NO CURE, Ellie Williams

14. MAIS UM DIA

Ellie

Estamos voltando para Jackson depois de duas semanas em Washington. Joel e Tommy ainda não estão totalmente recuperados, mas temos que voltar. Em breve Maria dará à luz e a comunidade precisará de nós mais do que nunca.

— Você realmente não vai se despedir de mim? — Simon pergunta a Aster, que apenas passa direto, sem falar com ele.

— Não. — Ela responde emburrada e se dirige ao grande portão para colocar suas coisas no carro.

— E se eu morrer amanhã? — Ele joga sujo, tentando ter sua atenção.

Mas ela está inflexível e, para mostrar que não vai ceder, diz:

— Eu venho ao seu enterro.

Estou impressionada com o quanto ela mudou. Sua confiança e energia são tão fortes agora que ela tem o poder de intimidar qualquer um. Mas também sei que por baixo dessa aparência imbatível, ela ainda tem seus pontos de vulnerabilidade.

— Essa garota... — Simon estala a língua e balança a cabeça com um pequeno sorriso, porque sabe que ela não quis dizer isso. Afinal, ele conhece bem a pessoa que criou.

Esperei até que os mais velhos terminassem de agradecê-lo pela ajuda e hospitalidade, e me aproximei para fazer o mesmo. Sem ele, Joel e Tommy não estariam inteiros agora. Então sou imensamente grata por isso.

— Obrigada por... — Acho difícil encontrar as palavras certas.

Minhas interações com Simon eram sempre assim, constrangedoras.

Eu sempre acho que ele quer me matar, e ele o faria se pudesse. Eu achava que os pais só tinham essa superproteção com as filhas em relação aos homens, mas Simon é diferente, ele nunca esteve nem aí para o fato de eu ser uma mulher. As regras eram as mesmas. E eu... bem, eu sempre as quebrei.

Por mais que esse lado dele seja um saco, no fundo me deixa feliz, porque mostra que ele me vê como eu deveria ser vista.

A maioria das pessoas que conheço, especialmente os pais das garotas com quem fiquei, nem mesmo achavam que poderíamos ter alguma coisa. Sempre fui vista apenas como uma "amiga", e que por ser mulher, "não apresentava risco".

Isso é uma merda.

Então, apesar de tudo, Simon foi o primeiro a reconhecer que eu poderia ser mais do que apenas uma amiga de Aster. Ele me enxergou do jeito certo.

— Tá na hora de cumprir com sua promessa. — Ele diz sério e toca meu ombro.

— Não vou te decepcionar.

Cerca de dois anos atrás, Simon me pediu para ser a família de Aster quando o mesmo não estivesse mais por perto, ele tinha medo de partir e deixá-la sozinha nesse mundo. Ele prometeu que um dia traria ela para perto de mim novamente e realmente a trouxe. Agora o resto da história é comigo.

Honestamente, acho que ainda não sou boa o suficiente, mas durante esses anos, tentei muito ser uma pessoa melhor para mim, para poder ser uma pessoa melhor para os outros também. Então serei minha melhor versão por mim, por ela e por nós. Quanto a isso, ele não precisa se preocupar.

Aster volta para pegar a última bolsa restante, negando pela terceira vez a ajuda dos funcionários de Simon, e segue seu caminho até o portão de novo.

Mas dessa vez, ela para no meio do caminho.

Simon me cutuca e faz uma contagem progressiva.

— Um, dois...