Capítulo 10

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Os próximos dias são absolutamente horríveis. Além de Jeff não conseguir se distrair com absolutamente nada, a falta de notícias de Barcode o deixa maluco. Com a agenda de ensaios alterada, arruma algumas desculpas para ir à Be On Cloud, mas não o encontra e nem consegue qualquer informação. Só essa tarde, quando uma leitura de roteiro para os dois está agendada é que tem a certeza de que irá encontrá-lo.

Quando ele chega já está esperando com a preparadora. Se acha um pouco ridículo com o frio na barriga que sente assim que ele cruza a porta, usando um de seus habituais moletons e um boné. O cabelo crescido demais preso em um rabo curto para fora do mesmo. Ao que ele se aproxima e se senta ao seu lado é que percebe que o boné quase cobre seus olhos, e ele não faz qualquer menção em tirá-lo.

A leitura segue tranquila, pelo menos do lado de fora do corpo de Jeff. O exercício de concentração para se manter presente no texto e não no rapaz ao lado é cansativo. E não muito eficaz, porque seus erros consecutivos fazem com que se estendam para muito além do horário. Quando a preparadora sai da sala, se permite deitar no chão e suspirar pesado.

— Achei que não íamos acabar nunca.

Silêncio.

Jeff se senta novamente e olha na direção dele que calça os tênis. Se levanta e se aproxima para fazer o mesmo, ao seu lado no sofá. Os olhos de Barcode continuam enterrados em seu boné e agora isso lhe causa uma sensação estranha.

— Eu te levo pra casa.

— Obrigado, P'Jeff, mas não precisa. — Ele diz baixo, demorando um pouco demais em seus cadarços.

— E você vai embora como?

— Minha irmã vem me buscar. — A resposta é simples e direta.

Ele se levanta já com a mochila em um dos ombros e anda rápido para a porta, saindo sem se despedir. Jeff se vê sozinho com um dos tênis ainda nas mãos e suspira pesado. Não pode tirar a razão de Barcode de estar chateado, mas também não consegue se imaginar não conversando com ele por um dia que seja.

Sabe que está sendo egoísta ao esperar que as coisas simplesmente voltem ao que eram e que ninguém saia chateado dessa breve história. Ele mesmo devia aproveitar esse tempo para reorganizar a si mesmo, mas essa é mais uma das coisas que não sabe por onde começar.

Depois de demorar mais do que o previsto quando decide também checar o celular antes de sair, finalmente deixa o prédio já quase vazio. O caminho para o carro é solitário e se pega sacudindo a cabeça para afastar o que esse pensamento significa.

Quando finalmente manobra e deixa o estacionamento é que avista a figura de pé na portaria. Barcode se balança impaciente e checa o celular algumas vezes. Com um suspiro, Jeff se aproxima com o carro e para perto o suficiente para que ele o ouça através do vidro do passageiro.

— Eu disse que te levava!

Barcode o olha rapidamente, mas logo desvia o olhar.

— Ela já deve estar vindo, obrigado.

— Vem, eu te levo. — Insiste, ainda olhando para ele

— Não precisa, P'Jeff.

— Barcode. — Ao chamá-lo mais firme, Jeff abre a porta do carro e finalmente tem sua atenção. — Entra no carro.

É audível quando ele bufa em desacordo, mas se joga no banco do passageiro e bate a porta com força, fazendo Jeff estreitar os olhos. Ele coloca o cinto e abraça a própria mochila contra o peito.

O silêncio permanece durante todo o caminho. Não ousa ligar o som do carro nem dizer nada a princípio, mas o incômodo cresce dentro de si conforme se aproximam da casa do mais novo.

— Você vai ficar sem falar comigo? — Pergunta baixo, olhando para frente e não para ele. A resposta não vem. — Barcode, isso não é muito maduro...

— Ah, porque tomar sozinho uma decisão que não é só sobre você é muito, né?

Jeff pressiona os lábios juntos como se levasse um soco na boca do estômago. E pelo tom que a resposta veio, provavelmente é a vontade de Barcode.

Sob um suspiro pesado, acaba acelerando um pouco mais e entra na rua da casa dele, mas estaciona o carro há uns bons metros longe da entrada.

— O que você quer que eu faça? — Pergunta e se vira para ele. — As coisas foram... Rápidas demais, nada disso devia ter acontecido...

— P'Jeff já se perguntou o que eu quero? — Ele o cala com a pergunta. — Eu sei o que tá pensando, no que vão dizer. Que todo mundo acha que eu ainda sou criança, inclusive P'Jeff, mas eu não sou! — Ele soca a própria mochila com os punhos fechados enquanto o encara. — E eu posso tomar as minhas próprias decisões.

— Não tem como isso dar certo e não é só por isso. — Acaba soltando sem pensar, só querendo responder e justificar a própria decisão. — Eu acho que a gente confundiu as coisas, as leituras, os ensaios... Kim e Porchay...

— O que? — A expressão no rosto de Barcode é algo que Jeff nunca mais quer ver na vida. Nem o boné consegue esconder o brilho dos olhos dele se enchendo. A testa franzida e os lábios levemente abertos, incrédulo. — O que P'Jeff acha que eu sou?!

— Não foi isso que eu quis dizer... — Imediatamente arrependido, ergue as mãos em um gesto que pede calma.

— Foi exatamente o que Phi disse! — Ele o interrompe falando alto e Jeff se cala de vez. — Acha que eu sou estúpido o bastante pra confundir as coisas.

— Barcode... — Desesperado, Jeff se inclina na direção dele, mas para quando o vê recuar contra a porta. Ainda se olham por uns segundos antes dele tirar o cinto e se virar para sair. — Barcode, espera.

Ele não espera.

Jeff ainda tem tempo de vê-lo secar o rosto antes de deixar o carro e mais uma vez bater a porta com força, como se pudesse fazê-lo voar pelo outro lado.

E se antes Jeff ficou com a sensação de que seu coração havia parado, dessa vez o sente ser levado na mochila que Barcode agarra ao sair correndo pela rua.

[PT] For you are mine at last - JeffBarcodeOnde histórias criam vida. Descubra agora