NO CURE, Ellie Williams

17. PARAÍSO NA TERRA

Ellie

Às vezes, de forma surpreendente, a vida pode mudar muito em apenas um mês.

As coisas estão indo melhor do que nunca.

Nesse tempo, Maria teve seu bebê, eu me tornei líder, Ravi se aproximou de Aster e o melhor de tudo: ainda temos nossos encontros todas as sextas-feiras.

Para ser honesta, estou impressionada comigo mesma. Eu não tinha ideia de que poderia ser tão criativa até convidá-la para sair. Desde aquele dia, estou sempre pensando em algo novo para fazermos. O último encontro que tivemos foi artístico e de longe um dos meus favoritos, criar algo com ela sempre foi algo que eu quis fazer. O final daquela noite nos rendeu uma pintura linda que agora está emoldurada na sala da minha casa. Ou melhor, nossa casa, já que felizmente ela passa mais tempo aqui do que em qualquer outro lugar. Aos poucos o espaço está ficando cada vez mais parecido conosco, idêntico ao desenho que Ravi fez de nós três, colado à porta da geladeira.

Agora, toda vez que saio, não vejo a hora de voltar para eles, para minha família. Estar junto com eles é com certeza meu momento de paz. Eles sempre me ouvem falar do meu dia e me contam do deles também, são os primeiros que vejo ao acordar e os últimos que vejo quando vou dormir.

De todas as coisas que mudaram em um mês, sem dúvidas eu fui a maior delas, pois posso dizer que estou mais feliz.

— Vou colocar Lana. — Aster diz e aperta o play.

Ela ama escutar Lana Del Rey.

Eu a trouxe até uma loja de música para o nosso encontro de hoje, quero que criemos memórias com melodias também. Daqui a cinco, dez, vinte anos, quando ouvirmos nossa música favorita tocando no rádio, quero que nos lembremos de nós.

Eu quero que nos lembremos desse momento.

Cercadas por velhos discos de vinil, CDs, videocassetes e todos os tipos de aparelhos de som antigos, Aster pega minha mão e me puxa para perto quando Video Games começa a tocar ao fundo.

Conheço a letra dessa música e posso dizer que o paraíso é realmente um lugar na terra com ela, especialmente quando ela fecha o espaço entre nós e o único caminho que me oferece é o caminho para sua boca.

Sinto algo diferente a cada novo beijo que nossos lábios trocam, e a sensação dessa vez é de ter encontrado o oásis depois de muito tempo perdida no deserto. Há pressa, mas não necessariamente para chegar a algum lugar. Estou exatamente onde queria estar, como queria estar. A intensidade se deve apenas ao desejo que, de forma exagerada, é potente demais para ser gentil.

Sou obcecada pela forma como os nossos ritmos se correspondem, do mais lento ao mais rápido, não há um movimento errado em nossa sincronia. Ela consegue bagunçar comigo sem tirar nada do lugar.

Não há um momento em que eu não a beije como se dependesse disso para viver. Agora que a tenho só para mim, não consigo mais me ver sem seu toque e seu amor. Ou melhor, não consigo mais me ver sem ser o seu amor. Porque amá-la é bom, mas ser amada por ela é bem melhor. Embora os lábios que tocam os meus nunca tenham proferido que me amam ainda.

"It's you, it's you, it's all for you, everything I do..."

Sim, é ela. Sempre será ela e por ela, Lana.

...

Ao contrário da calma da semana passada, essa semana começou completamente caótica. Eu estou me sentindo sobrecarregada e estressada com as novas rotas e, para piorar, as mudanças climáticas estão atrapalhando mais do que nunca a conclusão do patrulhamento. Às vezes não conseguimos completá-lo e temos que retornar. Hoje é mais um desses dias em que volto cedo e frustrada por conta da neve começou a cair.