2 - Bem vinda a Sunset tonw

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     O campo verde de grama se estendia até o horizonte. Gramas verdes, vivas. Eu estava deitada sobre o macio tapete de grama. No céu, algumas nuvens caminhavam lentamente. A brisa do sol pairava sobre mim.

     Eu mal pude acreditar quando virei meu rosto e vi, deitada ali ao meu lado, minha mãe. Ela estava com seus cabelos, sempre lindos, soltos. Usava um vestido branco e sua feição transmitia paz. Ela estava feliz.

     Eu queria abraça-la, queria falar mas não consegui. Não tinha controle dos meus movimentos. Eu estava lá, mas não estava.

     Alguém se pôs de pé na nossa frente. Papai. Eu me levantei apressadamente e o abracei, logo depois mamãe se juntou a nós. Estava sentindo algo que eu já não sentia a algum tempo. Eu estava bem, estava feliz. Estávamos abraçados os três abraçados. Os pássaros pareciam cantar ao fundo deixando todo o momento mais bonito. O vento soprava em meus ouvidos.

     De repente tudo ficou sombrio. A grama secou. Estava sem vida. Os pássaros, que antes esbanjavam saúde, agora caiam um a um, evidentemente mortos. Meus pais já não estavam mais lá. No lugar das gramas uma enorme estrada apareceu, não era possível ver onde ela começava e muito menos onde ela terminava. Tinha uma placa com algo escrito mas não consegui ler.

     Eu olhei para o lado e quando voltei a olhar para a velha placa tinha um pessoa em frente a ela. Pela forma física percebi que era um homem. O lugar escuro não me deixou ver seu rosto me impedindo que eu o reconhecesse ou não. O medo invadiu minha mente tomando meu corpo como escravo. Eu tentei correr, gritar, mas não consegui. Eu pisquei e quando abrir os olhos o homem estava na minha frente.

- Nunca mais tentará isso de novo!

- Quem... Como... - Eu estava em pânico. Não conseguia falar. Como ele sabia o que eu havia feito? Aquilo seria um delírio? Eu estava morta?

- Você nunca mais tentará isso de novo! - Sua voz era autoritária.

    Eu lentamente balancei a cabeça concordando e então, o homem desapareceu, as gramas voltaram a ter vida, os pássaros no chão, estalaram, se levantaram e partiram. O lugar, antes morto voltou a ter vida. Meus pais, porém, não estavam lá, não mais.

     Uma forte luz surgiu do horizonte, ela parecia vir em minha direção e se aproximava cada vez mais até me cegar. Sem muito esforço abro os olhos. Uma forte luz acima de mim ofuscou minha visão. O som dos bibes ecoava em meus ouvidos. O quarto branco, a cama e os remédios me fazem crer que eu estava em um quarto de hospital.

     Eu viro a cabeça devagar e vejo, sentada na dura cadeira de hospital, tia Vic. Ela usava uma calça jeans branca que lhe caia bem. A camiseta azul clara realçava seus seios. Seu cabelo loiro escuro era liso. Mais que droga! Eu havia falhado. Eu estava viva.

     Quando percebeu que eu havia acordado levantou-se da cadeira apressada, eu estava pronta para levar uma boa bronca.

- A querida, até que fim acordou... - Disse tia Vic parando ao meu lado.

- Tia... Você... Você não está brava...?

- Claro que não querida, você está passando por um momento difícil, é compreensível.

- Mas... Mas era pra eu estar... Estar morta...

     falar aquilo me doeu mais do que pude imaginar. Então me lembrei dos meus pais. Lembrei-me que eles estavam mortos e lágrimas brotaram dos meus olhos. Por um segundo havia me esquecido que eles haviam morrido. A culpa por ter tentado me matar crescia dentro de mim. Quando percebeu que eu chora, tia Vic se apressou em me amparar. Ela me deu um abraço. Um abraço confortante e estranho. Estranho porque depois que me abraçou, tudo desapareceu. A dor da perda, a frustração, a culpa, tudo sumiu e eu estava bem. Até havia parado de chorar, não tinha mais motivos.

- Por favor, não fale bobagem querida. Você acabou de perder os pais... - Eu a encarei. Como ela tinha feito aquilo. Preferi não tocar no assunto.

- Você veio para resolver a papelada da venda da casa e... E eu estou atrapalhando tudo...

- Diana disse que resolveria tudo e me mandaria toda a papelada pelo correio.

- E como ela está...?

- Eu disse para ela não se preocupar. Disse que cuidaria de você.

     Um senhor entrou no quarto segurando um papel na mão. Ele usava um jaleco branco e tinha os cabelos grisalhos.

- Aqui está - Disse o senhor entregando o papel a tia Vic.

- Obrigada doutor.

- O que é isso - Perguntei curiosa.

- É um documento assinado por sua tia onde ela compromete em se responsabilizar pela sua alta - Respondeu o velho doutor.

- Eu adiei o voo para Sunset Tonw. Ficar aqui só vai fazer te lembrar do seus pais. Nós vamos para Sunset Tonw. Você irá para Sunset Tonw. Um Recomeço querida...

     O carro do táxi parou em frente minha casa, uma hora depois que deixou o hospital. Havia algumas pessoas na rua e elas pareciam me olhar com pena. Aquilo me incomodava. Eu desci do carro e caminhei até a porta. Eu respirei fundo antes de abri-la e entrar. Sabia que lá dentro estaria cheio de lembranças dos meus pais. Aquilo iria doer.

     Abri a porta e, ao contrário do que eu pensava, vi todos os móveis cobertos com lençóis brancos. Ao lado do sofá estava, uma mala e duas bolsas, provavelmente minhas. Mas, o que me chamou a atenção foi um retrato caído no chão. Eu caminhei até ele e o peguei. Meus olhos se encheram de lágrimas. Papai, eu e Mamãe nas feria do último verão.

     Eu enxuguei as lágrimas, e guardei o retrato em uma das bolças. Meus olhos maciaram por toda a casa pela última vez. Eu peguei a mala, as duas bolsas e sai.

- Você está bem querida? - Tia Vic esperava do lado de fora.

- Sim tia... - Eu passei por ela de cabeça baixa tentando esconder as lágrimas, inevitável. Entrei no táxi e partimos.

     Chegamos no aeroporto um pouco atrasados mas tudo acabou dando certo. Embarcamos e desembarcamos sem maiores problemas. Pousamos em uma cidade ao lado de Sunset Tonw pois, a cidadezinha não tinha pista de pouso. Quando saímos do aeroporto, havia um táxi nos esperando. Nós entramos no carro e partimos.

     Uma hora depois de deixar o aeroporto, estávamos em uma pista, uma rodovia. O vento tocava meu rosto enquanto uma sequência de árvores passava pela janela do carro. Não havia nada além de árvores e uma longa estrada que parecia não ter fim. Até que avistei uma placa. Uma placa velha e suja. Nos aproximamos mais um pouco e consigo ler, "Seja bem vindo a Sunset Tonw".

- Sunset Town... - Pensei alto.

- Estamos chegando querida - Respondeu minha tia que estava sentada no banco da frente do carro.

     "Sunset Tonw!", Pensei. Então um estalo. A placa. A velha placa. Eu olhei pela janela e a observei. Era a mesma do sonho, ou pesadelo, não sei. Mas era ela. Um arrepio percorreu pela meu corpo. O que aquilo significava? Para onde eu estava indo?

Pôr do Sol - A Maldição (Livro I)Onde histórias criam vida. Descubra agora