—Malessa—O veneno de um swuink é conhecido por ser rápido. E o tempo que eu podia segurá-lo dentro de mim e continuar vivendo, está terrivelmente perto de acabar. Mas Runna não desiste facilmente.
A garota se levantou, e uma imagem ondulou do outro lado do portal. Não vejo direito, mas sei que é a estufa da sua tia, Fyanna. Será que ela ainda esperava no Lótus, como mandei? Lembrei da promessa que fiz a ela, sobre voltar e fazer justiça com minhas próprias mãos, mas não vejo mais como cumprir tal promessa.
— Vamos, rápido! — entre escuro e silêncio na minha cabeça, vejo ela atravessar o portal, e sinto de longe alguém me erguendo do chão.
Como em outro plano, sinto mãos grandes e quentes nas minhas costas e coxas. Sinto minha cabeça no ombro largo e rígido de alguém, e cabelos fazerem cócegas na minha testa. Abro os olhos com esforço para ter certeza se eram brancos, e são. Me sinto aninhada de uma forma que seria aconchegante se eu não tivesse começado a urrar de dor.
O veneno ainda é uma coisa viva e cruel procurando por meu coração, e a parte da dor insuportável corroendo minhas entranhas chegou mais tarde do que eu esperava, mas chegou. Uma onda de poder brilhante passa por meus ossos doidos e inúteis, quando nos sinto atravessar o portal com passos rápidos.
— Ali. Coloque ela ali. — ainda de longe, os escuto por entre meus soluços e gritos agora roucos, e nem sei como ainda estou os escutando.
Meu braço está escurecendo mais devagar do que era para ser considerado normal. Meus ossos doem, minha garganta parece que vai explodir de tanto gritar, e o Predador que me segura contra o peito parece notar o quanto tudo isso está estranho. Não que eu queria morrer, mas eu já deveria ter cedido ao veneno.
E como se estivesse me escutando, o guerreiro me põe na mesa de madeira, enquanto solta um ruído baixo.
— Não entendo como ela ainda não morreu. — parece dizer mais para si mesmo do que para qualquer um. — A essa altura, os ossos já deveriam ter apodrecido.
Ele parece confuso, mas algo como alívio — mesmo que minúsculo — preenche seu tom de voz. Talvez se sinta responsável por não ter me obrigado a fugir à força, ao invés de aceitar minha ajuda. Se bem que acho que se eu tivesse mesmo ido embora, seria ele a sofrer, pois ninguém contava com mais cinco swuinks.
Outro grito abafado sai da minha garganta em frangalhos. Não sei quanto mais vou gritar. Acredito que, provavelmente, até não sobrar mais nada dentro do meu corpo que não esteja envenenado. Então saberei que morri.
— Então é uma misericórdia da Mãe. — Runna fala sem paciência, e então grita outra ordem para o Predador: — Agora pare de encará-la como se ansiasse sua morte e vá procurar por ali!
Se eu estivesse totalmente em meu corpo e não em um plano entre a vida e a morte, eu gargalharia da maneira como o guerreiro de mais de mil anos olhou com as sobrancelhas erguidas para a menina de quinze, e quase correu ao começar a procurar. O vi ir para uma parte onde recipientes de vidro estavam guardados em prateleiras altas, as ervas e plantas estavam em baixo, no chão adubado.
Runna se aproxima. Sinto seu corpo gelado pelo frio e o medo que ela passou lá fora. Diferente do meu, que está inquieto, cada vez mais quente e perto da morte. Mas parece que a morte se recusa a vir ao meu encontro. Não sei se agradeço ou não por isso, porque enquanto eu não morro, sofro com a maldita dor de quebrar ossos e derreter brasas. E essa dor interna é tão pior quanto qualquer outra.
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~ɪᴍᴘéʀɪᴏ ᴅᴇ ᴅᴇᴜꜱᴇꜱ ᴇ ᴍᴏɴꜱᴛʀᴏꜱ~
Fantasy"Este é um jogo selvagem de sobrevivência". Malessa e seu irmão gêmeo Zander estão em alerta constante para sobreviverem ao que o mundo se tornou. Um pesadelo. Uma guerra entre criaturas sombrias, espécies sobrenaturais e humanas está acontece...