Locked Memories

Capítulo 10

   Com uma nova memória... Digo... Uma memória que eu conseguia me lembrar repetidas vezes, como se sempre estivesse aqui, algo que não fosse um lapso confuso, mas algo claro e que eu realmente conseguia sentir como uma parte de mim. Esse avanço fez com que as visitas daquele feérico se tornassem mais frequentes, eu ainda não conseguia me lembrar dele, e isso me deixava com tantas perguntas... Eu sabia que devia me lembrar, sentia que ele tinha uma importância forte e real mas que eu não sabia explicar porque eu não conseguia me lembrar de nada sobre ele... Ainda. 

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   A floresta era sempre como um choque de realidade, completamente diferente do meu mundo, mas um diferente maravilhoso. A cada passo uma fada diferente, a melodia suave das árvores, os lagos brilhantes em arco-íris, tudo aquilo me fazia ter certeza de que esse mundo era mesmo real. As montanhas ao horizonte me faziam imaginar o que mais poderia ter nesse mundo, quantos seres absurdamente mágicos e incríveis podiam viver ali, e mais além, quantas paisagens inimagináveis podiam existir além daquelas montanhas, o que mais esse mundo guardava e abrigava de forma tão especial.

   O som das folhas enquanto caminhávamos conseguia acalmar meu coração de toda a ansiedade que eu sentia, eu não sabia onde estávamos indo, mas sabia que estávamos encantados pra não sermos vistos ou sentidos, e antes de sairmos a Ayla passou longos minutos dizendo que não podíamos baixar a guarda por nada. Eu já conseguia ver o fim da floresta, ou pelo menos parecia ser o fim já que eu não via mais tantas árvores sombreando o caminho, o sol iluminava o que parecia uma área aberta, eu conseguia ouvir barulhos de água imaginando que talvez fosse um lago ou um rio.

   Alguns passos depois, ele parou, estávamos de frente pra um rio. Suas correntes não eram fortes, a água seguia calmamente, havia algo ali, eu conseguia sentir de alguma forma que não estávamos sozinhos.

—Está tudo bem. —Diz deixando um leve aperto na minha mão. 

   Acenei mesmo que isso me preocupasse um pouco, depois de todo aquele discurso da Ayla, eu tinha noção de que ela não disse nada daquilo sem motivo, e me lembrava claramente do que me disseram sobre os Reis. Ouvi um barulho alto como asas batendo, e logo um vento forte se movimentou por trás de nós, outro som, dessa vez eu o senti ecoando dentro de mim, era algo como um grunhido... Eu devia sentir medo, mas aquilo me soava familiar, e essa familiaridade parecia me confortar ao invés de me apavorar. 

—Tudo bem, você só não se lembra de tudo... Ainda. Ele não vai te fazer mal. Pode se virar, devagar. 

—Se ele não vai me fazer mal, por que tenho que me virar devagar?

—Ele sabe que é você, sabia desde que entramos na floresta. Confia em mim. 

   Me virei devagar ainda olhando pro chão, eu nem mesmo conseguia imaginar o que seria capaz de um grunhido daquele. Assim que me virei senti um vento um pouco mais forte passar por mim, não era um vento comum, ele era interrompido por pausas e então continuava, como uma respiração. Ergui meus olhos devagar e tudo que eu via era tão branco e reluzente, tão fofo e macio, como milhares de nuvens formando algo... Alguém...? Um dragão... Ele era tão grande... E estava olhando pra mim. 

    Senti todo o sangue do meu corpo ir embora quando ele se mexeu, e se abaixou até que sua cabeça estivesse no chão, bem na nossa frente, suas asas se esparramavam por cima das folhas das árvores que forravam o chão. Dentro de mim, algo como um cobertor macio e quentinho se estendia... Eu amei aquele dragão... Em algum momento, eu sentia vontade de chorar e abraçar ele, mas ainda não me lembrava. Fui puxada dos meus pensamentos quando o aperto ao redor da minha mão ficou mais firme porém não apertado ou desconfortável, algo terno como da última vez. 

—Este é Saiph. —Diz calmo. 

   Saiph. Era o nome de uma das minhas estrelas favoritas...

S/N!

Ayla não grite.

Ele vai matar ela!

Não, ele não vai. 

Vocês ficaram loucos?! Dragões não são seguros nem mesmo pra nós, se não se lembram, ela é mortal. 

Se ele quisesse atacá-la, teria feito isso antes que ela o visse. 

Não vão fazer nada?!

Ay... Está tudo bem. —Sorri.

Senti algo diferente tocar a minha mão, algo mais suave do que qualquer coisa que eu me lembrava de ter tocado antes. Me virei em direção ao dragão, e percebi que ele havia se aproximado, agora minha mão estava sobre uma pequena parte de seu focinho. Ele havia se deitado pra que eu pudesse tocá-lo, estava tão perto que sua respiração movia meus cabelos como um vento. 

Ele... 

Ele é tão fofo. 

Dragões não se deixam ser tocados a menos que... 

A menos que o que?  —Perguntei assustada. Todos os quatro me olhavam parecendo assustados. Me deixando com medo da minha aproximação com a criatura. 

A menos que sintam uma ligação entre eles e a pessoa que foi permitida de tocá-los.

Ligação?

É algo como uma irmandade, ele te considera leal, segura e digna o suficiente pra te proteger enquanto seu coração bater. 

Ele consegue sentir isso?

Sim. Ele é seu guardião agora, e você é como a família dele pra ele. 

Posso dar um nome pra ele?

Acho que ele vai precisar de um. 

Saiph... —Disse baixo ainda com meus olhos no dragão. Ele fechou os olhos com o som da minha voz, e então tornou a abri-los. 

   Seus olhos continuavam em mim quando voltei ao presente com a memória ainda passando pela minha mente, aqueles olhos eram tão claros, tão cintilantes, e tão azuis, tão reais... Minhas bochechas estavam molhadas mais uma vez, ele aproximou sua cabeça de mim e expirou de uma vez, como se me dissesse que estava ali e me protegeria caso precisasse. 

—Saiph... —Sorri. Ele pareceu tão iluminado ao ouvir seu nome, como se criasse luz própria  por todo seu corpo, enquanto abria suas asas. 

—Ele sentiu sua falta. 

—Sinto muito...

—Ele não te culpa. Quando... Quando você foi, ele sumiu pelo mesmo tempo em que você não esteve aqui. E como estão ligados, ele sentiu quando voltou, e também voltou. É a segunda vez que o vejo desde seu retorno. Quando voltou, ele estava abatido, mas seu brilho continuava, parecia mais magro, então conclui que ele havia se enfiado em alguma caverna em luto. 

—Está tudo bem agora. —Digo fazendo carinho em seu pelo.