03. SENTENÇA

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As aulas que eu tanto agradeci por terem começado e me livrado daquele assunto com o Simon finalmente tinham chegado ao fim. Agora faltavam apenas algumas horas para o meu aniversário e, por algum motivo, eu não tinha um bom pressentimento.

Levei minha mão até a nuca e fiz uma careta, aquela área estava tensa e dolorida. Tenho dormido pouco e passo horas a serviço do meu departamento. O que mais eu poderia esperar senão dor?

Eu queria ir direto para cama. Se eu pudesse, acordaria somente depois do meu aniversário. Ter sobrevivido mais um ano na Fedra era algo para comemorar, disso não tinha dúvidas, mas eu não estava com energia para comemorações. Não mesmo.

Um pouco de paz seria um presente que cairia bem, mas ao que parece, esse desejo era muita ganância da minha parte.

Senti um desânimo ao lembrar que ainda teria que passar pelos alunos no corredor para chegar ao outro lado. Eu considerava aquilo um verdadeiro desafio. Sem querer, eu acabava por esbarrar em alguém e alguém esbarrava em mim também. Era sempre assim no final da tarde, as pessoas se amontoavam naqueles espaços para conversar e sabe-se lá o que mais.

Quando consegui atravessar a multidão, respirei aliviada.

— Aster! Preciso falar com você.

Tomei um susto de leve. Riley surgiu do nada atrás de mim.

— Agora?

— Agora! Vem.

Ela guiou o caminho.

Caminhamos por cerca de cinco minutos. Eu nunca havia passado por aquele lugar antes. Sinto que conheço pouco a estrutura da Fedra.

— Aonde estamos indo?

— Só vem.

Desisti de questioná-la e apenas obedeci. Não demorou muito para chegarmos ao local. Entramos por uma porta que dava acesso a uma escada que parecia não ter fim. Perguntei-me silenciosamente se teria que subir aquilo tudo e, se sim, o que teria lá. Ainda não sei o que Riley tinha em mente quando nos trouxe para cá.

Sentei em um dos degraus e esperei ela começar a falar, o que demorou um pouco. Riley parecia relutante. Eu não queria apressá-la, então aproveitei o momento para recarregar minhas energias. Eu estava tão cansada.

— Vou embora hoje à noite. — Ela quebrou o silêncio e, de alguma forma, meu coração também.

Riley era uma pessoa que escondia muitos segredos, mas eu nunca questionei seus motivos. Especialmente no mundo em que vivemos. Cada um sobrevive como pode.

Já faz um tempo desde que descobri que Riley havia se juntado aos Vagalumes. Nunca contei a ninguém, nem mesmo a ela. Achei que era apenas mais uma de suas aventuras e que ela não iria deixar tudo para trás tão facilmente. Ela tinha amigos aqui, um amor. Para mim, ela não iria embora. Era nisso que eu queria acreditar, então decidi esquecer. Mas agora parece que a hora chegou. Riley não me levaria a lugar afastado só para me contar sobre uma saída qualquer, afinal, ela estava sempre saindo. Dessa vez, eu sabia exatamente o que ela estava tentando me dizer.

— O dia finalmente chegou. — Com os ombros caídos, falei baixinho, mais para mim do que para ela.

— Como assim? — O meu silêncio alarmou algo nela. — O que você sabe? — Sua pergunta evidenciava seu medo.

— Você é um deles, os Vagalumes.

Fiz o possível para parecer neutra, não queria que ela achasse que eu pensava mal dela, já que eu pensava mal, mas muito mal dos Vagalumes. Judy também já foi um deles e agora está morta. Não sei se estava sendo justa ao culpá-los por isso, mas vi minha melhor amiga definhando lentamente quando ela foi para o "lado da luz". Então, não conseguia deixar de me preocupar com o destino de Riley também.

NO CURE, Ellie WilliamsOnde histórias criam vida. Descubra agora