Capítulo 20 • Give peace a chance

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If you dance, I'll dance

And if you don't, I'll dance anyway

Give peace a chance

Let the fear you have fall away

Yes to Heaven - Lana Del Rey

Monte Carlo, final de janeiro de 2023

ANYA

Desço as escadas da casa de tia Laura para preparar o café antes de ir para Maranello. Minha agenda está embaixo do meu braço e a bolsa no outro ombro e não tenho muito tempo, mas preciso de um café antes que eu me torne insuportável.

Me assusto quando chego na sala e vejo tia Laura no chão. Meu coração dispara em segundos, o medo cruza meu corpo com rapidez, mas então percebo que ela está sentada e consciente.

-Bom dia, querida.

Sua voz soa embargada e ela limpa as lágrimas, desviando o rosto para o outro lado. Um quadro está nas suas mãos e ela o abaixa rapidamente quando me vê.

-Bom dia... Está tudo bem? - Pergunto receosa. Me aproximo devagar porque ver tia Laura tão vulnerável é desconcertante.

-Sim. - Ela se levanta e alisa sua blusa azul depois de colocar o quadro no sofá. - Um pouco de emoção para começar o dia.

O sorriso que ela abre não alcança os seus olhos azuis, seu rosto está tomado pela tristeza e me corta o coração. Tia Laura costuma ser uma fortaleza, vê-la fragilizada é algo que não estou acostumada.

Deixo minhas coisas no sofá antes de me aproximar dela. Vejo que a foto no sofá é a do seu falecido marido, em frente ao Pellegrino. Eles estão abraçados e o foco está no prédio do restaurante, mas eles se abraçam e estampam sorrisos mais embaixo, na entrada do Pellegrino. Pego o quadro nas mãos enquanto tia Laura funga e desvia os olhos.

-Hoje seria o aniversário dele.

A olho com com nó em minha garganta. Devolvo o quadro ao sofá e a abraço, sem conter minhas próprias lágrimas, que descem silenciosas. Seus braços me rodeiam com força e ela soluça de uma forma que nunca vi, mas parte meu coração.

Não sei por quanto tempo a abraço até que ela se afasta, puxa o quadro mais uma vez e se senta no sofá sem se preocupar em limpar as lágrimas que continuam a descer copiosamente.

-Eu dediquei tanto tempo da minha vida nas minhas próprias realizações, que não tive tempo de aproveitar com ele a nossa vida juntos.

Sento do seu lado, mas não sei o que dizer. Na verdade, penso que ela não queira ouvir algo. Deixo minhas lágrimas escorrem em silêncio enquanto a ouço.

-Colocamos nossos esforços e economias no restaurante, porque era o meu sonho. Ele nunca questionou ou duvidou, só comprou minhas loucuras. - Ela limpa seu rosto com o antebraço, seus dedos finos não soltam o quadro do seu falecido marido. - E quando deu tudo certo, quando achei que poderia aproveitar a vida ao lado dele e do meu restaurante, ele ficou doente.

-Não tivemos muito tempo, aconteceu tudo tão rápido. E meus sonhos não faziam mais sentido. - Continua ela.

Não consigo segurar as lágrimas que escorrem com mais rapidez agora. Minha respiração é pesada e sinto como se meu peito estivesse afundando. Eu sabia que tia Laura sofria pela perda do seu marido, mas ela sempre foi tão boa em esconder tudo de nós e nunca tocou no assunto, sempre tão leve em falar dele.

LOVE BEYOND THE TRACK  •  CHARLES LECLERCOnde histórias criam vida. Descubra agora