A Raposa e a Princesa Vermelha

Capítulo 4 - A Princesa Vermelha

A raposa há tempos se sentia abandonada, rejeitada, cobrada, desvalorizada e muitas outras coisas que faziam seu coração apertar. Ela sentia vontade de fugir dali para bem longe, mas era dominada pela culpa toda vez que esse pensamento vinha à sua mente. Seria uma traição contra a pessoa que mais a amou. Ela não podia ser ingrata. Ela reconhecia todas as coisas boas que a sua rainha havia feito por ela. Também reconhecia as belas qualidades de sua rainha, por mais que as circunstâncias tornassem isso difícil.

Já fazia muito tempo que as duas quase não se viam e já não se entendiam mais. Foi nesse momento que a raposa decidiu andar por um caminho diferente. Ela passou a entrar nas florestas e vilas desconhecidas. Passou a enfrentar situações complicadas em lugares perigosos. Foi em um desses dias, em que ela estava em um lugar isolado e no meio de muitas árvores, que a raposa avistou pela primeira vez a Princesa Vermelha.

É tão triste quando o nosso lar já não nos acolhe mais! Quando ouvi a raposa me contar essa história, comecei a refletir na minha própria vida e comecei a entender o motivo de eu estar sozinho agora. Mas não falei nada sobre o meu passado para a raposa naquele momento. Guardei meus sentimentos para mim, como já estava acostumado a sempre fazer. E continuei escutando aquela pequena raposa que não parava de falar.

Ela contou que caminhava distraidamente por entre as árvores, até que avistou, de longe, uma linda princesa. Seus cabelos eram negros como a noite, com mechas vermelhas como o fogo. Ela aparentava ser bem jovem. Tinha um sorriso contagiante e estava rodeada de "amigos" – outros animais – que pareciam estar felizes também. A raposa observou de longe por algum tempo e, logo depois, decidiu se aproximar.

Já era costume para a raposa sair disfarçada. Ela se pintava para que ninguém percebesse quem ela realmente era. Entre os demais, ela era uma raposa como qualquer outra, alaranjada. Por isso, não teve medo. O que poderia ser pior do que a sua tristeza naquele dia?

— Olá, Princesa! – cumprimentou a raposa.

— Olá, Raposa! – respondeu a Princesa sorridente. – Seja bem-vinda!

Então, todos os animais ali deram boas-vindas à raposa. A Princesa estava sentada em uma pedra, embaixo de uma enorme árvore. Os animais se sentiam à vontade perto dela, não tinham medo. Ela conversava com todos, sem discriminar ninguém.

— Você é nova por aqui? Sempre passo por esta floresta, mas nunca te vi antes.

— Sim, sou nova aqui. Estou buscando súditos para o meu futuro reino.

— E está conseguindo?

— Não está sendo fácil, mas acredito que vou conseguir.

— Para uma princesa tão linda, não deveria ser tão difícil.

— Eu serei seu súdito, minha princesa! – interrompeu o lobo.

— Obrigada, meu lobo! – respondeu feliz a princesa.

De repente, todos que estavam ali começaram a homenagear a princesa. A raposa, por um tempo, apenas observava. Eles traziam seus presentes e os colocavam na frente da princesa. A raposa não podia dar nenhum presente e isso a entristeceu um pouco. Ela disse:

— Perdão, Princesa! Mas não tenho nenhum presente.

— Não se preocupe com isso, só a sua presença já é suficiente para mim.

— Você é muito gentil. Agradeço por isso. – respondeu a raposa meio sem jeito.

No meio de todos aqueles animais, a raposa observou um gambá, daqueles bem peludos, parado próximo à princesa. Ele era durão e não tolerava desrespeito com ela. Se alguém a desrespeitasse, era banido dali. Ninguém tinha coragem de enfrentá-lo. Ele era tão durão que a raposa pensou que ele não tinha coração. Quando ele viu que a raposa estava ganhando a atenção da princesa, mesmo tendo acabado de conhecê-la e não tendo levado nenhum presente, ele começou a fazer perguntas.

A raposa ficou com medo de ser expulsa dali. Algo na princesa a tinha cativado. Há muito tempo ela não se sentia tão acolhida. Então, a raposa disse:

— Por favor, se eu falar qualquer coisa estúpida, me perdoem. Não estou acostumada a me expor dessa maneira. Não me expulsem, por favor, eu não quero ser mal educada. Me digam quando eu posso falar e quando eu devo ficar em silêncio, apenas me deixem ficar aqui.

— Não se preocupe, raposa! A princesa gostou de você e eu também. Você é muito educada e, por isso, é sempre bem-vinda. – garantiu o gambá.

— Agradeço imensamente a hospitalidade de todos. Há tempos não me sentia tão feliz. Sinto que encontrei uma nova família aqui. E, hoje, acabei de preencher no meu coração um vazio enorme que eu vinha sentindo há meses.

Com um vazio no seu coração sendo preenchido por amigos que ela acabara de conhecer, a raposa começou a criar um mundo alicerçado nas mentiras que ela contava apenas para proteger sua verdadeira identidade. A Princesa Vermelha não imaginava como aquela pequena raposa conseguia ser tão cativante e como isso poderia ser tão doloroso para as duas no futuro.

Depois de algum tempo observando, a raposa perguntou para a princesa:

— O que gosta de fazer quando não está aqui?

— Eu gosto de muitas coisas. Gosto de dançar, de música, de estar com meus amigos... gosto também de pintar. Tenho muitas pinturas. Meu sonho é conseguir ser uma grande artista algum dia.

— Verdade? Eu gostaria muito de ver suas pinturas!

— Amanhã eu trago algumas para você ver.

— Você virá amanhã? – perguntou a raposa com os olhos radiantes de alegria.

— Sim, estarei aqui. Eu venho quase todos os dias.

— Virei amanhã novamente. Estou ansiosa para ver suas pinturas e passar mais tempo contigo.

Aquelas poucas horas com a princesa tocaram tão profundamente o coração da raposa que, no dia seguinte, lá estava ela novamente, aguardando a chegada da princesa. Ela chegou bem cedo desta vez. Até agora me pergunto o que aquela princesa tinha de tão especial. Mas, de qualquer forma, se iniciou uma grande amizade entre as duas. 

__________

Me deixa conhecer um pouco você? Conta pra mim o que você gosta de fazer. Também gosta de pintar? Desenhar? Escrever? Dançar? O que você gosta de fazer quando não está aqui?

Não deixe de ler os próximos capítulos! Nos falamos em breve :)