Capítulo 13 - Por favor, fique bem

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Um ano se passou desde o incêndio. Não consegui mais escrever depois daquele dia. Guardei tudo o que tinha escrito e me esforcei em criar uma nova rotina. Apesar de me esforçar bastante, eu não conseguia parar de pensar na promessa que eu fiz: entregar uma carta com uma mensagem para a Princesa Vermelha. A raposa não me disse o que eu deveria escrever nessa carta. Ela desapareceu antes de me dizer tudo o que precisava dizer. E o livro que eu tinha escrito não continha nenhuma mensagem, apenas uma história que não tinha um final feliz.

Um certo dia, como de costume, subi a pequena montanha para curtir a minha solidão. Lembrei-me do primeiro dia em que nós conversamos, quando perguntei: "você também gosta de ver o pôr do sol?" repeti em voz alta estas palavras enquanto meu olhar se perdia no horizonte.

— Apenas quando estou triste. – respondeu a raposa ao meu lado.

Como da primeira vez, o susto me fez levantar num pulo e tropeçar nas minhas pernas. Eu não conseguia acreditar no que estava vendo. Pensei que poderia ser uma alucinação. Hesitei.

— Não está feliz em me ver? – ela me perguntou meio sem jeito.

Eu a peguei nos meus braços e não queria soltá-la nunca mais. Senti que meu coração explodiria de tanta alegria. Não consegui me conter. Demorou um tempo até eu me lembrar que ela me devia uma explicação.

Então, depois que o Sol se pôs, conversamos por horas madrugada adentro. Eu não tive pressa de ir embora naquele dia. E o que aconteceu foi o seguinte:

Quando ela foi embora, deixando a Rainha do Sul, ela não planejava voltar. Durante alguns dias, ela se manteve escondida na floresta. Vez por outra, ela ia ver a princesa, mas não aparecia para ela. Em alguns momentos, alguns dos animais perguntavam pela raposa. A princesa respondia dizendo que a raposa estava com problemas e precisava de um tempo para resolvê-los.

— Será que ela vai voltar? – perguntavam.

— Eu não sei. – respondia a princesa. – Mas espero que ela esteja bem.

Mas a raposa tinha medo de aparecer. Durante alguns meses, ela planejou como faria isso. Ela queria contar para a princesa tudo o que tinha acontecido e tudo o que gostaria de ter dito, mas não conseguiu. Só que ela tinha medo da reação da princesa. Não queria se sentir rejeitada outra vez. Assim, ela prolongava ainda mais seu sofrimento.

Com o tempo, ela também começou a sentir saudades da Rainha do Sul. A Raposa precisava tomar uma decisão. Não podia continuar vivendo escondida, preocupada e triste. Então, ela decidiu aparecer novamente para a princesa.

Ela soube que a princesa estaria na floresta à noite. A princesa não parecia estar bem. Fora para a floresta para refletir. A princesa também precisava tomar decisões. Como estava escuro, a raposa entrou na floresta com uma tocha acesa que ela roubou de algum vilarejo ou de algum caçador. Sobre isso, ela não me deu detalhes.

A princesa estava na sua pedra, sozinha, quando a raposa se aproximou tímida e lentamente.

— Raposa! – exclamou a princesa. – O que está fazendo aqui?

— Desculpa. – respondeu a raposa depois de colocar a tocha sobre uma das pedras próximas da princesa.

— Não, está tudo bem! Eu não estou chateada.

— Eu precisava falar com você. Sinto sua falta.

— Também senti sua falta, raposa! Estou feliz de te ver.

Seu coração acelerou. A princesa sorriu ao dizer isso. Mas a raposa era astuta e percebeu a tristeza no olhar da princesa.

— Você está triste? – perguntou a raposa.

— Estou pensativa. Não sei o que fazer da minha vida.

— Eu posso te ajudar?

— Infelizmente, não pode. É algo que eu preciso resolver sozinha. Mas, eu vou ficar bem, não se preocupe. Me fala sobre você. Como está a sua vida?

— Eu estava triste, mas agora estou feliz. Não estou vivendo a vida como eu gostaria, mas tenho mais do que eu mereço.

Apesar da proximidade, agora parecia haver um abismo entre elas. A raposa entendeu que as coisas nunca mais seriam como antes. Aquele encontro com a princesa não parecia fazer o menor sentido. Mas a raposa insistiu.

— Princesa, eu voltei porque eu preciso te dizer algumas coisas.

A princesa se levantou da pedra e foi até a raposa. Ela se sentou no chão de frente para a raposa e disse:

— É verdade. Eu realmente senti muito a sua falta. Pensei em você todos os dias.

— Eu sou uma raposa ruim?

— Não! Você não é ruim. Você foi a minha melhor amiga. Apesar de tudo, eu nunca vou me esquecer de você. Sinto muito que as coisas tenham acontecido assim.

— Por favor, princesa, me perdoa! Eu ainda sou a mesma raposa. Mesmo disfarçada, aquela era eu. Eu não menti sobre meus sentimentos. Você é importante para mim. Nunca mais vou te magoar!

— Eu tenho certeza disso! – a princesa fez um carinho na raposa. Ela sorriu.

— Podemos ser amigas novamente?

— Me promete uma coisa? – interrompeu a princesa.

— Sim, o que você quiser que eu prometa!

Ainda com a mão sobre a cabeça da raposa, com os olhos cheios de lágrimas, a princesa fez seu pedido:

— Me prometa que você fará da sua rainha a rainha mais feliz do mundo.

A raposa entendeu que se tratava de uma despedida. A princesa tinha razão, lealdade era a coisa mais importante em qualquer amizade. E a princesa estava sendo leal, buscando garantir que a sua amiga fizesse a coisa certa.

A Rainha do Sul não era uma rainha má. E a princesa sabia que a raposa era responsável por ela. Não seria justo roubar a raposa dela só porque ela não estava bem e acabou agindo de forma errada. A Princesa Vermelha não era o tipo de pessoa que se sentiria feliz sabendo que estava violando o direito de outra pessoa. A raposa, no entanto, ficou em silêncio.

— Apenas me prometa. Isso é importante para mim.

— Eu prometo. Farei da minha rainha a rainha mais feliz do mundo.

Mas a raposa se entristeceu ainda mais. Sua rainha não estava mais com ela. E a princesa estava prestes a partir.

— Eu posso ficar mais um pouco com você? – perguntou a raposa.

Sem dizer nada, a princesa puxou a raposa para mais perto e elas ficaram abraçadas por muitos minutos. A princesa tentou confortá-la cantarolando baixinho.

— Me prometa que você vai ficar bem, princesa.

— Eu prometo. Mas, e você? Você vai ficar bem?

— Eu vou me esforçar.

— Por favor, fique bem.

A raposa se levantou, se afastou da princesa e olhou para as pedras vazias em forma de trono. Ela se distraiu ao se lembrar das coisas boas que tinha vivido com a princesa. Quando ela olhou para onde a princesa estava, percebeu que já era tarde demais. A princesa foi embora sem se despedir, mas a raposa já sabia que era uma despedida. Talvez, fosse doloroso demais para a princesa dizer adeus.

— Princesa! Por favor, princesa, não vá embora assim!

A raposa se desesperou. E, no seu desespero, ela derrubou a tocha sobre as folhas secas no chão. Foi assim que ela incendiou a floresta. Depois daquele dia, toda a beleza daquele lugar se dissipou. Mas a raposa ainda visitava o trono da princesa no meio das árvores secas. Para ela, a beleza maior eram as suas lembranças.

A Raposa e a Princesa VermelhaOnde histórias criam vida. Descubra agora