10. ÚLTIMA NOITE

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Aster

Enfiei a mão no bolso do casaco e senti dois objetos. O primeiro foi o canivete da mãe de Ellie, observei-o em minha mão com um sorriso triste, Anna esperava que fosse usado para proteger sua filha, e foi. Eu a salvei, repeti para mim mesma, porque de alguma forma isso era a única coisa que me confortava naquela situação.

Sinto muito, Ellie, lamentei com pesar mais uma vez em pensamento, por ter que deixá-la antes de poder entender melhor meus sentimentos por ela.

Lutei contra a vontade de chorar quando minha mente me levou até as pessoas que estavam lá fora. Simon, Riley, Joel, Tess... Eu realmente sentia muito. Eu sei que eles vão se culpar por isso.

Pensei também nas amizades que fiz em Jackson. Eu nunca poderia receber a visita que eles prometeram que fariam, eu nunca mais veria ninguém.

Agora eu estava vendo que, de fato, a vida passa diante dos nossos olhos quando estamos perto da morte.

Retirei o segundo objeto, era o cartão de memória com as informações que eles queriam. Seus rostos se iluminaram.

Eu fiz questão de apagar aquele brilho jogando o cartão para trás, fazendo-o cair entre as mães infectadas.

— O que você fez? — Eles gritaram furiosos comigo.

— Eu entreguei para as pessoas que mereciam.

Eles apontaram suas armas em minha direção, mas Marlene interveio.

— Eu resolvo isso. — Ela disse e se aproximou de mim com cuidado, o chão poderia ceder a qualquer momento.

A lider se agachou na minha frente.

— O que? Você vai me empurrar?

— Quando perdi minha família, perdi a cabeça. Então Anna também se foi, e depois sua mãe. Eu perdi tudo. Esse mundo tirou tudo de mim. Todas as mortes não podiam ser em vão, eu me senti na obrigação de vingá-las. Eu não queria mais perder.

— Eu entendo... — sussurrei sem forças. — O mundo me tirou muitas coisas — olhei para o rosto dela e sorri fraco, sem emoção — Então, agora vou tirar algo dele também.

— Ast...

— Deve ser frustrante perceber que a história se repetiu. Porque eu sou igualzinha a minha mãe e você... bom, você perdeu mais uma vez.

Marlene tentou falar, mas as palavras ficaram presas, formando um grande bolo em sua garganta. Tudo o que conseguia fazer era abrir e fechar a boca. Ela sabia que sua derrota não havia começado agora.

— Termina logo com ela, Marlene. — Seu colega gritou de saco cheio.

A líder dos Vagalumes finalmente se levantou e tirou uma arma do bolso da calça. Ela respirou fundo e acenou com a cabeça, concordando que isso já tinha ido longe demais para ambos os lados. Era hora de acabar.

Fechei os olhos e esperei pelo fim, ouvindo quatro tiros bem altos. No início pensei que estava tão imersa na minha própria mente que não os senti no meu corpo, mas a verdade é que nenhum dos disparos foi feito para mim.

Marlene atirou contra as pessoas do seu próprio grupo.

Olhei para aqueles corpos no chão sem entender nada. Eu queria perguntar o que aquilo significava, mas outra explosão aconteceu, fazendo com que o chão abaixo de mim cedesse de uma vez por todas.

Esse teria sido o meu fim se Marlene não tivesse corrido e me agarrado pelo braço.

Gritei de dor, pois ela segurava o lado que foi atingido.

NO CURE, Ellie WilliamsOnde histórias criam vida. Descubra agora