tão rápido que nem deu tempo de Gus explicar para Dani que ali, no topo de uma daquelas árvores, estava Malu.

Jalí pendurou-se em um galho e puxou a rede para si. Malu estava desacordada e se movia como uma boneca de pano, cada vez que o gorila chacoalhava a malha. Jalí urrava e acariciava seu rosto, mas Malu não reagia.

– Consegue ver alguma coisa? – Perguntou Danilo.

– Nada, mas eles já deveriam ter descido.

Gus sentia a presença dos dois, mas não conseguia vê-los.

– Desce a árvore, Gus. Não estou gostando dessa demora.

Gus estava muito cansado, sua cabeça doía na parte de trás e seus músculos estavam retesados.

– Não sei se consigo, tenho medo de não poder controlar bem.

– Um último esforço, vamos! – suplicou Danilo.

Gus fechou os olhos e começou a fazer a árvore se dobrar. Em pouco tempo o topo estava no chão e Jalí pisou terra firme. Danilo saiu correndo quando viu Malu presa na rede. O gorila bufou forte e com as duas mãos arrebentou o entrelaçado. Com muito cuidado, retirou a menina dali e a colocou gentilmente no chão. Assim que chegou até eles, Danilo se certificou de que o peito da menina se movia e começou a tentar acordá-la. Os dois estavam tão compenetrados em despertar a garota, que não perceberam Gus caindo exausto no chão. Imediatamente, a grande árvore se endireitou, se esticando novamente em direção ao sol. Danilo e Jalí pularam com o movimento brusco atrás de si e Dani viu Gus estirado no chão. Sua primeira reação foi olhar para o grande gorila que se encontrava á sua frente. Danilo sentiu que estava completamente vulnerável e sozinho. Queria fugir dali. Jalí podia sentir o medo exalado por Danilo e tentou demonstrar que não era uma ameaça, abaixou sua cabeça inúmeras vezes, mas o menino não captou a mensagem. O gorila então, contra todos seus instintos resolveu se afastar de Malu. Retrocedeu alguns metros e sentou-se tranquilo para esperar. A distancia fez Danilo se recompor, abriu a mochila e pegou uma garrafa de água, derramou algumas gotas na testa de Malu e então, viu a menina abrir os olhos assustada. Jalí sentiu sua presença no mesmo instante e correu em sua direção. Danilo não esperou para ver o reencontro, apressando-se para socorrer Gus. Quando o alcançou, viu que seus olhos estavam abertos.

A PROFECIA DOS TRÊSOnde histórias criam vida. Descubra agora