Parte II

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Messi disse que precisava que ele entendesse, e Neymar entendia. Mas isso não queria dizer que ele concordava.

Embora soubesse que Messi não estava o punindo pela sua irracionalidade na noite anterior, Neymar sentia-se punido, pois certamente não existia uma punição maior do que precisar ficar longe daquele homem outra vez. Pelo resto do dia, o brasileiro conseguiu se comportar, mas sua mente trabalhava o tempo todo enquanto descontava mais um pouco do seu estresse no futebol. Eles tiveram outro jogo-treino uns contra os outros, e por Mauricio ter gostado realmente da ideia de ter o três craques como uma equipe, eles ficaram no mesmo time mais uma vez. Na visão de Neymar, isso foi bem divertido.

Pela manhã, quando fizeram um trio para o aquecimento, Neymar ficou meio tenso com a aproximação de Mbappé, pois agora ele sabia exatamente como Messi se sentia em relação ao francês, especialmente porque o argentino não parecia muito determinado a esconder isso. Por mais controlado que fosse, algumas vezes, quando Messi percebia que Mbappé estava chegando muito perto, ele inconscientemente se colocava entre eles, fazendo algo para trazer a atenção do francês para si, e embora fosse sutil e cuidadoso para manter o profissionalismo, Neymar conseguiu perceber cada um desses movimentos disfarçados, assim como avaliava cuidadosamente suas expressões. Mesmo que parecesse ridículo, considerando que já deviam ser homens maduros o suficiente para não fazerem ceninhas enciumadas, Neymar achou aquilo maravilhoso, e sorria orgulhoso algumas vezes.

Curioso. Mesmo brabo e chateado, Messi ainda era ciumento, e ainda cuidava do que era seu. Sutilmente possessivo. Neymar sentia-se ainda mais desejado por ele, e seu coração emocionado transbordava no peito ao lembrar.

Mas durante o jogo, Messi conseguiu deixar aquilo um pouco mais de lado, e se concentrou em dar o seu melhor no campo. Ao final do treino, Mauricio chamou o time para uma breve reunião, precisava falar sobre como seriam os próximos jogos, e pontuou algumas coisas que percebeu durante o dia, conversaram sobre o que precisavam melhorar e o que precisariam mudar nos próximos treinos. Mauricio também aproveitou para explicar a ausência de Messi nos próximos dias e também no primeiro jogo oficial deles, mas não entrou em detalhes a pedido de Messi, e claro, por respeito a sua vida pessoal fora de campo.

— Ei, podemos conversar? — Neymar ouviu a voz de Ramos o chamando, ele estava terminando de arrumar suas coisas para sair, pois ele e Messi não ficariam para banhar-se ali, o argentino estava com pressa de chegar em casa e preparar sua mala. Neymar suspirou, isso seria um atraso, e olhando ao redor, percebeu que estavam sozinhos, e sentiu um leve friozinho na barriga, pois não haveriam testemunhas se Ramos decidisse quebrá-lo no meio pelo jeito desrespeitoso que o encarou pela manhã.

Neymar pegou sua mochila e a jogou nos ombros, mesmo que temesse um pouquinho pelos seus ossos, não deixaria transparecer.

— Ramos — ele disse, sorrindo e piscando para ele em seguida. — Diga.

— Você ficou me olhando de um jeito estranho hoje. Quer me bater ou me beijar? — Língua afiada e pavio curto, esse era Ramos, e obviamente lhe retribuiu o sorriso. Neymar ficou um pouco surpreso.

— Depende. Você vai se abaixar?

Ramos riu alto, então aproximou-se um pouco mais.

— Olha, eu imagino o que esteja pensando de mim, eu sei dos nossos problemas no passado, mas é futebol, eu defendia minha camisa do meu jeito, nunca foi pessoal. — Ele disse, direto, sem rodeios.

— Seu problema com Messi parecia bem pessoal. — Neymar disse, também muito direto.

— Eu também pensei que fosse. Mas essa paixão que ele tem pelo futebol, eu também tenho, e querendo ou não, nós temos sangue quente e gana de vencer. Não é pessoal, mesmo que a gente caia na porrada, ainda será sobre vencer. — Ramos riu descontraído, e Neymar não conseguiu evitar um sorriso, sentia sua guarda baixar um pouco. — Também não precisa ser pessoal entre a gente, hermano, eu não tenho nada contra você. E não tenho más intenções com o seu... amigo.

Diez días | NeyMessiOnde histórias criam vida. Descubra agora