11. O DISCURSO DA SAUDADE

3.6K 302 976
                                    

Oi, voltei. Vocês estão bem?

Queria deixar alguns avisos antes da leitura.

I - A Nora aparece nesse capítulo. Não confundam ela com a Noa, ok? A Noa é a amiga da Abby que ficou em Jackson. Ela é uma personagem original. A Nora é uma personagem do jogo. Elas são pessoas diferentes.

II - Alerta de gatilho: transfobia.



Capítulo Onze


Ellie

Já se passaram dez horas desde que meu grupo e eu deixamos Jackson. Estamos a caminho de Seattle em busca dos malditos Lobos que machucaram Joel e Tommy. Nossa viagem estava programada para durar apenas dois dias, mas a bateria do carro acabou morrendo cedo demais. Foi mais rápido do que todos esperavam. Agora temos que seguir o resto do caminho a pé.

— Isso que dá comprar bateria barata. — Jesse chuta uma lata no chão. Ele está frustrado e arrependido por ter feito uma compra tão merda.

Eu assisto seu pequeno show de longe. Estou andando a uma distância considerável do pessoal para evitar Abby. Imaturidade ou não da minha parte, eu só quero afastá-la de mim, nós não temos um bom relacionamento. É bastante desconfortável saber que ela nutre sentimentos por Aster e que as duas se aproximaram. Achei que esse incômodo diminuiria com o tempo, mas só piorou. Eu nunca consegui lidar com o fato de que ela e seu grupo foram os únicos a visitar Aster nesses quase dois anos. Quero dizer, os únicos que Aster permitiu visitá-la. De acordo com Jim, ela não queria me ver. E, para ser sincera, não a julgo. Depois de tudo que a fiz passar, eu também não gostaria de me ver. Mas, cara, ainda assim... Isso dói. É como se eu tivesse sido jogada no inferno que eu mereço.

Abby tentou várias vezes me dizer como ela estava, mas eu sempre a impedi. No fundo, eu tinha medo de ouvir outra coisa, como "estamos namorando agora". Isso seria o meu fim. Além do mais, eu não queria ouvir sobre Aster de outra pessoa, eu queria ouvir dela mesma. Queria vê-la, poder estar com ela.

Eu tentei seguir em frente, porque é isso que a vida exige de nós, mas de vez em quando sinto minha mente vagando pelo passado, sendo puxada para trás pelo peso das coisas não resolvidas.

Nós nunca tivemos a chance de conversar depois de tudo. Ou melhor, nós nunca tivemos uma chance.

É a primeira vez em muito tempo que nos veremos novamente. Eu não queria que fosse assim, com Joel à beira da morte, porque minha cabeça está fodida com a possibilidade de perdê-lo, e eu nem sei por onde começar, mas quero muito resolver as coisas desta vez. Eu preciso disso. Nós merecemos isso.

— Eu vou por ali. — Avisei ao grupo em voz alta e segui até uma área que parecia deserta.

Eu queria vasculhar o lugar para ver se havia algum perigo por perto. Logo a noite cairia e precisaríamos de um lugar seguro para nos abrigar.

...

Sou a única acordada diante da fogueira que eu acendi para nos aquecer do frio da madrugada, todos já dormiam. Como eu sei que não conseguiria pregar os olhos, optei por ficar de guarda. Meus pensamentos estão em Joel e Aster. Minha cabeça costumava ser um lugar terrível para se estar antes de tê-los em minha vida, mas criei tantos momentos bons com eles que nem consigo contá-los. Quando algo fica difícil, eu me refugio nessas memórias. E é isso que estou fazendo agora. O som dos gravetos queimando na minha frente me leva de volta ao que éramos.

NO CURE, Ellie WilliamsOnde histórias criam vida. Descubra agora