19 - Dia de ações de graça

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     Trancada no quarto tentava entender aquilo. Me perguntava se um dia me perdoaria por não ter percebido que era meu pai, o tempo todo. Me joguei na cama com um único objetivo: dormir. Dormir para que pudesse sonhar com ele. Contudo me pareceu impossível aquele simples atos. Passaram-se dez, vinte, meia hora e nada do sono vir. Contei centenas de carneirinhos e fiz isso com quase todos os animais da arca, mas de nada adiantou. Tomei banho e li quase um livro todo.

     Alguém bateu na porta.

- Já vai - Disse levanto da cama e indo abrir a porta.

      Era Mason. Ele entrou e sentou-se na cama. Eu fechei a porta e fiquei em pé, na sua frente.

- Com licença, estou tentando dormir - Falei.

- Anna... A Vic me contou... Me contou sobre seu pai... E pelo que ela me disse não vai dar certo essa sua ideia... Não é quando você quer, é quando ele quer, quando ele pode!

- Não... - Meus olhos encheram-se de lágrimas - Eu quero vê-lo... Quero falar com ele... Abraça-lo...

      Mason levantou-se da cama e segurou meus braços. Ele me olhou nos olhos e me puxou para um confortante abraço. Aquele momento me veio a mente, não sei porquê, o dia em que conheci Mason, com dez anos. Tia Vic foi, pela primeira vez, passar uma temporada lá em casa. Dois meses depois era o aniversário de onze anos de Mason e eu dei-lhe um beijo como presente. Foi ali que começamos nosso "namoro de infância".

      Me soltei de Mason e enxuguei as lágrimas. Olhei pela janela e vi que já era finalzinho de tarde. Meus planos para o final daquele dia era tomar banho, comer e dormir. Pena que nem tudo sai como planejado.

      Sai do banheiro já pronta para descer para jantar. Usava um short jeans curto e uma camisa branca com alguns detalhes rosa. Meu cabelo castanho estava preso em coque. Deitado na cama estava Mason, esperando eu sair, e assim que me viu levantou-se.

- Minha vez, infelizmente - Disse ele sem o menor ânimo.

      Sorri para Mason, joguei a toalha no cabide e desci. Passei pela sala e fui até a cozinha, onde encontrei Vic e Shane. Peguei um copo e enchi de água. Tia Vic preparava uma macarronada e Shane a observava encantado. Bebi minha água e abri a geladeira para guardar a garrafa. Uma jorrada de vento refrescante saiu da geladeira e se chocou com meu rosto me fazendo sentir um arrepio que percorreu todo o meu corpo. Fechei a porta e sentei na cadeira. A torneira da pia estava mal fechada e gotas de água caiam e se chocavam à pia fazendo um barulho incomodador. Shane tacava o dedo na mesa de uma forma sincronizada. A água na panela borbulhava. Todo simples ato naquela cozinha começou a me incomodar. Ouvia alguém chamar meu nome ao fundo; Anna! Anna! Anna! Aos poucos minha visão foi ficando borrada, senti meu corpo esquentar. Estava suando.

- Anna! - Disse Vic - Você está bem?

      Eu a olhava sem entender nada.

- Está tudo bem? - Ela perguntou, mais uma vez.

- Sim... - Respondi.

- Pode se servi.

      Vic falou e só então fui perceber que a comida já estava à mesa. A propósito, até Mason estava lá. Peguei meu prato, coloquei algumas garfadas de macarronada e me servir.

     Olhei Shane, Vic e Mason e naquele momento me senti de novo parte de uma família. Aquilo foi doloroso para mim. Memórias vagas de quando saia para jantar com meus pais me veio a mente. Foram momentos felizes e alegres ao lado daqueles que amo até hoje.

     Senti meu coração apertar.

- Hoje e amanhã estarei de folga devido o dia de ações de graça - Disse Vic pondo uma garfada de macarrão na boca.

Pôr do Sol - A Maldição (Livro I)Onde histórias criam vida. Descubra agora