18. SALVA OUTRA VEZ

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Aster

Faz quase dois meses que acordar cedo para correr se tornou impossível. No outono de Wyoming, mesmo nos dias mais quentes, o sol é coberto por nuvens e os ventos são extremamente frios. O ar gélido, quando inspirado por um peito ofegante, ironicamente parece queimar os pulmões.

Da janela é possível observar as luzes das casas e os postes da rua se apagando, pessoas saindo para patrulhar, outras abrindo suas lojas e começando o dia com seus afazeres. A comunidade aos poucos desperta.

Um bocejo me faz abrir a boca e balançar a cabeça a cada dois minutos enquanto organizo o conteúdo das aulas de hoje. É ridículo como não consigo dormir bem na minha própria casa. Acostumar-se a ter companhia pode ser bom, mas perigoso, porque de repente sua mente não aceita mais adormecer em outro lugar que não seja aquele perto da pessoa que você ama.

Para completar, a frustração me consome há dias. O aniversário da Ellie é na quinta-feira, hoje é terça e ainda não consegui pensar em um presente legal. Eu não sou tão criativa quanto ela.

Por isso, em uma tentativa quase que desesperada de resolver esse problema, decidi buscar uma ajudinha com uma das pessoas que melhor a conhece.

— Eden. — Digo aliviada quando finalmente a encontro sozinha.

— Late. — Ela responde como de costume, usando mais uma de suas maneiras implicantes de dizer "oi".

Reviro os olhos.

Não é de admirar que Ellie e ela sejam amigas. Se fosse realizado um estudo, descobririam que elas certamente compartilham os mesmos neurônios.

— Não deveria ser mia?

Eu cruzo meus braços. Afinal, não era eu a gatinha?

— Deveria, né. Mas estou recebendo ameaças de morte. — Dramatiza com a mão no peito, dando tudo de si com sua atuação barata. — E você sabe, eu tenho muito amor pela minha vida.

Com os braços cruzados, eu semicerro os olhos e aperto os lábios em uma expressão descontente. Mas rapidamente desfaço, porque ainda preciso da sua ajuda e não posso me dar ao luxo de parar e perder tempo.

— Eu preciso da sua ajuda. O aniversário da Ellie está chegando e... — Suspiro.

Ando de um lado para o outro, torcendo os dedos, revelando descaradamente meu nervosismo.

— E?

— Você é a melhor amiga dela. — Eu explico o óbvio. — Me diz, o que eu devo dar pra ela?

Eden sorri.

Eu já deveria saber com quem estou falando...

Da próxima vez, escolherei melhor minhas palavras.

— Vai se foder. — Dou um tapa nela de leve.

Ela ri ainda mais com a minha resposta.

— Eu vou mais tarde, se Deus quiser.

Eu faço uma careta com a informação indesejada.

— É sério. — Choramingo. — Me ajuda.

— Ela curte essas paradas de espaço e alienígenas.

— Astronomia.

— Isso, esses negócios aí sobre ets.

— Não é sobre ets, é sobre o universo. E ela já tem muitos. — Me sento no espaço vago mais próximo que encontro. — O que você vai dar?

— Um beijo e um abraço.

Nesse momento sinto que somos dois pólos diferentes. Enquanto ela despreocupadamente dá de ombros com as mãos no bolso da calça, eu fecho os olhos e cubro o rosto com as mãos, sem esperança. Porque sei que isso não vai dar em nada.

NO CURE, Ellie WilliamsOnde histórias criam vida. Descubra agora