CAPÍTULO SEIS

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    —Zander—

Não lembro a última vez que tive uma boa noite de sono.

     Não lembro de quando fechei os olhos sem ter medo do que iria acontecer se eu os fechasse. Do que poderia acontecer caso eu relaxasse e me permitisse ser consumido pela escuridão bem-vinda do sono.

     Nunca me permito dormir tão profundamente quanto eu quero. Não é sensato. Não é seguro. Na maioria das vezes, quando estamos em missão fora de Nêmesis, quando chega a noite e temos que acampar, passo o meu tempo acordado para que Malessa possa descansar.

     Mesmo quando estamos seguros dentro da Barreira, também não consigo dormir, tanto pela inquietação do meu corpo e mente, quanto pela preocupação com minha irmã. Ela tem precisado dormir mais do que eu, ultimamente.

Acredito que se não fossemos feéricos, com certeza já estaríamos mortos pelas noites em claro. E mesmo demorando mais do que o normal, o cansaço mental e físico sempre vai imergir dos nossos ossos feéricos. Uma prova disso, era o uso indeterminado dos nossos Dons.

     Quando exageramos, a Exaustão se apega aos ossos como uma âncora enfiada no fundo do oceano. E não só a Exaustão nos atormenta, mas os pesadelos de Malessa costumam ser tão intensos que quase não suporto mantê-los longe dela.

     Meu Dom costuma funcionar corretamente em todas as pessoas. Posso controlar os sonhos, estar presente e até mantê-los afastados, mas em Mal... Para meu Dom fazer algum efeito em Malessa, tenho que forçar bastante para que os seus pesadelos não escapem por entre meus dedos. E tenho que me esforçar ainda mais para acalmar a mente agitada de minha irmã, deixá-la relaxada. As vezes eu consigo, as vezes não. As vezes ela nota minha presença, e as vezes não. Hoje ela notou.

     Estava gritando tão alto que podia jurar que era fora de qualquer sonho. E só tive a certeza que não era, quando entrei no pesadelo familiar demais. O mesmo de quase toda noite, já que as vezes mudava alguns detalhes. A morte de nosso pai, de diversas formas. Agora faço de tudo para que aquelas lembranças dolorosas não corroam minha irmã mais do que já o fizeram. Que se dane meu sono.

     Deitado na cama, olhando o teto do meu quarto, a garota ao meu lado se remexe. Lyria me abraça, enquanto sua cabeça está relaxada em cima do meu peito desnudo. Na verdade, estou todo nu. O lençol me cobre somente da cintura para baixo, e a garota simplesmente está subindo cada vez mais para cima de mim, enquanto supostamente dorme. A respiração dela nunca desacelerou, mas os olhos se mantém fechados. Não falo nada, deixo ela continuar fingindo. Não me importo.

     Assim que saí da sala de Argos, ela veio me procurar na cozinha. Lyria sempre teve um tipo de queda por mim, mas eu nunca tinha dado indício nenhum de que a queria. Até hoje.

     Esses últimos meses foram um inferno. Estava mais tenso do que nunca, já que tudo o que fiz nas últimas semanas foi matar, caçar, correr e matar novamente. Malessa tinha seus meios de escape para o estresse das missões. Treinar e dizimar qualquer guarda ou Caçador que ela mesma escolhia para enfrentar em cada dia da semana. Ou até mesmo encontrava escape nas brincadeiras e conversas estranhas entre ela e Astéria.

     Era assim que ela aliviava sua tensão acumulada. Era seu meio de distração. E eu também tinha os meus métodos. A maioria deles envolvendo uma mulher, ou duas, dependia muito de quanto eu precisava aliviar.

     — Você nunca dorme?

     Não me surpreendi quando a voz rouca e baixa de Lyria ecoou no quarto parcialmente escuro. Olho pela janela à esquerda e vejo que o sol está quase saindo. Quando não respondo imediatamente, sinto a cabeça dela se mexendo em direção ao meu queixo para me olhar, mas continuo encarando fixamente o forro acinzentado e liso do teto.

~ɪᴍᴘéʀɪᴏ ᴅᴇ ᴅᴇᴜꜱᴇꜱ ᴇ ᴍᴏɴꜱᴛʀᴏꜱ~Onde histórias criam vida. Descubra agora