O SEGUNDO DOM (Parte#4)

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O menino tinha que se mover, se ficasse parado o causador do "alerta" seria alvo fácil. Respirou fundo, engoliu em seco e começou a se esgueirar para longe.

Seu plano parecia bom, mas tinha se esquecido de um pequeno detalhe "o 'alerta' vai para onde eu vou, porém aonde o 'alerta' vai, o 'perigo' vai atrás". Gus se movia muito lentamente e não estava sendo o suficiente para atrapalhar a mira do homem. Ele teria que correr: "se eu correr o homem vai me ver e seu alvo vai mudar, se eu não correr ele vai acertar o que está aí em cima me seguindo".

Gus fechou os olhos "eu vou ajudar" e saiu em disparada. Na mesma hora, o homem de chapéu mudou a mira e começou a atirar. As balas passavam voando ao lado de Gus, uma por pouco não lhe furou a perna, ficou alojada numa pobre árvore, Gus sentiu o impacto como se o tiro tivesse sido nele, mas seguiu correndo em ziguezague. O "alerta" que o acompanhara até então, havia desaparecido, as folhas de cima já não lhe emitiam sinal algum. Ele estava completamente sozinho com o "perigo". Uma nova bala passou raspando por seu braço e Gus sentiu uma queimação imediata na área atingida, ele sabia que se seguisse assim acabaria alvejado por completo e decidiu buscar um lugar onde se esconder. Encontrou uma árvore oca e aí se meteu. Seu coração galopava, tremia por completo, estava exausto, não podia mais pensar em nada, apenas tratava de respirar e foi então que aconteceu de novo: os ramos começaram a se mover, vinham de todas as partes, de baixo, de cima, dos lados, iam se posicionando justo na abertura do tronco, tapando por completo a fenda por onde Gus tinha se metido.

O homem com o rifle em punho seguia disparando, parou apenas por uns segundos para recarregar a arma, mas quando voltou a mirar já não havia sinal do menino.

_Eu sei que você está aqui, seu pirralho!_O homem ia andando e analisando tudo ao seu redor. Estava bem próximo da árvore oca, Gus podia vê-lo perfeitamente por entre os galhos, mas o outro não fazia idéia de onde estava o menino intrometido.

_Eu vou te achar, garoto, eu sei que está aqui!_O homem sabia que o menino não podia ter ido longe, devia estar escondido em algum lugar e estava determinado a encontrá-lo.

Gus rezava para que o homem não escutasse seu coração de tão forte que batia.

_Odeio essa floresta maldita!_o chapéu gritava ameaças e amaldiçoava o lugar, seus gritos eram ouvidos cada vez mais longe. Gus já quase não o escutava. O "perigo" havia ido embora.

"Ótimo, escapei mais uma vez, agora como faço para sair daqui?"_Gus estava preso, ele tentou de todos os jeitos fazer os ramos se moverem, mas nada surtiu efeito "parece que a árvore não vai ser mais oca". Ele tentou uma vez mais, mexer os galhos: se concentrou o máximo que pôde, tentou se ligar á eles com tanta força que sua cabeça começou a latejar, mas tanto esforço foi em vão, absolutamente nada se moveu. Gus começava a perder as esperanças de sair quando de novo, sentiu o "alerta" nas plantas e então, uma enorme mão agarrou todos aqueles galhos e ramos, arrancando tudo de uma só vez.

Ali estava Gus frente a frente com aquele gigantesco gorila novamente, mas agora ele não tinha para onde correr, estava completamente encurralado "Ai não" o gorila o agarrou, o botou em seus ombros e saiu em disparada:

_Me solta! Me solta seu ingrato! Eu salvei a tua vida! Me soltaaaa! _Gus gritava e se contorcia...estava claro que ele não podia falar com os animais.

O Gorila corria, saltava e se balançava, era tanto sacudimento que Gus sentiu uma enorme ânsia de vômito. Depois de alguns minutos naquela frenética agitação, o menino sentiu que não aguentava mais. Seu estômago estava prestes a sair pela boca quando de repente o gorila parou. Gus foi arremessado no chão e saiu girando, parecia um boneco de pano.

_Você está bem?

O menino não podia acreditar no que via, sentada ao seu lado estava Malu.

_Gus você tá sangrando! Eles te acertaram? Você está bem?

Gus estava completamente tonto, tudo girava, ele segurava a cabeça com as mãos enquanto olhava confuso para Malu.

_Fala comigo!_A menina revisou todo seu corpo, buscando algum ferimento e quando viu que o sangue era de uma ferida superficial se acalmou_ Ufa!

_Malu, está todo mundo doido atrás de você!_Gus a viu sorrir e se lembrou do perigo_ Vamos embora daqui, rápido, tem um gorila enorme por perto e ele pode voltar a qualquer momento!

_Gus, é daquele gorila que você está falando?_Malu apontava para trás do menino.

Sentado a dois metros de distância estava o gorila, tranquilo apenas observando-lhes. Gus ficou paralisado e sem ar, Malu notou o pânico do outro e começou a rir:

_Calma Gus, é um bom gorila, não vai te fazer nada.

_Nada? Essa coisa me seguiu, depois me sequestrou, me atirou no chão e você diz que ele é bom?

_Muito bom._Malu se levantou e foi até o grandalhão_Muito bem, Jalí, arrasou!

Gus abriu e fechou os olhos várias vezes para acreditar no que via: Malu estava abraçando o gorila.

_Não te acertaram também, não é? Meu Jalí valente!_Malu acariciou o gorila e depois se dirigiu a Gus_Você devia agradecer a ele!

_Eu? Ele que devia me agradecer.

_Gus, ele salvou a tua vida. Se não fosse ele, você estaria preso naquela árvore até agora.

_Pois se não fosse por mim, ele teria vários buracos de bala espalhados pelo corpo.

_Do que você está falando?

_Tô dizendo que teu amigo aí estava na mira daquele psicopata e que eu o distraí para que ele pudesse fugir.

_É sério isso?

_Claro que é sério, eu senti que ele me seguia desde que passei por uma pedra pontuda. Depois, não sei como acabei dormindo e quando acordei aquele homem detestável estava com ele na mira. Como ele não se movia era um alvo fácil, então resolvi correr pra chamar atenção do homem e acabei preso naquela árvore. Aliás, falando em árvore, como você sabia que eu estava preso em uma?

Malu o encarava firme, escutando com atenção e quando Gus lhe fez a pergunta, tremeu nas bases, seu olhar se desviou e Gus percebeu que a garota pensava no que responderia:

_Sim...falando em árvore, como é que você se meteu ali dentro? _ Malu viu quando Gus coçou a cabeça e respirou fundo...ele tampouco queria responder.

_Se você me falar a verdade, eu também te conto.

Os dois se olhavam analisando a situação. Malu podia muito bem mentir dizendo que estava por perto e que o vira preso na árvore, mas algo lhe dizia para falar o que realmente tinha acontecido. Pela primeira vez na vida, Malu sentia vontade de contar seu segredo para alguém. Ela estava realmente agradecida pelo ato de coragem de Gus, botando em risco sua própria vida para salvar o gorila. Já Gus, pela primeira vez em sua vida, não sabia como mentir, não podia pensar em absolutamente nada que explicasse como acabara preso dentro daquela árvore. Malu desconfiava de todas as pessoas, mas coragem era algo que não lhe faltava e decidiu que para este, falaria a verdade:

_Como eu soube que você estava preso na árvore?_ela repetiu mecanicamente.

_Foi o que te perguntei, você estava lá?

_Não. Ele estava. _Malu apontou para Jalí.

_Disso, eu já sei.

_Pois então é simples, não é? Ele me contou. 


A PROFECIA DOS TRÊSOnde histórias criam vida. Descubra agora