Com o tempo, a raposa sentiu que não fazia mais sentido passear pelo que restou da floresta. Ela continuou sozinha. Passou a viver próxima aos homens, mas não no meio deles. Ela visitava lugares bonitos, campos e plantações. Todos os dias, assistia ao pôr do sol, tamanha era a sua tristeza e solidão.
Os homens criavam galinhas. Ela não passava fome. Mas tinha que lidar com a concorrência de outras raposas. Os homens, por sua vez, caçavam as raposas. Ela fugia de todos eles. Confesso que me senti privilegiado. Eu era o único homem de quem ela se aproximava sem medo. Ela também era a única raposa que não fugia de mim.
Um certo dia, ela se deparou com outra raposa.
— Bom dia. – disse a raposa.
— Bom dia. – ela respondeu.
— Você é uma raposa rara. Deve se sentir orgulhosa de si.
— Não gosto de ser assim.
— Realmente, ser uma raposa rara e bela não é bom quando se tem caçadores por perto. Com certeza, se tiverem que escolher entre mim e você, eu conseguirei escapar.
— O que você quer?
— Quero entender como pode uma raposa como você estar tão triste.
— Eu não quero conversar.
— Além de rara, é metida!
— Não sou rara nem metida. Só estou triste.
— Entendo. Você perdeu um amigo?
— Sim. Perdi vários amigos. Como você adivinhou?
— Eu já me senti muito triste quando me despedi de um amigo.
— Então, você também já perdeu um amigo especial?
— Ele me cativou. Mas não o considero perdido. Ele apenas voltou para a casa.
— Mas ele te deixou só.
— Ele teve um bom motivo. Além do mais, eu não me sinto só. Acalmo a saudade quando me lembro do tempo que passamos juntos. Eu admiro os campos de trigo e me sinto feliz. O barulho do vento no trigo me traz boas lembranças.
— Não entendo. Ele escolheu te deixar?
— Ele precisava partir.
— Como pode se sentir feliz sabendo que ele se foi por escolha própria?
— Como eu seria feliz se ele se sentisse obrigado a ficar? Ele não seria feliz ao meu lado e eu ficaria triste se o visse infeliz. Prefiro saber que ele está bem, mesmo longe, do que obrigá-lo a ficar para satisfazer um desejo tão egoísta meu. Além do mais, ele tinha bons motivos para partir.
A raposa refletiu um pouco sobre o que acabara de ouvir. Fazia sentido, mas não confortava seu coração.
— Eu tinha uma amiga, mas ela decidiu não ser mais minha amiga. Os outros amigos, eu abandonei.
— Porque ela decidiu não ser sua amiga?
— Porque eu menti para ela. Fingi ser uma raposa que não sou. Também traí a confiança da minha rainha enquanto tentava fazer da minha amiga princesa outra rainha. Depois, abandonei minha rainha e fugi. Também deixei um amigo para trás.
— Você já tem todas as respostas que precisa.
— Que respostas?
— Me fale da sua rainha.
— Ela me encontrou na praia. Se ofereceu para cuidar de mim. Eu tinha fugido de casa e não tinha o que comer.
— De todas as raposas do mundo, a rainha escolheu você.
— Ela disse que era por eu ser diferente.
— Não percebe? Você a cativou. Para ela, você é a única raposa no mundo. Ela deveria ser a sua única rainha. Você é responsável por ela. Deve voltar para sua rainha.
— Mas, e a princesa? Eu também a cativei. E ela me cativou.
— Ela te deixou livre para que você conseguisse fazer a coisa certa: voltar para a sua rainha. E mais, você não a cativou. Você fingiu ser uma raposa que não era, então, outra raposa a cativou. E essa raposa nunca existiu de verdade.
— Tem razão. Ela não me conheceu de verdade. Mesmo assim, eu me preocupo com ela.
— É natural. Mas não se preocupe demais, ela certamente ficará bem. O tempo é um bom amigo nessas horas.
— Assim espero.
— Preocupe-se com a sua rainha. Você é eternamente responsável por ela.
— E se ela não me quiser de volta?
— Então, respeite o direito dela. Isso também é responsabilidade sua. Assim como no caso da princesa e do meu pequeno amigo, sua rainha tem todo direito de decidir o rumo da vida dela.
E acrescentou:
Mas não a condene por isso. Você a cativou, a conhece bem. Lembre-se do tempo que passaram juntas e de todas as coisas boas que viveram. Então, você entenderá que não haverá espaço para outras rainhas. Olhe para ela com os olhos do coração, só assim você verá o que realmente importa.
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A Raposa e a Princesa Vermelha
RomanceSINOPSE: Um homem solitário que teve a família destruída por suas próprias decisões erradas e acaba conhecendo uma pequena raposa branca no alto de uma montanha. Ele se surpreende com o fato da raposa lhe fazer um pedido inusitado que mudará toda a...