A rua estava deserta e já era noite. Meus instintos me mandaram correr e eu, por influência do medo e do desespero, obedeci. Eu corria naquela rua deserta e sempre que podia olhava para trás. A pessoa também corria e se aproximava com facilidade. Eu olhei para trás mais uma vez e não vi ninguém, senti meu corpo se chocar com algo, ou alguém. Nós caímos no chão e bolamos até que paramos. Eu estava em cima de alguém e sabia porque nossos corpos estavam tão colados que pude sentir as batidas do seu coração. A pessoa havia se assustado com a batida, ou... Ou será que ela também estava correndo?
Abri os olhos e senti que minhas preces haviam sido ouvidas. Reconheci aquele cabelo cor de mel e seus olhos castanhos que me olhava preocupado. Era Mason!
- Você... Por que você... Por que estava correndo...? - Perguntou Mason ofegante.
- Eu... Porque... Porque já é mais de cinco e... E pensei que vocês estivessem preocupados... - Menti. Eu não sabia o que Mason sabia.
- Mais é claro que estávamos preocupados... - Respondeu ele e depois continuou - Vai passar a noite ai, em cima de mim?
- Não... Claro que não... - Disse por fim me levantando e o ajudando também.
- O que veio fazer aqui Anna? - Questionou Mason limpando o short cheio de areia.
- Respirar... É, respirar!
- Anna... Por favor né... Sou seu primo, sou adolescente e sei que adolescentes não saem para respirar - Afirmou Mason me encarando.
- Vic não vai gostar se amanhã eu falar que a essa hora nós estávamos na rua. - Ameacei.
- E porque falaria?
- Se não parar de encher o saco irei falar. Talvez até aumente algumas coisas.
- Calma ai... Tá ok, só queria saber...
- Digamos que quero respostas... E estou indo atrás delas!
Ele me ofereceu seu braço para eu apoiar o meu e eu aceitei. Caminhamos calados até a casa que agora eu chamava de lar. Entramos e tia Vic não estava lá, talvez tivesse ido trabalhar. Eu fui direto a cozinha beber um pouco de água, a correria e a caminhada da casa de Lidia para cá havia me cansado. Bebi a água e vi que Mason não tirava os olhos de mim.
Mason estava trancando as portas e desligando os eletrônicos. Eu subi as escadas, passei pelo corredor e entrei no quarto deixando a porta trancada. Tirei a bota, a calça e vesti meu short de dormir. Preparei a cama e já ia deitar quando Mason me lembrou, com batidas, de que eu havia trancado a porta. Tive todo o trabalho de levantar e ir abri-la. Mason estava em pé usando apenas um short. Ele havia tirado a blusa que vestia a pouco. Foi inevitável não olhar para seu abdômen mas assim que percebi o que estava fazendo olhei para seu rosto, o que não foi a melhor ideia que tive já que ele me fitava com um olhar sexy.
- Vai entrar ou vai ficar ai parado? - Perguntei evitando olhar para ele.
Ele apenas sorriu e entrou. Enquanto trancava a porta e fechava a luz vi ele deitando no colchonete que estava no chão. Eu logo fui para a cama e lá fiquei no silêncio que durou cinco minutos.
- Anna...? Ainda está acordada...? - Mais uma vez não respondi. Não queria ter que dá explicações sobre qualquer coisa que ele fosse perguntar - tá dormindo né, assim é melhor... Sabe... Eu me lembro da nossa infância... Me lembro de como brincávamos de namorados e de como era legal... Era bom... Sabe, eu gosta de ser seu namorado... Gostava de beijar você... Mesmo que de um jeito inocente já que tínhamos dez ano né... Nossa... Como o tempo passa rápido...
- Eram onze anos... - Respondi envergonhada enquanto olhava para a escuridão do quarto - E eu de certa forma também gostava... Gostava de ser sua namorada Mason...
Mason não respondeu. Eu fiquei ali, pesando em como minha vida havia mudado desde de a morte dos meus pais. Me lembrei dos sonhos que eu tive, primeiro com o homem e depois com o lobo. Por um momento meus pensamentos voaram para a descoberta de que tia Vic poderia ser uma bruxa mas eles foram interrompidos quando senti um corpo se juntando ao meu na pequena cama de solteiro, senti sua respiração em meu rosto, senti sua mão em minha cintura e senti... Senti seus lábios nos meus, senti sua língua pedindo passagem e eu... eu dei. Reatribui o beijo que Mason havia me dado. Nossos corpos estavam colados, minha cintura envolvida em seu braço, minhas pernas entrelaçada nas suas. Senti sua mão deslisando em minha costa e ir de encontro ao meu sutiã. Mason estava passando dos limites.
- Mason... Não... - Consegui falar enquanto me desviava de seus beijos. Ele não só escutou como obedeceu.
- Desculpa... Eu só...
- Se empolgou... Eu sei... - Nós rimos.
Ele me envolveu em um abraço. Um abraço bom, gostoso. Eu descansei em seu peito e fechei os olhos. Não demorou muito para o sono vir.
O sol brilhava no alto de minha cabeça. Estava eu e meus pais no parque da minha antiga cidade. Nós brincávamos de pega pega e era a vez da mamãe. Os pássaros rodeavam as árvores verdes atrás de frutos. As pessoas também se divertiam ao nosso redor até que, mais uma vez, tudo ficou sombrio. As folhas das árvores caíram secas, e junto com elas os pássaros também, sem vida. As pessoas sumiram junto com meus pais. Eu novamente estava sozinha naquele lugar assustador. Não tão só, o homem que antes me fizera prometer que nunca mais tentaria me matar de novo estava lá, mais uma vez.
- Quem... Quem é você...? - Perguntei evidentemente assustada. O homem não respondeu então continuei - Fala! O que quer?
- Acorda Anna.
- Quem é você? - Perguntei o encarando séria, embora não tenha conseguido ver seu rosto devido ao capuz que usava.
- Anna você tem que acordar, Agora - Ordenou o homem em um tom sério.
- Oblivisci potest vidisti... - As palavras, que invadiram minha mente, ecoavam bem ao fundo, baixinho como se quem pronunciava as palavra estivesse sussurrando.
- O que é isso? - Perguntei assustada, ainda podendo ouvir as palavras ao fundo.
- Anna você precisa acordar, AGORA! - O homem gritou e sumiu. Então tudo ficou escuro.
As palavras, que agora pareciam mais próximas, me fizeram acordar. Eu ia abrindo os olhos lentamente, vi que estava deitada na cama. Meus olhos se voltaram para quem estava na minha frente, tia Vic, e logo atrás dela Mason. Tia Vic estava com uma das mãos sangrando, a outra segurava um livro velho. Com os olhos fechados pronunciava as palavras que agora eu sabia de onde viam.
- Vic... Ela acordou... - Alertou Mason vendo que eu estava acordando.
- Mas... Não era para ela acordar... - Respondeu tia Vic abrindo os olhos para conferir e em seguida os fechando e voltando a pronunciar as palavras, agora com mais força - Oblivisci potest vidisti.
- O que vocês estão... - Tudo a minha volta começou a girar, minha visão estava borrada mal podia ver as coisas. Pude ouvir tia Vic pronunciar as palavras uma última vez, com mais força ainda.
- OBLIVISCI POTEST VIDIST OBLIVISCI...
Foi a última coisa que ouvi antes de fechar meus olhos e mergulhar em uma escuridão.
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Pôr do Sol - A Maldição (Livro I)
Teen FictionApós perder os pais em um grave acidente de carro, Anna Grims vai morar com sua tia em Sunset Town, uma cidade aparentemenre normal. Enquanto procura enteder seus frequentes sonhos com lobos e outras criaturas sobrenaturais, Anna tenta desvendar os...