04. PORTAS TRANCADAS

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Ellie

Tive o melhor sono da minha vida em uma cama que não era minha e em um quarto que não era meu. O quão surpreendente a vida conseguia ser.

Amaldiçoei com todas as minhas forças o despertador que me tirou aquele momento. Como um objeto tão pequeno tinha uma capacidade tão grande de destruir o humor de uma pessoa logo pela manhã? Eu queria quebrá-lo, mas ele não era meu. Nada ali pertencia a mim.

Procurei a dona do quarto apenas com os olhos, não queria ter que me levantar ainda. A cama dela era muito confortável, eu não estava brincando quando disse isso.

Percebi que estava sozinha e achei estranho não ter notado a saída de Aster, estou acostumada a estar sempre em alerta com tudo.

Essa garota me faz baixar a guarda de um jeito preocupante...

Levantei contra a minha vontade, espreguiçando-me preguiçosamente e reconhecendo o que uma boa noite de sono não faz. Eu estava até sentindo meu corpo mais leve.

Olhei em volta em busca de um bilhete ou algo assim, pensando que talvez ela pudesse ter deixado algo escrito para mim, mas não deixou. Sinto que estou sempre esperando algo dela. Uma palavra, um toque, um sorriso. Mas ela parece ter o mínimo de interesse em mim. Se não fosse por Riley, ela nem falaria comigo.

Antes, eu implicava com ela apenas por ciúmes. As duas começaram a ficar muito próximas e aquilo me incomodava. Com o tempo, passou a incomodar muito mais, especialmente quando eu percebi que aquela abertura não existia pra mim. Ela nunca deixava eu me aproximar. Doía em mim ouvi-la dizer para a Riley: "eu só tenho você". Porque ela estava errada, ela também me tinha. Mas era como se eu não existisse. Eu sempre estive lá, mas ela só enxergava uma de nós.

Eu não tinha a intenção de continuar com as implicâncias, principalmente quando me dei conta do que eu sentia, mas essa era a única coisa que prendia a atenção dela em mim. Eu não queria abrir mão disso. Eu não queria abrir mão dela.


Flashback

Era sexta-feira, comecinho da noite. Eu estava aos beijos com a Emma. Isso, de certa forma, já havia se tornado nossa rotina. Toda vez que o sinal da tarde tocava anunciando o fim das aulas, nós duas desaparecíamos de vista. A colega de quarto dela nunca aparecia no dormitório que dividiam, o que era ótimo para nós.

Talvez ela estivesse por aí se divertindo com alguém também.

Eu curtia muito estar com a Emma, mas ultimamente não tenho conseguido aproveitar o momento ou estar presente. Meus pensamentos sempre vacilavam e me levavam a pensar em outra pessoa.

Emma me olhou confusa.

— O que foi?

— Nada, eu só... — balancei a cabeça. — Não é nada.

Juntei nossas bocas novamente e implorei à minha mente que me deixasse em paz. Mas, como esperado, meu pedido foi negado. A pessoa ainda estava lá, dominando intensamente minha mente, e parecia tão real. Tanto que não soube separar o que era imaginação do que era realidade e agarrei a nuca de Emma, intensificando nosso beijo. No entanto, isso estava longe de ser suficiente, eu queria mais, por isso guiei o seu corpo de volta para a cama e subi por cima. Minha mão, que antes estava na nuca dela, se enroscou em seus cabelos, me fazendo descontar ali tudo o que estava sentindo.

A voz ofegante de Emma chamando meu nome em meio à respiração pesada foi o que me trouxe de volta.

Que caralho...

NO CURE, Ellie WilliamsOnde histórias criam vida. Descubra agora