Capítulo 1 - A Raposa fala

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A Terra é um mundo com muitos homens... e cada homem tem o seu próprio mundo. Eu já fui capaz de visitar muitos desses mundos apenas por ouvir e imaginar. Eu já ouvi muitas histórias, e as vivi como se fossem minhas. Mas, é claro, as guardei apenas para mim. Pelo menos, até agora.

Eu não tinha com quem conversar. Nunca fui um homem de ter muitos amigos nem pessoas muito próximas. Sentia-me, na maior parte do tempo, incompreendido. Eu sabia ouvir e entender os outros, mas não encontrava ninguém que pudesse me ouvir e me entender. Até que me deparei com alguém com quem nunca imaginei criar um laço.

Aconteceu enquanto eu observava um deslumbrante pôr do sol. Eu estava sentado no alto de uma pequena montanha, acariciando o gramado como se a montanha pudesse sentir meu carinho. De lá era possível ver bem o horizonte. O vento gelado soprava meu rosto envelhecido.

Eu estava sentado no chão e apenas observava, sem pensar em nada especial. Sempre gostei de assistir ao pôr do sol. Isso me afastava da solidão. Mas logo percebi que eu não era o único parado ali. Ao meu lado, mas há uma certa distância, estava ela. Era branca como a neve com pelos brilhosos que se movimentavam com o vento. Sua calda era bem volumosa e suas orelhas eram tão grandes quanto as minhas. Uma raposa um tanto incomum, pelo menos para mim.

No primeiro dia, ela estava há uma distância considerável e parecia me ignorar. No segundo dia, sentou-se um pouco mais perto de mim. No terceiro dia, ela chegou primeiro e, dessa vez, eu me sentei ao lado dela. Ela pareceu não se incomodar com isso. Então eu perguntei:

— Você também gosta de ver o Sol se pôr?

— Apenas quando estou triste. – respondeu a raposa.

Eu não consegui conter o meu espanto. Dei um pulo e tropecei nas minhas próprias pernas. Foi um baita susto para mim. Sinceramente, não esperava que ela me respondesse.

A raposa apenas me olhou em silêncio, parecendo reprovar a minha reação estúpida. Em seguida, voltou novamente a observar o horizonte.

Depois de algum tempo, resolvi quebrar o silêncio.

— A minha presença aqui te incomoda?

— Não, nem um pouco. Até que eu gosto da sua companhia. Se eu não gostasse, você não me veria. A maioria das raposas fogem dos homens. Os homens caçam as raposas... Mas você é diferente. E eu preciso de um favor seu. – respondeu a raposa, ainda olhando o horizonte.

— Precisa de mim? – perguntei intrigado.

— Sim, eu preciso. – reforçou a raposa e depois foi embora.

No dia seguinte, lá estava eu novamente. Mas, desta vez, não era o pôr do sol o motivo da minha presença. Eu estava ali por alguém. Estava ali por alguém que acabara de conhecer, alguém que me fizera voltar com pouquíssimo esforço. Seria por causa da minha solidão? Ou será que eu havia enlouquecido de vez? Essas coisas ficavam martelando na minha cabeça. Talvez fosse a solidão, com uma pitada extra de curiosidade.

— Você veio! – exclamou alegre a raposa.

— Sim. Por que eu não viria?

— Eu não sei. Talvez surgisse um compromisso.

— Não sou um homem de muitos compromissos.

— Sorte a sua! Pena que eu não possa dizer o mesmo de mim.

— Mas... você nem é um homem!

— Sorte a minha!

— Então, são esses seus compromissos que lhe deixam tão triste?

— Em parte, sim. Eu lhe contarei a minha história se você me prometer que não me negará a sua ajuda.

— Se estiver ao meu alcance ajudar, não lhe negarei minha ajuda.

— Apenas me prometa e eu lhe contarei tudo sobre mim.

— Tudo bem, eu prometo!

Sentei-me na grama e observei a raposa caminhar e se sentar um pouco mais a frente, de costas para mim, observando o Sol que já se aproximava do horizonte. Esperei pacientemente por alguns instantes. Até que, por fim, ela me disse:

— Contarei tudo o que você quiser saber sobre mim. Venha amanhã e traga sua paciência. Vai precisar dela.

Depois de dizer isto, ela correu para dentro da floresta antes que eu pudesse responder. Estava realmente muito triste e isso começou a me afetar de alguma forma. Eu não sabia o motivo de tanta tristeza, mas parecia ser algo muito sério, que merecia minha total atenção. E eu comecei a me perguntar se seria mesmo capaz de ajudá-la. Mas havia prometido e isso, para mim, era algo muito sério. Aprendi a dar valor às promessas quando não tinha mais para quem prometer.

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Nota do autor:

Eu gostaria muito de saber o que você está achando da história a cada capítulo. Você pode comentar nas partes que mais gostou ou expressar sua opinião (de forma respeitosa). Eu vou ficar muito feliz de receber seu feedback. 

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A Raposa e a Princesa VermelhaOnde histórias criam vida. Descubra agora