15. EM TODOS OS UNIVERSOS

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Aster

Termino meu banho e saio do banheiro secando meu cabelo. Vou em direção à sala, onde ainda dorme parte do pessoal e depois para a cozinha. Alguns já se preparavam para partir porque tinham trabalho a fazer, mesmo aos sábados como hoje.

Pego um copo, abro a torneira e deixo a água cair enquanto penso na noite passada. Nunca imaginei que um dia pudesse viver algo assim. Como a paz mundial, os momentos de alegria pareciam uma utopia para mim. Então o fato de ter acontecido ainda me deixa entorpecida. É como se não fosse real e que a qualquer momento eu posso acordar.

Achei que as lembranças ruins tivessem tomado todo o espaço da minha cabeça, mas agora vejo que não é bem assim. Eram meus espaços de bons momentos que estavam vazios há algum tempo.

E que ainda tenho muito a preencher.

— Droga. — Murmuro baixinho quando percebo que a água está transbordando.

Às vezes sinto que minhas divagações me levam para outro plano.

— Cê tá legal?

Eu me viro e Ellie está encostada no balcão. Odeio ter esses deslizes na frente das pessoas, eu sinto que elas começam a ter pena de mim e me tratam diferente, como uma coitada traumatizada. E bem, eu até posso ser, mas não sou só isso.

— Uhum.

Mentira.

Ainda não tive tempo de processar como eu me sinto sobre o relacionamento dela com a Lottie, mas sei de uma coisa: estou chateada. E não sei dizer se com ela ou comigo. Sentir ciúmes é justo? Ficamos quase dois anos sem nos vermos, não posso esperar que ficássemos presas uma à outra para sempre, certo?

— Não parec–

— Primeiro um filho e agora uma ex? O que mais você não me contou?

As palavras saem da minha boca antes que eu possa controlá-las. Eu não gosto disso. Gostar de alguém realmente faz você perder o controle às vezes.

— Ciúmes?

Cruzo os braços.

— Claro que não. Por que eu sentiria ciúmes?

Me arrependo de ter dito isso no momento em que vejo Ellie murchar.

— É... — diz cabisbaixa. — Por que você sentiria ciúmes de mim...

Nós duas sabemos que o ciúme está longe de ser a melhor forma de mostrar que você gosta de alguém, mas para ela talvez seja a única maneira de ver que talvez eu corresponda seus sentimentos. Isso me deixa pra baixo e me faz perceber que não retribuo como deveria, senão ela não precisaria ficar procurando nas entrelinhas.

Que merda...

— Ravi não é meu filho e ela não é bem uma ex.

— Tá. — Dou de ombros e, céus, me sinto tão ridícula. — Vamos esquecer isso.

Ela suspira e se aproxima. Eu permaneço no lugar, não tenho como sair, a pia está bem atrás de mim.

— Não faz assim, por favor. — Ela segura meu rosto com as duas mãos. — Eu vou responder tudo que quiser saber, basta perguntar.

— E então?

Eu pareço indiferente, mas estou derretendo sob seu toque e proximidade.

— Não é o que você tá pensando.

Semicerro os olhos.

— Você sabe que dizer isso só piora tudo, não é?

— Desculpa — sorriu de nervoso. — Escuta, ela é só uma amiga e... merda... isso também não ajuda.

NO CURE, Ellie WilliamsOnde histórias criam vida. Descubra agora