Capítulo 10 - Enfim, a verdade

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— Eu preciso contar a verdade.

— Do que você está falando? Que verdade?

— Eu não sou quem você pensa que eu sou. – disse a raposa, sabendo que aquele seria um caminho sem volta.

— Como assim? Estou confusa. – disse a princesa sem entender o que estava acontecendo.

A raposa entrou no riacho e a água levou embora o seu disfarce, fazendo com que a raposa voltasse à sua coloração natural. Ela saiu do riacho e sacudiu o corpo para retirar a água dos pelos. A princesa olhava para ela assustada.

— Quem é você de verdade? – perguntou decepcionada.

— Eu sou uma raposa sem cor, sem graça, que tinha perdido a vontade de viver. Eu jurei lealdade à Rainha do Sul e cuido dos assuntos do reino como sendo o braço direito dela. Por isso, eu sumi. Me assustei quando você me pediu para construir um reino com você.

— Não faz sentido. Você já estava pintada quando nos conhecemos. Porque fingia ser outra raposa? Por que não me disse a verdade desde o início?

— Me perdoe, por favor! Eu fui egoísta e não pensei direito. Eu não queria mentir para você, mas não imaginei que ficaríamos tão próximas. Eu tive medo de dizer a verdade e perder sua amizade para sempre. No dia em que nos conhecemos, eu não sentia mais vontade de viver e você me fez desejar viver por mais um dia.

— Como posso confiar em você? Você me disse muitas coisas e me contou muitas mentiras desde que nos conhecemos.

— Você não precisa continuar sendo minha amiga se não quiser, mas eu me arrependi de tudo que eu fiz e precisava te contar a verdade. Pensei em sumir e nunca mais voltar, mas você não merecia isso.

— A sua rainha também não merecia o que você fez com ela.

— Eu sei. Não sei mais o que dizer. Precisava te contar a verdade.

— Eu não sou uma pessoa ruim. Se você tivesse me contado desde o início, eu entenderia. Não precisava ter mentido para mim. Eu não quero o seu mal. Mas as suas mentiras mudaram tudo. Apesar de entender, me sinto mal com tudo isso. Estou muito triste com o que acabei de descobrir. Preciso de um tempo para refletir sobre isso. Você era especial para mim.

— O que eu preciso fazer para que você me perdoe?

— Eu te perdoo. Mas quero te pedir algumas coisas...

A princesa acrescentou:

— Não conta nada disso para o gambá. Ele vai ficar arrasado se souber. Ele disse que você era a filha que ele sempre sonhou em ter e nunca pôde. Pelo menos, por enquanto, não fala nada disso com ele.

— Eu prometo que não falarei.

— Me prometa que vai me dar um tempo para pensar. Acredito que poderemos continuar com a nossa amizade, mas realmente preciso de um tempo para pensar em tudo isso. Então, por favor, não venha mais me ver.

— Isso vai ser difícil, mas eu farei isso. Tenha quanto tempo precisar.

— Obrigada por me contar a verdade. Sei que foi difícil para você. Por favor, cumpra suas promessas e não minta mais.

A princesa se levantou e se retirou e a raposa não teve coragem de ir atrás dela. Se ela pudesse chorar com a mesma intensidade da sua dor, aquele pequeno riacho viraria um mar. Ela só conseguia pensar em tudo o que vivera com a princesa e em como o seu castelo de areia desmoronou.

Ela me contou sua história até aqui. Choramos juntos. Nem sempre haverá um final feliz. Mas a história não acaba aqui. Sua tristeza agora era maior do que antes. Seu vazio ficou ainda maior. Ela fez o que era certo, mas, mesmo assim, não se sentia bem. Eu queria, mas não consegui consolá-la. A única coisa que me veio à mente foi a ideia maluca de sair no dia seguinte em busca da princesa. E assim fizemos.

Estávamos entrando na floresta. O caminho era perigoso. A raposa andava com facilidade entre os galhos, rochas e barrancos. Eu, por outro lado, parecia uma criança aprendendo a dar os primeiros passos. Em algumas partes, eu era obrigado a usar as mãos para me apoiar. A raposa ria da minha falta de habilidade e dos tombos que eu levava.

Por fim, chegamos na tão famosa pedra onde ela se encontrava com a princesa. O lugar era bonito. Havia uma área limpa, sem pedras, árvores ou galhos. A pedra onde a princesa se sentava ficava elevada e apoiada por outras pedras, dando a impressão de ser mesmo um trono. Atrás dela tinha uma enorme árvore, forte e frondosa. Mas a luz do sol atravessava a folhagem das árvores ao redor e iluminava a pedra da princesa. Eu fiquei impressionado com aquele lugar que parecia ter saído de um conto de fadas.

Estávamos só nós ali, no meio da floresta. Naquele momento, eu já não tinha mais dúvida de que tudo aquilo era real. Eu não estava louco. Sugeri então que esperássemos um pouco. Quem sabe, a princesa voltaria.

— Ela não vai vir hoje. Já deveria estar aqui, mas se não veio até agora, não virá mais.

— Então, vamos continuar procurando por ela.

— Vamos a um lugar que eu sei que ela sempre visita.

Fomos então à casa abandonada onde ficava o esconderijo da princesa. Ao chegar lá, não encontramos ninguém.

— O que faremos agora? – perguntei.

— Você trouxe algo para escrever?

— Sim, tenho papel e caneta.

— Pode escrever uma mensagem para ela?

— O que eu devo escrever?

— Escreve o seguinte: "Querida princesa, sou eu, a raposa. Sinto muito por tudo o que aconteceu. Perdi minha família e a minha melhor amiga. Sinto sua falta. Me desculpa por estar te procurando, mas realmente sinto sua falta. Espero um dia superar isso. Não se sinta responsável por mim, eu sei que não fui uma boa amiga. Espero que você esteja bem. Quando quiser, me procura. Se não quiser, eu entendo."

Senti um grande pesar. Lembrei-me da minha esposa e da minha filhinha. Gostaria de ter dito algo assim para elas antes de partirem. Mas nem isso eu tive coragem de dizer. Enquanto eu escrevia, a raposa me viu deixar escorrer uma lágrima.

— Não chore. Você ainda tem a mim. Eu vou te ajudar a voltar para a sua família.

Era impressionante como ela entendia meus sentimentos sem eu precisar dizer muita coisa.

Deixei o bilhete da raposa preso na porta e fomos embora. Eu soube mais tarde que o pássaro azul chegou logo em seguida. Ele estava acompanhado da Rainha do Sul. Ela seguiu os rastros da raposa porque já desconfiava de que algo estava muito errado.

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Você chegou até aqui e eu quero te agradecer por isso! Muito obrigado por estar lendo este livro que tem um valor especial para mim por ser o meu primeiro livro completo. O que você está achando?

A Raposa e a Princesa VermelhaOnde histórias criam vida. Descubra agora