CAPÍTULO QUATORZE

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—Malessa—

Xinguei por causa do calor da tarde, do suor que caia da minha testa e do meu corpo quente por causa do longo sobretudo de couro e da blusa escura com capuz que usava por baixo.

Tentando passar despercebida no meio da multidão de pessoas comprando, comendo, bebendo, e vendendo nas ruas lotadas, eu me dirijo à uma tenda de bijuterias. Agradeci silenciosamente por ela estar de baixo de uma árvore, proporcionando uma sombra misericordiosa.

     O inverno está chegando, mas ainda falta alguns meses. E até lá, o clima semiárido no verão chega a ser um pouco insuportável, por causa das montanhas ao redor de Nêmesis. É como se estivéssemos em uma grande panela, prestes a cozinhar. Mas no inverno, as chuvas sempre vem como tempestades indomáveis de mover as próprias montanhas. Tentei não pensar em chuvas e tempestades, porque o pesadelo da noite passada ainda estava espreitando e rastejando pelos meus pensamentos como uma serpente.

     Como uma boa irmã, vou comprar o que Zand me pediu, mesmo ainda não tendo ideia do porquê ele quer uma pedra da lua. Eram conhecidas por serem talismãs para fadas e bruxas, com um certo poder de armazenamento mágico para o brilho emitido pela própria lua e estrelas. Uma simples pedrinha conseguia iluminar um grande salão sozinha, se tivesse dentro dela a luz norturna do astro e das estrelas.

     Caminhei pela bancada a mostra, a vendedora me observando com atenção enquanto eu analisava a parte onde tinha vários tipos de pedras. Algumas naturais, outras criadas por magia, e aquelas que eram bem raras e até perigosas.

Pedras da lua não eram perigosas, na verdade, eu fiquei surpresa por meu irmão querer algo tão inofensivo quanto uma pedras dessas. Mas simplesmente parei de me questionar quando achei uma no meio de muitas outras na bancada de madeira, coberta por uma lona para proteger de alguns raios de sol que atravessavam as folhagens. Mesmo sob a sombra de uma árvore e uma tenda, a pedra parecia ansiar pela luz calma e suave da lua, junto com as estrelas para complementar.

     — Sabia que as pedras da lua só são encontradas em cavernas submersas sob a luz da lua? — a vendedora se aproxima de onde elas estão, vindo pelo outro lado da bancada. A voz suave e melódica como se tivesse me contando seu maior segredo. — E só podem ser mineradas a noite, porque de dia não é possível vê-las sob as rochas brancas que as escondem.

     — Por isso é tão difícil encontrar uma pedra da lua. De dia, são invisíveis por causa do sol, e de noite, as cavernas estão lotadas de criaturas não tão bonitas assim. E é certo que poucos se arriscam minerar qualquer coisa com o bafo de algum monstro no seu pescoço. — por debaixo do capuz que cobre quase completamente minha visão, olho para a mulher de cabelos longos e trançados de lado, já na meia idade, e ainda assim, muito bem concervada na aparência. — E aqui está você, com algumas dúzias delas. Então, você é um dos poucos que se arriscam, ou alguém se arrisca por você?

     A mulher sorri, e o gesto é gentil. Ela me olha enquanto tira uma mecha do cabelo castanho do rosto, me encarando como se eu fosse uma de suas pedras raras.

     — Então conhece bem o que admira. — ela pega a pedra que eu estava olhando. Uma corda preta e fina, mas resistente, a envolvia por um pequeno buraco feito no topo do suporte de ferro polido que se prendia a pedra e ao cordão, a transformando em um colar. Também tinha algumas pedras sem cordão nenhum. — Mas não, eu não me arrisco já faz um tempo. Tenho amigos com quem me relaciono comercialmente. É mais seguro assim para uma velha amante de bijuterias antigas.

~ɪᴍᴘéʀɪᴏ ᴅᴇ ᴅᴇᴜꜱᴇꜱ ᴇ ᴍᴏɴꜱᴛʀᴏꜱ~Onde histórias criam vida. Descubra agora