EPÍLOGO

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Anos depois

Com o suposto retorno dos Vagalumes, diversas pessoas se reuniram secretamente em uma área confidencial com o novo recrutamento dos ex-rebeldes. A busca foi meticulosamente cautelosa e bem pensada ao longo dos últimos anos, visando admitir apenas aqueles que já tiveram contato com o grupo ou que já fizeram parte dele antes. A seleção não aconteceu para quem queria se envolver na revolução, apenas para quem já havia feito parte dela de alguma forma.

O som da porta sendo aberta pela pessoa mais esperada da noite atrai os olhares ansiosos de todos os presentes na sala, que agora sussurram animadamente entre si.

— Obrigada por terem vindo. — A mulher agradece a presença dos convidados.

Um homem de baixa estatura e postura curvada faz uma pequena reverência enquanto tenta se aproximar dela, mas é rapidamente impedido pelas pessoas que a acompanham.

— Nós que agradecemos. — Ele então diz de longe. — Estamos muito felizes que a senhorita finalmente escolheu fazer a coisa certa.

Os lábios da mulher se comprimem de uma forma que torna impossível saber o que ela está sentindo. Sua expressão desde que chegou tem sido a mais fria do mundo, seu rosto é cruelmente impassível.

— Certo. — Ela responde com desdém e, impaciente para encerrar aquela reunião, sugere: — Vamos começar?

Os participantes trocam olhares esperançosos e acenam afirmativamente com a cabeça, devidamente preparados para o início do que em breve viria a ser o fim.

— Vamos! — Dizem em coro, entusiasmados.

Então todo o ambiente é envolto por uma escuridão.

Um burburinho se forma e logo é possível sentir o medo exalando em meio à agitação daqueles que, atormentados pela consciência de suas ações passadas, sabem que têm algo a temer.

Ou a quem temer.

— O-o que aconteceu com a luz? — Alguém pergunta, amedrontado.

Uma risada sem humor preenche o espaço antes da resposta:

— Vocês vão encontrá-la em breve.

Nesse momento, uma correria desenfreada toma conta do local, onde as pessoas gritam e tentam, sem sucesso, abrir a porta, querendo fugir. Também é possível ouvir gritos e mais gritos competindo com o barulho dos tiros que o grupo, que mais parece a morte, lança em suas direções, acabando com suas vidas.

Quando a luz retorna e revela todos os danos, a mulher persegue em passos lentos o corpo de um homem coberto de queimaduras cicatrizadas que se arrasta pelo chão. A jovem adulta faz questão de pisar no tapete vermelho de sangue que aquele senhor deixa para trás, em agradecimento.

— Você realmente é difícil de matar. — Ela diz, agora agachando-se ao lado dele. Sua memória é boa o suficiente para lembrar que o reconhece do hospital e que infelizmente o mesmo conseguiu sobreviver à explosão. As marcas em sua pele denunciam isso explicitamente.

Ele tosse com dificuldade para respirar.

A figura dessensibilizada o observa com pensamentos distantes, lembrando quando, há alguns anos, a luta pelo poder em meio à crise pandêmica do fungo Cordyceps levou um cobiçado cientista, que mais tarde se revelaria seu tio, a confiar-lhe algo muito importante quando ainda era apenas uma jovem estrategista na Fedra. E que mais tarde naquele mesmo dia, ela foi capturada pelos Vagalumes e forçada a passar pelo inferno ao tomar uma grande decisão.

Desde o início ela temeu que a informação pudesse ter caído nas mãos da pessoa errada e com o passar do tempo percebeu que nunca teve tanta certeza. Porque se a salvação da humanidade custasse a vida da pessoa que ela amava, ela deixaria o mundo sem cura.

E então ela o deixou.

E assim pretende deixá-lo.

— Não faça isso, Aster. Impedir que a vacina seja feita só vai... — o velho grisalho faz uma careta de dor enquanto segura o peito. — Todos que você conhece morrerão... daqui a alguns anos, tudo que você conhece vai sumir... até não sobrar mais nada... até... até não sobrar mais ninguém.

Aster tem um olhar fortemente determinado enquanto puxa a lâmina que carrega nas costas e a atravessa pelo corpo do homem à sua frente, mais uma vez encerrando o que nunca deveriam ter começado, e disposta a acabar com todos aqueles que ainda estão por vir.

— Sejamos os últimos, então.




NO CURE, Ellie WilliamsOnde histórias criam vida. Descubra agora