CAPÍTULO VINTE E TRÊS

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—Malessa—

A encaro por um segundo, então começo a gargalhar. Gargalhar de verdade, a ponto da minha barriga querer doer.

Ainda estou morrendo de rir, quando a solto e desvio do mar de flechas e de todo o resto, correndo para completar logo esse percurso dos infernos. A bruxa está no meu encalço, grunhindo por eu estar completamente absorta em gargalhadas verdadeiras. Porque... Davika, uma dos Sete, sério?

— Essa foi a coisa mais ridícula que eu já ouvi, e olha que eu  já vi e ouvi muita coisa nessa minha vida ridiculamente agitada, acredite. — não sei se choro de rir ou se choro pela dor no meu ombro, coxa e costas.

     Só tive tempo de tirar a flecha da minha coxa, que está praticamente curada agora. Mas não consegui tirar a das costas, e a dor estava me incomodando pra cacete.

     — Eu certamente não tenho nada a ver com uma das mais poderosas Deusas dos Sete. — acho até que a Deusa consideraria uma ofensa das grandes ser associada a mim. Logo a mim... — Sinto muito, mas acho que sua maluquice nata atingiu o nível máximo.

— Seu cheiro e o poder que emana dele, dizem o contrário. — ela pula, me alcançando e desviando do jato de fogo mais próximo. — E chega de conversa!

Ela ergue a mão, mas estou tonta demais com a dor para desviar dessa vez, e o sistema que a puniria por usar magia, já se desativou faz algum tempo. O poder da bruxa me joga longe, e caio em um chão frio e parado, ou seja, saímos do percurso.

A sala se acende outra vez, tudo voltando ao normal, deixando a luz azul para trás e ficando ofuscantemente branca de novo. Acabou meu elemento surpresa, e meu plano... falhou. Ela soube muito bem como me desestabilizar. Não vou conseguir arrancar nada sobre o golpe de Drogo, e isso me frustra.

— Já vi sua espécie sangrar uma vez, mas tenho que admitir que isso nunca perde a graça. — ela caminha lentamente em minha direção, me observando ainda no chão sujo com meu próprio sangue.

— Se o que fala é verdade, o que aconteceu com eles? Com os outros iguais a mim? — ganhando tempo.

Era isso que eu estava fazendo. A distraindo para eu me recompor o suficiente para fazer alguma coisa, qualquer coisa, além de esperar a morte. Já esperei por ela uma vez. Não vou fazer de novo. Não hoje.

A bruxa se agacha e passa os dedos no meu sangue no chão e leva à boca, os lambendo.

— Elas sofreram e se afogaram nas próprias cinzas. E pretendo dar a você o mesmo destino. — ela geme com o sabor do meu sangue. — Tão doce...

Então, a bruxa avança para cima de mim rápida e desesperadamente, como se estivesse louca para provar mais. Grito, quando aquelas unhas — quase garras — se enfiam no meu ferimento quase totalmente cicatrizado do ombro, e o abre de novo. Ela aproxima o rosto e os dentes para morder qualquer pedaço de carne minha que está exposta.

Que tipo de bruxa canibal ela era, afinal?

     A magia dela prende meu pescoço e meus tornozelos para eu não me mexer. Mas quando o poder desliza para segurar minhas mãos, eu acendo como uma fogueira. Antes, totalmente dormente e apagada. Agora, agitada e acesa.

Primeiro, sinto meu corpo queimar. Depois, meus olhos. E então, minhas mãos, que tentam manter ela e seus dentes longe. A bruxa estava escanchada em cima de mim, mas quando ocorre essa mudança, ela encara meus olhos como se eu fosse o monstro cedendo por sangue.

— Tinha esquecido desses olhos... — ela murmura mais para si mesma do que para mim, e o medo contido naquelas palavras me abrem espaço para agir.

~ɪᴍᴘéʀɪᴏ ᴅᴇ ᴅᴇᴜꜱᴇꜱ ᴇ ᴍᴏɴꜱᴛʀᴏꜱ~Onde histórias criam vida. Descubra agora