O campo verde de grama se estendia até o horizonte. Gramas verdes, vivas. Eu estava deitada sobre o macio tapete de grama. No céu, algumas nuvens caminhavam lentamente. A brisa do sol pairava sobre mim.
Eu mal pude acreditar quando virei meu rosto e vi, deitada ali ao meu lado, minha mãe. Ela estava com seus cabelos, sempre lindos, soltos. Usava um vestido branco e sua feição transmitia paz. Ela estava feliz.
Eu queria abraça-la, queria falar mas não consegui. Não tinha controle dos meus movimentos. Eu estava lá, mas não estava.
Alguém se pôs de pé na nossa frente. Papai. Eu me levantei apressadamente e o abracei, logo depois mamãe se juntou a nós. Estava sentindo algo que eu já não sentia a algum tempo. Eu estava bem, estava feliz. Estávamos abraçados os três abraçados. Os pássaros pareciam cantar ao fundo deixando todo o momento mais bonito. O vento soprava em meus ouvidos.
De repente tudo ficou sombrio. A grama secou. Estava sem vida. Os pássaros, que antes esbanjavam saúde, agora caiam um a um, evidentemente mortos. Meus pais já não estavam mais lá. No lugar das gramas uma enorme estrada apareceu, não era possível ver onde ela começava e muito menos onde ela terminava. Tinha uma placa com algo escrito mas não consegui ler.
Eu olhei para o lado e quando voltei a olhar para a velha placa tinha um pessoa em frente a ela. Pela forma física percebi que era um homem. O lugar escuro não me deixou ver seu rosto me impedindo que eu o reconhecesse ou não. O medo invadiu minha mente tomando meu corpo como escravo. Eu tentei correr, gritar, mas não consegui. Eu pisquei e quando abrir os olhos o homem estava na minha frente.
- Nunca mais tentará isso de novo!
- Quem... Como... - Eu estava em pânico. Não conseguia falar. Como ele sabia o que eu havia feito? Aquilo seria um delírio? Eu estava morta?
- Você nunca mais tentará isso de novo! - Sua voz era autoritária.
Eu lentamente balancei a cabeça concordando e então, o homem desapareceu, as gramas voltaram a ter vida, os pássaros no chão, estalaram, se levantaram e partiram. O lugar, antes morto voltou a ter vida. Meus pais, porém, não estavam lá, não mais.
Uma forte luz surgiu do horizonte, ela parecia vir em minha direção e se aproximava cada vez mais até me cegar. Sem muito esforço abro os olhos. Uma forte luz acima de mim ofuscou minha visão. O som dos bibes ecoava em meus ouvidos. O quarto branco, a cama e os remédios me fazem crer que eu estava em um quarto de hospital.
Eu viro a cabeça devagar e vejo, sentada na dura cadeira de hospital, tia Vic. Ela usava uma calça jeans branca que lhe caia bem. A camiseta azul clara realçava seus seios. Seu cabelo loiro escuro era liso. Mais que droga! Eu havia falhado. Eu estava viva.
Quando percebeu que eu havia acordado levantou-se da cadeira apressada, eu estava pronta para levar uma boa bronca.
- A querida, até que fim acordou... - Disse tia Vic parando ao meu lado.
- Tia... Você... Você não está brava...?
- Claro que não querida, você está passando por um momento difícil, é compreensível.
- Mas... Mas era pra eu estar... Estar morta...
falar aquilo me doeu mais do que pude imaginar. Então me lembrei dos meus pais. Lembrei-me que eles estavam mortos e lágrimas brotaram dos meus olhos. Por um segundo havia me esquecido que eles haviam morrido. A culpa por ter tentado me matar crescia dentro de mim. Quando percebeu que eu chora, tia Vic se apressou em me amparar. Ela me deu um abraço. Um abraço confortante e estranho. Estranho porque depois que me abraçou, tudo desapareceu. A dor da perda, a frustração, a culpa, tudo sumiu e eu estava bem. Até havia parado de chorar, não tinha mais motivos.
- Por favor, não fale bobagem querida. Você acabou de perder os pais... - Eu a encarei. Como ela tinha feito aquilo. Preferi não tocar no assunto.
- Você veio para resolver a papelada da venda da casa e... E eu estou atrapalhando tudo...
- Diana disse que resolveria tudo e me mandaria toda a papelada pelo correio.
- E como ela está...?
- Eu disse para ela não se preocupar. Disse que cuidaria de você.
Um senhor entrou no quarto segurando um papel na mão. Ele usava um jaleco branco e tinha os cabelos grisalhos.
- Aqui está - Disse o senhor entregando o papel a tia Vic.
- Obrigada doutor.
- O que é isso - Perguntei curiosa.
- É um documento assinado por sua tia onde ela compromete em se responsabilizar pela sua alta - Respondeu o velho doutor.
- Eu adiei o voo para Sunset Tonw. Ficar aqui só vai fazer te lembrar do seus pais. Nós vamos para Sunset Tonw. Você irá para Sunset Tonw. Um Recomeço querida...
O carro do táxi parou em frente minha casa, uma hora depois que deixou o hospital. Havia algumas pessoas na rua e elas pareciam me olhar com pena. Aquilo me incomodava. Eu desci do carro e caminhei até a porta. Eu respirei fundo antes de abri-la e entrar. Sabia que lá dentro estaria cheio de lembranças dos meus pais. Aquilo iria doer.
Abri a porta e, ao contrário do que eu pensava, vi todos os móveis cobertos com lençóis brancos. Ao lado do sofá estava, uma mala e duas bolsas, provavelmente minhas. Mas, o que me chamou a atenção foi um retrato caído no chão. Eu caminhei até ele e o peguei. Meus olhos se encheram de lágrimas. Papai, eu e Mamãe nas feria do último verão.
Eu enxuguei as lágrimas, e guardei o retrato em uma das bolças. Meus olhos maciaram por toda a casa pela última vez. Eu peguei a mala, as duas bolsas e sai.
- Você está bem querida? - Tia Vic esperava do lado de fora.
- Sim tia... - Eu passei por ela de cabeça baixa tentando esconder as lágrimas, inevitável. Entrei no táxi e partimos.
Chegamos no aeroporto um pouco atrasados mas tudo acabou dando certo. Embarcamos e desembarcamos sem maiores problemas. Pousamos em uma cidade ao lado de Sunset Tonw pois, a cidadezinha não tinha pista de pouso. Quando saímos do aeroporto, havia um táxi nos esperando. Nós entramos no carro e partimos.
Uma hora depois de deixar o aeroporto, estávamos em uma pista, uma rodovia. O vento tocava meu rosto enquanto uma sequência de árvores passava pela janela do carro. Não havia nada além de árvores e uma longa estrada que parecia não ter fim. Até que avistei uma placa. Uma placa velha e suja. Nos aproximamos mais um pouco e consigo ler, "Seja bem vindo a Sunset Tonw".
- Sunset Town... - Pensei alto.
- Estamos chegando querida - Respondeu minha tia que estava sentada no banco da frente do carro.
"Sunset Tonw!", Pensei. Então um estalo. A placa. A velha placa. Eu olhei pela janela e a observei. Era a mesma do sonho, ou pesadelo, não sei. Mas era ela. Um arrepio percorreu pela meu corpo. O que aquilo significava? Para onde eu estava indo?
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Pôr do Sol - A Maldição (Livro I)
Teen FictionApós perder os pais em um grave acidente de carro, Anna Grims vai morar com sua tia em Sunset Town, uma cidade aparentemenre normal. Enquanto procura enteder seus frequentes sonhos com lobos e outras criaturas sobrenaturais, Anna tenta desvendar os...