20. HEROÍNA

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Aster

De volta à comunidade de Jackson, eu paro só para deixar algumas coisas na casa da Ellie, já que passo mais tempo aqui, e vou para a minha, principalmente sabendo que Simon veio me ver. Assim que cheguei, me disseram que ele estava me esperando.

Eu quero muito vê-lo. Sinto falta dele todos os dias desde que fui embora. Essa é a primeira vez que enfrento uma vida sem a sua supervisão, sem a sua proteção, que às vezes, mesmo sendo sufocante, me livrou, da maneira que pôde, dos males do mundo. Simon sempre esteve lá por mim, está comigo há mais tempo do que consigo me lembrar. Se alguém me perguntasse o que é vida, eu certamente diria o nome dele sem hesitar.

— Cheguei. — Eden passa pela porta e, de forma totalmente implicante, abraça Ellie.

— Sai, caralho. — Embora suas palavras demonstrem uma coisa, seu rosto demonstra outra, especialmente seu sorriso contido. — Não gosto de grude.

Cerro os olhos para sua mentira descarada, porque quando é comigo, seu corpo falta se fundir ao meu.

Deixo as duas quase se estapearem e vou até uma prateleira pegar minhas chaves, fazendo minha blusa levantar um pouco com o movimento do meu braço, chamando imediatamente a atenção de Eden, que mesmo de relance notou uma marca. Ou mais.

Lá vem...

— Se estiver precisando de ajuda, pisque.

Eu sorrio, revirando os olhos.

Como eu pedi, Ellie não deixou nenhuma marca no meu pescoço, mas por outro lado, no meu corpo...

— Pega leve com a garota. — Diz, dessa vez para Ellie, que sorri debochada.

Deus, aí vem outra...

— E quem disse que ela gosta leve?

Eu sabia.

O rosto de Eden se contorce em uma expressão de surpresa enquanto o meu expressa claramente o quanto eu quero dar um soco em Ellie, que ainda está sorrindo provocativamente, desafiando-me a negar.

Maldita.

— Não aja como se você não fosse contar tudo para Syd também. — Ela me lembra, o que me faz perceber que é verdade.

O fato de nossos melhores amigos também serem namorados torna tudo pior.

Ou melhor.

— Tchau. — Dou as costas para as duas, antes que eu me mate ou as mate.

Ouço a risada de Eden junto com a de Ellie.

...

No caminho encontro Abby e corro para o seu abraço, que facilmente me levanta do chão devido à sua força. Eu realmente admiro o quanto ela é comprometida com seus treinos. Para mim, ela é a pessoa mais dedicada que conheço.

— Senti sua falta.

— Eu também, não te vejo mais por aqui. — Respondo, um pouco triste.

— Estou fazendo umas coisas fora de Jackson.

— Coisas ilegais? — Eu sussurro de brincadeira, olhando para os lados.

Ela dá um sorriso bobo, quase apaixonado, desviando o olhar para o chão por um momento.

— É... — e então confirma, entrando na minha. — Drogas, você quer?

Eu balanço minha cabeça.

— Não, eu já uso demais. — Me refiro aos remédios que tomo.

Abby me faz companhia ao longo do caminho e cada passo que dou ao seu lado me lembra das vezes em que ela, com muito esforço, conseguia me tirar da cama para que eu pudesse caminhar e tomar sol quando cheguei ao fundo do poço depois do hospital. Lembro-me vividamente de como fez questão de ir a Washington para me ajudar quando eu era apenas a personificação de como é a depressão.

NO CURE, Ellie WilliamsOnde histórias criam vida. Descubra agora