LOVE BEYOND THE TRACK • CHARLES LECLERC

Capítulo 8 • Maybe together we can get somewhere

You got a fast car

I want a ticket to anywhere

Maybe we make a deal

Maybe together we can get somewhere

Fast Car - Tracy Chapman

Val Gardena, 28 de dezembro de 2022

ANYA

Meus olhos brilham com a sofisticação das paredes do hotel. Quadros enormes, mas com pinturas discretas. As paredes em tons claros e painéis de madeira confortam os olhos, os funcionários bem vestidos que mostram seus dentes brancos como um convite para todo aquele luxo, os móveis bem alinhados, o carpete extremamente limpo como se nunca tivesse sido usado.

-Boa noite, senhorita. - Diz o homem, perfeitamente vestido em um terno. Retribuo seu cumprimento com um sorriso e sigo até o ambiente acolhedor do salão de jantar, o cheiro de comida atinge minhas narinas no segundo em que passo pelas enormes portas de carvalho.

Minhas roupas são simples e confortáveis, jeans e um suéter, e vejo que as pessoas presentes no salão estão com roupas parecidas, sem grandes luxos, mas todos mais sofisticados do que eu, o que me faz se sentir um pouco deslocada. Ainda assim, ergo a cabeça e sigo até uma mesa mais reservada onde mal me acomodo na cadeira e um garçom me atende. Ele informa o cardápio da noite e escolho uma água sem gás para acompanhar a refeição.

É tarde e não há muitas pessoas no salão, mas aproveito para observar discretamente os presentes. Imagino que sejam pessoas bem afortunadas, empresários ou simplesmente donos de grandes fortunas familiares. Os homens bem arrumados, as mulheres impecáveis e a postura de pessoas que não tem preocupações na vida.

Meu olhar passa uma última vez pelo salão antes de ser capturado por um par de olhos desconhecidos. O homem jovem está a algumas mesas de distância junto com outros dois homens e me observa discretamente. Finjo não notar que seus olhos se voltam na minha direção de pouco em pouco tempo.

Meu corpo arrepia porque seus olhos me lembram Willian. Ambos não são parecidos fisicamente, mas algo nele me faz lembrar do meu ex-namorado. O mesmo que me deixou sozinha em Londres. Engulo o desgosto e poucos minutos depois o meu prato chega. O cheiro é delicioso, mas não reconheço a comida, exceto pela massa. Agradeço ao garçom e janto calmamente e por garantia mantenho meu olhar longe da mesa em que o homem está.

CHARLES

Olho mais uma vez para o relógio, são quase meia noite. Não consigo dormir, faz mais de uma hora que jantei e meus olhos não se fecham. Suspiro frustrado quando me viro mais uma vez entre os lençóis.

Apesar do cansaço físico, a minha mente não consegue se desligar, talvez ainda influenciada pela adrenalina do dia. Alguns minutos depois a frustração toma conta do meu corpo e desisto de tentar dormir. Me levanto da cama decidido a explorar o hotel, ficar trancado nesse quarto está aumentando minha irritação.

Coloco um calção de banho antes de vestir um conjunto de moletom. Se eu ter sorte a piscina aquecida estará aberta. Caminho pelos corredores silenciosos, cumprimento um casal de meia idade que encontro no elevador e sigo até a área de lazer.

O ambiente está escuro, sem ninguém por perto. As portas estão fechadas, o ambiente iluminado apenas pela luz que passa pela claraboia. Olho pelo corredor uma última vez antes de passar meu cartão na fechadura na tentativa de abrir a porta de vidro. A luz verde é acionada com um rápido estalo que se torna mais audível no silêncio do ambiente.