Capítulo 1

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(Dra. Kira): Como foi a semana?

Sua voz soou pela sala de forma doce como de costume, no início eu acreditava que terapia não ajudaria em absolutamente nada, era só desabafar com uma completa estranha. Mas com o passar das consultas eu me sentia melhor ao sair dali naquelas tardes breves com aquela senhora de cabelos castanhos na altura dos ombros, os olhos como caramelos e um sorriso reconfortante pra que eu me lembrasse que ela não me faria mal algum.

—Acho que bem.

(Dra. Kira): Está se lembrando dos remédios?

—Sim. —Sorri fechado.

(Dra. Kira): Alimentação regular?

—Também... Acha que vou conseguir me lembrar? —Pergunto baixo.

(Dra. Kira): Não tem com saber, e é melhor que não force, mas esperamos que sim. Dê um tempo a si mesma e não trabalhe tanto, o Jeongin está preocupado com você.

—Ele se preocupa demais.

(Dra. Kira): Ele se preocupa na medida certa eu diria, e você sabe. Não deve se sobrecarregar, e ele é a única pessoa que te impede de passar as noites inteiras trabalhando ao invés de dormir.

—Ok. —Suspiro. —Tudo bem o que me recomenda?

(Dra. Kira): Que escute seu melhor amigo, e vá se divertir ao invés de ficar até altas horas num escritório.

   Algumas vezes eu queria convencê-los de que sair pra me "divertir" não seria tão útil quanto eles pensam, talvez eu pudesse mostrar.

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(Jeongin): Vai mesmo? —Pergunta animado.

—Não tenho outra escolha ao que parece.

(Jeongin): Finalmente! Não vai se arrepender, eu juro que não vai ser como você está pensando.

—Como pode saber no que estou pensando?

(Jeongin): Você sempre pensa em tudo da pior forma possível, principalmente quando se trata de algo fora da sua zona de conforto.

—Isso não... Ok, talvez seja verdade, mas saiba que não é justo colocar a minha psiquiatra nisso.

(Jeongin): Tudo bem, justo... Eu posso pensar nas minhas próprias formas de te convencer da próxima. —Diz esfregando a mão na nuca.

—Próxima? —Cruzo os braços.

(Jeongin): Sim, só precisa dar o primeiro passo e vai ficar mais fácil. Não queria começar a terapia, lembra? E hoje sabe que isso ajudou, e ainda ajuda muito.

—Nisso está certo.

(Jeongin): Obrigado. Agora vamos.

   Ele segurou a minha mão, e nos levou pro carro logo depois de trancar a porta de casa. Eu não entendia como ele sempre sabia quando eu mais precisava dele, mesmo assim ele estava sempre ali desde que nos conhecemos. Bem antes de que eu começasse a sofrer com os lapsos do que aparentemente eram memórias perdidas que estavam sendo bloqueadas de alguma forma. Por alguma razão.

   Me lembro de ter conhecido um garoto tímido que sempre estava na loja de jogos no mesmo horário, nos mesmos dias da semana. Não foi tão simples me aproximar, mas depois de um tempo conversando sobre nossos jogos mutuamente favoritos, viramos amigos. Eu tentava ajudar com as manias de se cobrar demais, e demorou pra que melhorasse, algumas vezes ainda pode ser complicado, mas prometemos não deixar que um de nós se afogasse ainda mais.

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   Alguns minutos dirigindo, chegamos ao que já foi meu lugar favorito no mundo, aquela mesma loja de jogos. Era reconfortante saber o quanto ele me conhecia e respeitava a ideia de eu odiar festas cheias e barulhentas, talvez isso se devesse ao fato de que ele também não se sentia confortável em lugares assim, mas eu sabia que se festas lotadas e barulhentas fossem uma forma de me distrair, ele iria mesmo que não gostasse. Ele demonstrava isso sempre que estávamos juntos.

   Saímos do carro e entramos na loja, havia um tempo considerável que eu não jogava, e por isso não comprava jogos novos há ainda mais tempo. Apesar de eu ter mudado, aquele lugar continuava o mesmo, as mesmas luzes acima das prateleiras lotadas de capas de jogos cada uma mais recente do que a outra, mais ainda com os clássicos presentes, as prateleiras eram separadas por empresas e consoles, era uma forma mais rápida de encontrar o que queríamos.

(Seungmin): Uau, milagres acontecem mesmo. Achei que nunca mais veria essa idosa. —Provoca sem tirar os olhos da tela, onde jogava algum jogo de fps.

   O garoto moreno, parecia relaxado na postura erradíssima que se apoiava com os pés na mesa e aparentemente estava completamente alheio á qualquer coisa que acontecia dentro da loja, mas poucos sabiam que o garoto tinha um dom incrível de notar até os mínimos detalhes do que acontecia ali dentro, mesmo que estivesse dentro de uma partida complicada e demorada do que quer que estivesse jogando.

—Haha, a criança também não mudou nem um pouco. —Declaro bagunçando os cabelos do garoto.

(Seungmin): Não com você. —Ri fraco, tirando os olhos da tela por segundos pra me olhar.

—Uma pena. —Faço bico. —Okay raposo, o que tem em mente? Seja o que for, por favor, vai rápido. Não sei se aguento o filhote no meu pé.

(Seungmin): Tanto tempo longe, e já quer sumir de novo?

—Não é pessoal... Ah, não espera, é sim. —Ri.

(Jeongin): Vocês tem quantos anos mesmo?

(Seungmin): Ela é velha o suficiente pra ter carteira de motorista. Eu sou incrivelmente jovem.

(Jeongin/ S/N): Claro. —Reviramos os olhos fazendo o garoto rir.

   Passamos algum tempo ali, talvez estivessem certos, mas eu não precisava admitir isso em voz alta. Foi divertido voltar ali, aquele lugar me lembrava de como era antes da minha cabeça se tornar uma verdadeira bagunça que eu não tinha noção de como começar a organizar. O cheiro, os lanches, as latas, as risadas dos meus garotos favoritos, tudo aquilo me trazia aos poucos de volta. 

   Trazia aquela garota sorridente, a garota que conseguia ver um ponto de felicidade em qualquer situação. Quem eu era. Quem eu ainda procurava e usava todas as minhas forças a fim de encontrá-la, pra fazer com que ficasse, fazer com que ficasse bem... Eu sentia falta de mim mesma, e mais uma vez ele sabia exatamente do que eu precisava.

Locked MemoriesOnde histórias criam vida. Descubra agora