Capítulo 2 • Airplanes

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I'm hopin' we can make some wishes out of airplanes

Can we pretend that airplanes

In the night sky are like shooting stars?

Airplanes - B.o.B

ANYA

Gostaria de dizer que ele é um idiota - e ele foi mesmo por alguns minutos, mas não posso ser injusta e no fundo - bem no fundo - ser grata por ele ter pedido gelo para a minha cabeça. É claro que a culpa foi dele, com o ombro largo e toda a altura, minha pobre cabeça não teria chance. E de fato doía horrores nesse momento, talvez o fato de que já estava doendo antes por todas as frustrações e privação de sono só piorou a situação.

Eu não via a hora de finalmente chegar a Monte Carlo. Desde que recebi a proposta da equipe automobilística mais famosa da Itália, talvez a mais famosa do mundo, tenho perdido noites de sono imaginando se tudo não passava de um sonho. Há quatro meses que trabalho para a Scuderia Ferrari de forma remota, desenvolvendo junto à equipe estratégias de marketing como estagiária e após um pedido de demissão de Sylvia, a assistente principal, a equipe achou interessante me promover para o cargo com a condição de que eu deveria me mudar para Maranello.

Morar em Maranello nunca fora meu sonho. A cidade é pequena e para alguém como eu a proposta se tornou agridoce. Quando conversei com minha mãe ela sugeriu que eu aceitasse a oferta com a condição de que moraria em alguma cidade mais próxima à Maranello, então informei a equipe de que aceitaria a proposta se pudesse me mudar para Monte Carlo, em Mônaco, onde teria o suporte da minha tia Laura que mora lá há anos. A equipe não se opôs à minha sugestão e deu sequência no novo contrato.

Meu aluguel em Londres terminaria nas próximas semanas então não foi difícil negociar com o dono do pequeno apartamento que aluguei quando meu namoro terminou. Eu morava com Sophie, uma amiga de Londres, mas ela se formou na faculdade e voltou a morar com os pais na Escócia e o aluguel passou a ser cem por cento responsabilidade minha, o que causou um enorme buraco no meu orçamento. Quando as coisas ficaram mais complicadas e a reserva financeira acabou, minha primeira opção era voltar para o Brasil, mas então a equipe italiana me contratou através de referências – é claro, alguém com pouco tempo de experiência na área não conseguiria por conta própria – e vi uma luz brilhar no fim do túnel. Mal acreditei quando vi a proposta na minha caixa de e-mails.

E agora cá estou eu, com os olhos cheios de lágrimas não derramadas pela dor que assola minha cabeça. Há dias que não consigo dormir direito pensando nessa mudança, pensando no quão caro é morar em Monte Carlo, mas acima de tudo, no quanto essa nova oportunidade depende do meu desempenho. O estresse acumulado dos últimos dias me levou a ter uma crise de ansiedade poucas horas antes do voo sair, então quando me dei conta corri atrapalhada pelo apartamento pegando as chaves para deixar com o dono antes de partir.

Cheguei no aeroporto faltando poucos minutos para o meu avião sair, mas não entendo se foi minha expressão ou minha pressa, os policiais não me deixaram embarcar, me levando a abrir minha mala e revirá-la de todas as formas possíveis. Vi meu sonho partindo junto com o avião quando as horas passaram e eles checaram todos os meus documentos e visto até finalmente chegarem à conclusão de que estava tudo certo e eu poderia seguir viagem. A questão é que o avião em que eu deveria partir já havia seguido viagem há muito tempo, sem mim! Quando reclamei no guichê da companhia aérea, eles ficaram contentes em me oferecer uma vaga na primeira classe do próximo voo como forma de desculpas pela situação. E agora cá estou eu, dividindo o pequeno espaço com esse espécime muito bonito – bem, o que consegui ver apesar da máscara preta em sua face.

LOVE BEYOND THE TRACK  •  CHARLES LECLERCOnde histórias criam vida. Descubra agora