A raposa chegou na floresta um certo dia e percebeu que a sua recepção não havia sido tão calorosa como de costume. A princesa estava muito quieta e seu semblante estava abatido. Ela parecia ter chorado antes de estar ali.
— Você está triste. Aconteceu alguma coisa?
— Não é nada. Estou cansada, só isso.
— Eu não acredito que seja apenas cansaço. Pode confiar em mim.
— Raposa, eu nunca vou ser uma princesa de verdade e nem rainha de reino algum aqui.
— Você já é uma bela princesa!
— Não, não sou! Não venho de nenhum reino. Estou tentando construir algo para mim. Mas, não tenho nada. Não tenho súditos nem recursos para construir um castelo. Não tenho príncipe nem um pai que possa cuidar de mim.
— Por que está dizendo isso?
— Estou com fome. Não como desde ontem. Minha família espera que eu leve algo para casa. Eu não tenho nada, nem para mim nem para eles.
A raposa ficou preocupada. Sua princesa estava com fome. A família dela também. A raposa não tinha o que oferecer. A palavra fome cortou o coração da raposa. Ela sabia bem o que era sentir fome e seu coração ficou tão apertado que nada naquele dia pôde trazer alegria para ela.
A princesa até recebeu ajuda de alguns de seus amigos. Mas, a raposa não parava de pensar em como a princesa poderia conseguir recursos para construir seu reinado e dar uma vida mais digna para a sua família. O mais absurdo disso tudo era que a raposa não estava nem conseguindo recursos suficientes para a sua rainha.
Aquele dia foi um dia muito triste para a raposa. Ela pensou sozinha durante vários dias em uma maneira de ajudar a princesa. Até tentou envolver o gambá nos seus planos, mas ela estava longe de conseguir encontrar uma solução. E existia outro agravante: se a rainha descobrisse, as coisas ficariam ainda mais difíceis para a raposa.
A Rainha do Sul já estava suspeitando que a sua raposa estava mentindo para ela também. A mentira costuma causar uma falsa sensação de segurança. Ela constrói uma ilusão que parece ser eterna, mas é apenas um castelo de areia. Com o tempo, essa ilusão se desfaz, como a neblina da manhã que desaparece quando o sol se levanta.
Foi algo simples que fez a raposa estremecer e perder o controle da situação – a chegada de uma serpente. As serpentes, até então, eram os animais mais admirados pela Princesa Vermelha. Elas eram poderosas e temidas por todos, exceto pelo gambá.
— Olá, princesa, você é tão linda! Costuma vir sempre aqui?
— Sim, venho quase todos os dias. Obrigada pelo elogio! – A princesa sorriu.
— Virei todos os dias para te ver. – disse a serpente deslizando da árvore para perto da princesa.
A raposa se retorceu de ciúmes, mas nada disse em resposta. O gambá não gostou nenhum pouco da ideia de ter uma serpente ali. As serpentes são perigosas e muito cheias de si. O fascínio da princesa por serpentes era preocupante para a raposa. Ela temia não ser mais a preferida da princesa.
— Não é permitido chegar tão perto da princesa! – disse o gambá num tom áspero.
— E quem decide isso? A princesa não tem voz? É você quem decide por ela? – debochou a serpente.
— Eu venho ajudando a princesa a construir seu reinado desde que ela começou a buscar seus súditos. Não vou tolerar seu desrespeito por mim!
— Deixe a serpente em paz! Ela não fez nada de errado. – interrompeu a princesa.
— Vamos manter a calma, não tem necessidade disso. – disse a raposa tentando acalmar a situação.
— Gambá, você tem me ajudado e eu agradeço por isso, mas não tire o meu direito de decidir quem eu permito se aproximar de mim ou não.
— Estou tentando te proteger, princesa!
— Eu não preciso da sua proteção, sei me defender. – respondeu a princesa sem pensar.
— Pois, bem! Eu vou embora então. Você decidiu pela serpente, então fique com ela. Eu só lamento por você não saber me valorizar como deveria. Espero que a serpente faça mais por ti do que tenho feito.
— Vai embora, gambá! Você não é mais bem-vindo! – ordenou a serpente.
— Princesa! – exclamou a raposa sem acreditar. – Vocês são uma família, uma equipe. Não pode deixá-lo partir assim.
— Eu não o mandei embora, ele decidiu partir. – respondeu a princesa.
— Por favor, meu amigo, não vá! – implorou a raposa desesperada.
Mas o gambá apenas saiu e foi embora. A raposa se entristeceu pelo que tinha acabado de acontecer. A serpente se sentiu vitoriosa. E a princesa estava confusa com toda aquela bagunça. Com o tempo e com muito jeito, a raposa acabou convencendo o gambá a voltar. Mas os desentendimentos entre o gambá, a serpente e a princesa eram constantes. A raposa começou então a perceber que a sua nova família estava passando por uma crise. Ela percebeu que esta família também tinha problemas, como todas as outras.
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Continue lendo até o final, você não vai se arrepender! (Assim espero rs)
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A Raposa e a Princesa Vermelha
RomanceSINOPSE: Um homem solitário que teve a família destruída por suas próprias decisões erradas e acaba conhecendo uma pequena raposa branca no alto de uma montanha. Ele se surpreende com o fato da raposa lhe fazer um pedido inusitado que mudará toda a...