FLORESTA ALTA (Parte#2)

115 25 4
                                    

 No dia seguinte a porta do quarto de Gus se abriu as seis da manhã.

_Acorda, Gus!

Mal havia aberto os olhos e foi agredido pela luz do dia quando o avô resolveu abrir todas as cortinas do quarto.

_Levanta, você está atrasado.

_Atrasado para que?_Gus tentava se sentar.

_Pra escola, foi tanta correria, tanta novidade que acabamos nos esquecendo, mas sua mãe ligou ontem de noite e me lembrou deste pequeno detalhe...

_Que dia é hoje? Tenho que ir mesmo?

_Se veste. Já preparei o café.

Gus não tinha a menor vontade de ir para a escola. Ele adorava estudar e aprender, mas conhecer gente nova não era o seu forte. Passou toda sua vida isolado e fugindo dos demais. Nunca conseguia manter uma conversa por mais de alguns segundos. Sua vida social se resumia em ter que fazer as refeições do dia com os pais, nada mais. Gus odiava a maneira como falavam, odiava os abraços, cumprimentos ou qualquer tipo de toque, evitava qualquer aproximação e sempre que alguém ultrapassava seus limites, o menino se via em apuros: ele nunca sabia o que dizer ou fazer. Ele via as coisas como elas eram e não como queriam que ele visse. Gus não possuía a menor sensibilidade, nunca conseguia interpretar as emoções e não tinha o menor tato para lidar com os demais. Era muito drama, reclamações, fofocas, julgamentos, fingimentos, ele não se identificava com nada daquilo. Para Gus a vida era simples e prazerosa, ele simplesmente não compartilhava dos mesmos sentimentos que todos os outros.

_Você vai me acompanhar, vô?

_Você está brincando, não é? Se você chegar na escola na companhia deste velho, será um suicídio social, meu querido.

_Vô, suicidio social é eu aparecer na escola.

_Pelo contrário, na escola você vai fazer amigos, tente não mencionar o nosso segredinho e estará bem.

Gus fez cara de poucos amigos, botou a mochila nos ombros, respirou fundo e partiu.

_Boa sorte!_ gritou o avô.

A escola não era longe, diferentemente de Donário onde Gus levava 30 minutos para chegar de carro. Foram necessários apenas alguns poucos passos para visualizar o colégio. Velho, amarelo e completamente desorganizado, foram as primeiras impressões de Gus.

Não sabia para onde dirigir-se, havia meninos correndo por todos os lados e sentia-se enjoado. Em Donário as crianças eram mais ordenadas e bem menos barulhentas. Gus procurou alguém que pudesse indicar-lhe onde ir. Sentia-se desconfortável entre tanta gente, estava a ponto de desistir quando alguém se dirigiu a ele:

_Precisa de ajuda, amigo?

Um menino aparentemente da mesma idade que Gus lhe sorria amigavelmente.

_Sim, estou um pouco perdido.

_Qual é a sua sala?

_Não sei.

_Qual seu nome?

_Gustavo.

_Eu sou Danilo, qual seu curso?

_Segundo.

_Segundo? Então vem comigo, estamos na mesma sala.

Gus seguia o menino loiro de olhos claros pelo corredor, mas avançavam de maneira lenta e irritante, todos quereriam cumprimentá-lo, em especial as meninas.

_Dani!

_Oi, Dani!

_Bom dia, Dani.

Danilo parecia adorar tanta atenção dedicada a ele e parava para conversar sempre que solicitado. Gus estava ficando nervoso, já não aguentava mais tantas interrupções e decidiu tentar o caminho solo:

_Me desculpa, Danilo? Qual é o número da sala? Eu acho que posso achar sozinho.

_Sala 301.

_Obrigado._agradeceu Gus e seguiu seu caminho muito mais a vontade.

Subiu dois andares e viu sua sala. Abriu a porta e seguiu direto para a primeira cadeira vazia que avistou. Como olhava para o chão, não percebeu que absolutamente todos os alunos o encaravam com curiosidade.

O professor era gordinho e careca e foi logo tentar acabar com o murmurinho que se formou pelo aluno novo.

_Meus queridos, como podem ver temos um aluno novo na escola! Por favor, levante-se e apresente-se para os demais.

Era tudo que Gus mais temia. Tentou dar um sorriso, mas infelizmente não foi capaz, se dirigiu para a frente da sala e parou ao lado do professor.

_Eu sou o professor Jorjão e quero te dar as boas vindas, é sempre um prazer receber alunos novos, espero que goste da nossa escola.

Gus cumprimentava o professor e sentiu vergonha por ter suas mãos tão molhadas, discretamente depois do aperto, Jorjão as limpou em sua calça.

_Vamos, é a sua vez. Apresente-se para os demais.


A PROFECIA DOS TRÊSOnde histórias criam vida. Descubra agora