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Amélia Lorenzi 

A minha vida depois de Charles tinha melhorado a cem por cento. Apesar de saber que posso ter perdido o amor da minha vida para sempre, me sentia alivida por não ter que me submeter mais a uma situação daquelas. 

O peso que carrego comigo por tudo aquilo que fiz durante dois anos é enorme e se eu pudesse voltar atrás eu faria tudo diferente. Porém isso não é possível de acontecer por isso o que me resta é aceitar. Aceitar as minhas ações que agora tanto nojo me dão, eu me sujeitei a ser a outra e eu conversava e sorria para a pessoa que nós dois estávamos a trair como se nada fosse. Como se ela não importasse e apenas as minhas prioridades importassem, no caso ter Charles só para mim. 

Seis meses passaram, muita coisa mudou menos o meu sentimento por aquele homem que tanto me magoou no dia em que saiu pela porta de minha casa. No início fiquei muito mal mas foi totalmente merecido, eu mereci o sofrimento por qual passei. 

Agora posso dizer que estou no melhor momento da minha vida, me sinto confiante e minha autoestima está lá nas alturas. Aos poucos fui construindo minha confiança e agora não há ninguém que me deite abaixo. Confesso que no processo criei à minha volta uma capa que me protege das coisas más, mas isso são coisas da vida. 

Podem me deitar a baixo muitas vezes, mas cada vez me levantarei ainda mais forte. 

(...)

Ouço meu despertador tocar pela terceira vez esta manhã, estava com uma preguiça danada e não queria me levantar. O inverno tinha chegado, minha estação do ano preferida, minha cama estava quentinha e lá fora chovia bastante, era um daqueles dias em que não apetecia fazer nada. Mas como nem tudo é um mar de rosas, meu cerébro me alerta repetidamente que tenho que ir trabalhar, meus plantões essa semana foram todos da parte da manhã. 

Me levanto com muito custo pegando nas roupas que já estavam preparadas do dia anterior entro no banheiro que tinha uma temperatura mais baixa que o meu quarto, meu corpo se arrepia e eu passo as mãos pelos meu braços para me tentar aquecer. 

Começo a fazer minha higiene e meu skincare, penso no temporal que vou ter que enfrentar quando sair de casa, suspiro enquanto escovo meus dentes.

O vento embateu no meu corpo no instante em que eu coloquei um pé na rua, sorri e observei o natureza. Observei o nevoeiro e a chuva miudinha que caia do céu, olhei para todas as pessoas que andavam de guarda chuva. Dias assim eram os meus preferidos mas não para andar na rua, estes dias eram perfeitos para estar em casa debaixo de um cobertor a assistir uma série. 

Quando cheguei ao hospital me preparei para sair do carro e ter de usar o guarda-chuva para ir até ao local. Odiava usar o guarda-chuva, mas odiava de uma maneira que só deus na causa.

(...)

Durante a minha pausa do almoço peguei no meu celular, verificando as mensagens que tinha recebido. Respirei fundo ao ver que tinha recebido novamente uma mensagem de Charles, elas vinham sendo recorrentes. 

Para aí há um mês atrás Charles começou a me mandar mensagem, pedindo desculpa, dizendo que queria conversar e que se arrependia. 

Guess what? Eu não me arrependo e nem quero conversar.

Eu apenas dou vista, e a razão pela qual eu não o bloqueio é porque eu quero que ele saiba que o estou a ignorar propositalmente.

📱Leclerc💩📱

Amélia

Podemos conversar, por favor

vista 12:15

Pouso meu celular na mesa depois de responder às mensagens mais importantes e acabo de almoçar, conversava com outras umas amigas minhas do trabalho. Vejo o cirurgião ortopedista entrar no cômodo onde nós estávamos, ele olha para mim e sorri. Sorrio para ele também, não é de hoje que venho notando os seus olhares em mim e os seus sorrisinhos, minhas amigas dizem que ele está com os quatro pneus arreados por mim, mas eu não sei. 

A realidade é que ele era muito bonito, muito mesmo. 

Ele vem até à nossa mesa e para bem do meu lado, todos os que estavam sentados comigo na mesa olham para ele menos eu. 

-Amélia, você quer participar numa cirurgia? Estamos precisando de uma enfermeira, a nossa está de folga. -ouço a voz grossa do doutor Milner. 

Nunca tinha participado de uma cirurgia até porque minha especialização é na emergência, porém eu também atuo em outras áreas e não seria nada mau aprender um pouco sobre o que se passa dentro de uma sala cirúrgica. 

-Sim, estou pronta para participar. -digo olhando nos olhos azuis do homem. 

(...)

Nunca mais eu colocava um pé dentro de uma sala de cirurgia e o motivo era simples, o paciente tinha morrido justo na primeira vez que eu participei em uma. O doutor Milner me avisou que o caso era complicado e que havia chances de o paciente morrer, mas como o talento do cirurgião é conhecido por todo o hospital nunca pensei que aquilo fosse acontecer comigo lá dentro. 

Claro que eu já tinha visto pessoas a morrer, em algumas vezes eu até fiquei com elas até elas encontrarem a luz. Mas ali era diferente e não sei o porquê. 

Cheguei a casa com a cabeça cheia, mas sabia que a regra era simples, o se passa no hospital fica no hospital. Mesmo assim às vezes é complicado não deixar todas aquelas emoções de trabalhar num hospital passarem para a nossa vida pessoal. 

As mensagens caíam sem cessar no grupo que eu tinha com os meus amigos, eles queriam ir numa boate no sábado. Dessa vez eu iria, poucas eram as vezes que eu saía com eles e quando saía me certificava que nenhum deles (Charles e Charlotte) iria. Não queria ficar desconfortável por causa daquilo e muito menos ter que olhar para eles sem pensar em tudo o que aconteceu e a culpa me consumir. 

Mas desta vez eu iria, estava decidido. 

Confirmei com meus amigos que iria sair com eles no sábado e eles se animaram dizendo que o grupo finalmente iria estar junto de novo. E eu sorri ansiosa. 

Era verdade, o grupo ia estar junto denovo.

Esperemos que tudo corra bem. 

𝐓𝐡𝐞 𝐎𝐭𝐡𝐞𝐫 𝐖𝐨𝐦𝐚𝐧 ➤ 𝗖𝗵𝗮𝗿𝗹𝗲𝘀 𝗟𝗲𝗰𝗹𝗲𝗿𝗰Onde histórias criam vida. Descubra agora