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Amélia Lorenzi

Como é que eu iria recusar uma proposta daquelas?

Era literalmente uma oportunidade de uma vida, tenho a certeza que outra como esta não iria aparecer nem em um milhão de anos. Para além de ser algo que eu ambicionava desde sempre, eu não podia e não ia olhar para trás. Apesar de ser uma pessoa muito apegada a tudo e de poder ser perigoso, eu iria fazer aquilo já tinha decidido. 

Meus pensamentos param nele naquele homem que eu amo tanto, Charles Leclerc. Mas como eu própria lhe disse o amor não é suficiente para manter uma relação. Eu não conseguia tentar ter alguma coisa com ele neste momento da minha vida, não quando ainda estou tão magoada. Porém ao pensar nele toda aquela confiança que eu tive ao tomar a decisão de que eu iria aproveitar esta opurtunidade pareceu perder todas as forças. 

Será que eu ia aguentar estar tanto tempo longe dele? Dos meus amigos? Da minha família?

Porém eu penso novamente nas pessoas que eu vou ajudar e nas vidas que eu vou salvar. E logo todas as certezas voltam e tenho a certeza de que eu vou fazer isso. Afinal, seis meses passam muito rápido e pode ser que eles sejam cruciais para que eu pense melhor em tudo e esqueça todas as minhas mágoas. E talvez quando eu voltar a gente possa se resolver, ou não.
Se ele decidir seguir em frente eu não o culpo.

Mas no fundo esperava que ele esperasse por mim.

(...)

Odiava despedidas, desde sempre, pois parecia que eu estava deixando as pessoas para trás para sempre. Por isso, decidi que iria escrever uma carta para todas as pessoas que eu amava onde explicava o porquê de eu ter ido embora tão repentinamente e o porquê de ser tão importante para mim ir embora. 

Outra das razões para eu não ter me despedido pessoalmente deles era porque eu sabia que eles fariam de tudo para me fazerem ficar, iriam dar todas as justificativas para eu não mover um pé do meu conforto e enfrentar aquilo que provavelmente os deixaria com medo, mas medo era uma coisa que eu não sentia neste momento.

Como uma boa chorona que sou enquanto escrevia olhava para a mala de viagem parada na porta da minha porta e pensava se realmente aquilo era o certo a se fazer, se eu realmente deveria ir embora e deixar tudo para trás, sem a certeza de que eu poderia voltar. 

Quando chegou a vez de escrever a carta para Charles, eu queria lhe dizer tanta coisa, que eu tentava pensar em palavras e frases mas parecia que nada saía. Porém quando comecei a escrever as primeiras palavras, o resto fluiu rapidamente na minha cabeça. 

Quando acabei de escrever tudo e depois de ter chorado horrores, saí de casa com a mala de viagem e o molho de cartas na minha mão. Andava apressadamente pois teria que as deixar no correio para serem entregues, na receção despedi-me do porteiro e andei rapidamente. 

-Menina Amélia! Menina Amélia! -ouço o porteiro gritar meu nome. 

Viro para trás e vejo ele abanar a mão para mim, nela tinha uma espécie de papel branco dobrado . Pensei que ele apenas estava me dizendo adeus e retribui o gesto para ele. Logo saindo do edíficio não deixando de ouvir o homem a me chamar, queria muito olhar para trás mas não podia perder o horário. 

(...)

Tinha acabado de entregar as cartas e rezava a Deus para elas estarem todas, porque com a pressa que eu andava para perder uma era rapidinho. Mas eu vou confiar e esperar que elas estejam todas lá. 

Chamo um uber para me levar até ao aeroporto, espero nervosamente que ele chegue e quando ele chega eu entro apressada para dentro dele. Eu não acreditava que eu estava realmente fazendo isso, nunca na vida eu pensaria estar fazendo um ato destes e desta imensidão. 

Quando chego ao aeroporto, faço check-in e vou à procura do número da porta de embarque do meu avião. Quando me encontro junto aos outros profissionais de saúde que já se encontravam lá, era notório que todos nós estávamos nervosos mas também estávamos felizes por estarmos fazendo isso. 

Nos apresentamos uns aos outros e realmente era interessante saber que todos nós estávamos lá com um objetivo, ajudar o maior número de pessoas e tentar sobreviver. 

(...)

Já dentro do avião quando ele levantou voo, meus pensamentos foram novamente para ele e ficaram nele por alguns momentos. Eu realmente esperava que ele me entendesse e o porquê disto ser tão importante para mim, eu o amava e se ele me amasse de verdade iria me entender com certeza. 

Algumas pessoas do meu hospital me acompanhavam também na viajem com o mesmo propósito que eu, mas a maioria era de outros hospitais de Mónaco e também de países vizinhos. 

Às vezes queria entender quando é que a a minha vida mudou tanto e tão rapidamente.

Em um momento eu estou sofrendo, porque sou a outra e o homem que eu amo não me ama. No outro estou acabando com um relacionamento extraconjugal e o homem que eu amo finalmente se lembra que afinal também me ama e que quer lutar por mim. E no outro, aqui estou eu dentro de um avião prestes a embarcar numa das missões mais desafiadoras e delicadas da minha vida inteira. 

Tudo isto para dizer que nós até podemos tentar ter todo o controlo sobre a nossa vida, mas isso não será possível porque o que é para nós já está traçado desde o ínicio. 

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E aí, já sabem para onde é que Amélia vai?






𝐓𝐡𝐞 𝐎𝐭𝐡𝐞𝐫 𝐖𝐨𝐦𝐚𝐧 ➤ 𝗖𝗵𝗮𝗿𝗹𝗲𝘀 𝗟𝗲𝗰𝗹𝗲𝗿𝗰Onde histórias criam vida. Descubra agora