ALGO EM COMUM

38 5 2
                                    


– Malu! Malu! – Gus gritava, desesperado, enquanto corria.

Ele sentiu perfeitamente quando a menina se deteve e não pensou duas vezes: correu como louco ao seu encontro. Ela não estava muito longe, Gus a alcançaria em questão de segundos, não fosse o alerta de perigo ferroando seu peito e o fazendo diminuir a velocidade. Tanto o perigo quanto Malu vinham da mesma direção. Gus seguiu cauteloso, rezando para a amiga estar bem. Ele reconheceu de longe a roupa cinza de Malu, que estava parada, imóvel debaixo de uma árvore. As longas folhas, não o deixavam ver nada da cintura para cima. Continuou avançando, o peito cada vez ficava mais apertado, ele localizou a ameaça bem na frente da amiga e mesmo sem poder ver, resolveu arriscar:

– Malu? – Sussurrou.

A menina continuou imóvel e ele se aproximou ainda mais. O peito queimava de dentro pra fora, mas não se deteve, quando estava a dois metros de Malu, tentou mais uma vez o contato:

– Malu?

A garota não reagiu. Gus não via seu rosto, que estava encoberto pelas folhas verdes. Agora já estava a um metro da amiga e seus instintos imploravam pela retirada.

– Malu, responde! – Pediu, nervoso.

Malu não respondeu. Gus não queria se aproximar mais, a situação era por demais sinistra. Resolveu investigar antes de agir. Esforçando-se para relaxar, se concentrou, não demorou muito para as longas folhas da árvore se abrirem como uma cortina para o lado direito. Gus assustou-se ao ver Malu com o olhar fixo à sua frente, os olhos arregalados. Gus seguiu o olhar da amiga, mas as folhas largas tampouco o deixavam ver o que lhe causava tanto pânico. Apertou os olhos e a cortina abriu-se novamente, dessa vez para a esquerda. O garoto não esperava por aquilo. A cobra estava pendurada em um galho a poucos centímetros de Malu, as duas, imóveis, se encarando. Mas a menina não parecia estar em sintonia com o animal, era evidente a ameaça de um ataque. Gus mordeu os lábios de nervosismo. Não queria se mexer com medo de piorar a situação. Olhou novamente para Malu com esperança de ver alguma reação, mas ela parecia hipnotizada. Gus segurava o peito de dor, teria que fazer algo.

– Me desculpa, Malu, mas você não me dá outra alternativa... – falou Gus, antes de agir. O menino fez o galho se dobrar ao máximo para baixo, formando a letra U invertida e então o soltou bruscamente. A cobra foi arremessada para longe e seu peito imediatamente deixou de incomodar. Gus abraçou a amiga.

– Você está bem? O que houve?

Malu tinha a respiração ofegante, estava em choque. Gus a soltou e começou a sacudi-la fortemente.

– Malu! Malu!

A menina soltou um horripilante grito, assustando Gus. Malu gritava sem parar, enquanto o amigo tratava de acalmá-la.

– Já passou, Malu! Acabou! Eu estou aqui! Calma! – Voltou a abraçá-la – Está tudo bem, eu estou com você.

Malu permanecia tensa e histérica, desferindo golpes e unhadas aleatórias. Aos poucos, nos braços de Gus, foi relaxando e voltando a si.

Quando percebeu que estava controlada, Gus a soltou. Tinha os braços cobertos de arranhões.

– Meu deus, Gus, me desculpa! – implorou Malu quando percebeu o que tinha feito.

– Não tem problema, como você tá?

– Fui, fui eu que fiz isso? – Ela apontava para os machucados do garoto.

– De verdade, não importa.Você estava fora de si. O que aconteceu? Por que a cobra queria te atacar?

– A cobra...Onde está a cobra? – Inquietou-se Malu, ao se lembrar. A menina procurava pelo réptil, assustada.

A PROFECIA DOS TRÊSOnde histórias criam vida. Descubra agora