SEGUNDO DOM (Parte#3)

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Cinco minutos antes da escuridão começar a se abrandar, Dani já tinha sua mochila à postos e Gus o esperava impaciente do lado de fora.

_Vamos logo, ela pode estar machucada.

_Isso vai ser difícil, é mais fácil encontrar uma agulha numa piscina de bolas do que alguém na Alta.

_Pensamento positivo, eu tenho certeza de que vou encontrá-la.

Os dois partiram rumo a floresta, sem despedidas, sem olhar para trás. O caminho foi percorrido no maior e absoluto silêncio, Gus estava surpreso por não escutar a voz de Danilo e lhe lançou uma rápida olhada. Dani estava pálido e sua respiração ofegante, o medo era evidente. Chegando na entrada do caminho estreito, Gus se sentiu na obrigação de contar:

_Espera, Danilo. Antes de entrar, você precisa saber de uma coisa e se quiser desistir eu não vou contar para ninguém, você me espera aqui e eu entro sozinho.

_Que foi? Tá me deixando nervoso.

_Eu vim aqui outro dia á noite e haviam dois homens conversando na floresta, tentei chegar mais perto para escutar o que diziam e eles me viram. Eu sai correndo e vieram atrás de mim, quando consegui me afastar um pouco, começaram a atirar na minha direção. Eu acho que o sumiço da Malu pode ter a ver com isso. Talvez ela não tenha tido a mesma sorte que eu.

_Eles atiraram? Você tá falando sério ou tá inventando pra entrar sozinho e bancar o herói? Se essa história é verdade por que não contou para os outros na reunião?

_Eu não queria que ninguém soubesse. Eu não consegui ver a cara dos sujeitos e eles tampouco viram a minha, se eu falasse isso lá e alguém estivesse envolvido? Não queria que soubessem que era eu escutando a conversa naquela noite. Estou confiando em você Danilo.

_Obrigado por me avisar._Danilo tentava decidir o que fazer e ficou alguns segundos em silêncio, mas Gus tinha pressa:

_Então, como vai ser?

_Vamos._O medo da situação era menor que o medo de perder o trono.

E assim entraram no escuro e estreito corredor. Gus de imediato sentiu o ambiente pesado, havia tristeza nas plantas.

_Isso aqui tá frio._Danilo tremia da cabeça aos pés, não necessariamente pelo frio.

Gus estava concentrado e não escutava o amigo, tentava se comunicar com as plantas para encontrar o caminho certo. A direção apontada era a que Gus temia: eles teriam que cruzar o rio.

_Acho melhor irmos por aquele lado, o sol tá pra lá, vai estar menos frio_ As palavras de Danilo voavam para longe com o vento, Gus seguia seu caminho sem perceber o outro.

_Gus! Gus!_ Dani gritou o mais forte que pôde, mas Gus estava longe demais para ouvi-lo_Você tá de sacanagem? Mais devagar!_Dani estava com dificuldades em se aproximar, Gus ia cada vez mais rápido.

O menino tinha achado o rastro de Malu, as plantas o levavam até ela, estava tão compenetrado que não percebeu o quão veloz ia. Danilo tinha vontade de esganá-lo, corria tão rápido quanto podia, mas Gus parecia possuído: se abaixava, pulava e desviava-se de enormes galhos com uma habilidade surpreendente. Corria como se soubesse para onde ia e não parava um só segundo. Danilo estava decidido, se o alcançasse o amarraria seus pés bem forte. Logo, a raiva que sentia foi dando lugar ao medo, estava realmente ficando para trás:

_Gus! Droga! Me espera! Guuuuuuu..._seu grito foi interrompido pela brusca parada do corredor desvairado.

Gus havia puxado o freio de mão e parado de um só repente, estava estático e não movia um músculo sequer. Danilo pensou que seria sua chance para alcançá-lo e saiu desembestado em sua direção. Sua vontade era tão grande que não percebeu a mão estendida em sinal para se deter. Dani voou com tudo para cima do outro e o derrubou no chão. Gus caiu tentando tapar a boca do outro, mas já era tarde:

_Seu babaca! Ficou surdo? Quer se perder aqui? Eu devia te..._Danilo viu o desespero nos olhos de Gus, que lhe fazia sinal de silêncio com o dedo e apontava para cima com a outra mão. Danilo seguiu o dedo com os olhos, mas nada viu.

_Que foi?_Sussurrou assustado ganhando mais um sinal de silêncio. Gus tinha seus olhos fechados, as árvores lhe enviavam um alerta.

_Tem alguma coisa nas árvores._Sussurrou.

_O que?_Danilo movia a boca sem emitir som algum, estava apavorado.

_Eu não sei.

_E agora?

_Ou a gente corre ou vamos andando devagar, mas o caminho é por ali_Gus apontava para a esquerda, as plantas daquele lado estavam ansiosas.

_Como você sabe?

_Intuição._Mentiu Gus.

_Você tá de brincadeira? E foi essa mesma intuição que nos trouxe até aqui?

_A gente tem que ir, agora._avisou Gus.

_Não, eu...eu vou voltar, essa coisa de plantas, de animais selvagens, isso não é pra mim, eu gosto de gente, eu vou voltar.

_Não é boa idéia e se você se perder?

_Eu acho que sei o caminho, não vou me meter mais nesse lugar.

_Vem comigo, Dani, já estamos perto.

_Já estamos perto? Perto de que? Como você sabe? Intuição? Eu vou dar o fora daqui.

_Eu acho melhor ficarmos juntos._sugeriu Gus.

_Não, ainda tem essa coisa aí de cima, eu vou correr pra um lado e você vai pro outro, vamos ter mais chances se nos dividirmos.

_Danilo, não estou seguro de que...

_Foi uma péssima idéia eu ter vindo, eu não gosto dessa floresta, eu vou voltar. No três, você corre pra esquerda e eu vou pra direita, eu me lembro por onde viemos, certo? _Dani segurava forte o braço de Gus.

_Está bem, então.

_Boa sorte, Gus.

_Pra você também.

E no três, cada um correu para um lado.

Gus sentia a mesma adrenalina de antes, porém dessa vez nenhuma planta se moveu. As árvores de cima continuavam enviando-lhe o sinal de "alerta" e enquanto corria pensou no quanto isso era bom, pois significava que Dani estava bem.

Gus correu e correu até não aguentar mais e caiu sentado no chão. Queria seguir, mas seu corpo já não aguentava, o "alerta" seguia vindo do alto. Enquanto tentava normalizar sua respiração, olhava para cima com expectativa. O sinal era constante e vinha do topo da árvore onde estava sentado. Encostou a cabeça no tronco, abriu a mochila e bebeu quase toda água que trazia. Estava exausto e irritado com a situação:

_Aparece de uma vez! Eu sei que tem alguém aí! Aparece! _Gus gritava enfurecido para a árvore, mas nada surgiu. Com sua respiração normalizada, decidiu voltar a andar.

Gus andava com o "alerta" em sua cabeça, passou por dezenas de animais e flores, mas mal podia notá-los, estava concentrado no rastro de Malu e por demais preocupado com a coisa que lhe seguia desde cima. Estava cansado e já não tinha mais água nem forças. Viu uma grande árvore solitária e decidiu que pararia ali para descansar. O sinal de alerta continuava lhe fazendo companhia e Gus já estava se acostumando àquilo. A árvore era simpática, Gus tinha se acomodado em seu enorme tronco e sentia-se cômodo, começou a relaxar, seus olhos ficaram pesados, o menino até que tentou lutar, mas acabou dormindo e caindo em sono profundo. Sua respiração estava pesada e constante, mas de repente algo lhe atingiu como um raio, "PERIGO", Gus levantou de um pulo, totalmente perdido, ele ainda sentia o mesmo "alerta" vindo de cima, mas agora podia sentir um outro aviso, que estava justo a seu lado. O "perigo" se aproximava e Gus já podia escutá-lo. Contornou a enorme árvore para se ocultar e viu o mesmo homem do outro dia, com o mesmo chapéu. Mas desta vez, estava sozinho, em sua companhia apenas um rifle. A arma apontava para as árvores mais altas localizadas atrás do garoto. O que quer que estivesse seguindo a Gus, agora estava na mira do atirador. 


A PROFECIA DOS TRÊSOnde histórias criam vida. Descubra agora