Capítulo 2 - Um pedido inusitado

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No dia seguinte, cheguei mais cedo do que costumava chegar, e fiquei sozinho por horas ali. Anoiteceu e nada! Até que, quando já tinha desistido de esperar, ela apareceu. Eu estava furioso com ela pelo atraso. Mas, quando eu ia descarregar nela toda a minha frustração, ela me desbravou com uma simples frase:

— Perdoe-me, não queria tê-lo feito esperar tanto!

Silenciei-me.

— Algo deu muito errado hoje. Não encontrei galinhas suficientes a tempo para a minha rainha.

— Rainha?

— Sim, a Rainha do Sul. Não a conhece?

— Não conheço nenhuma rainha por aqui. Não vivemos sob um governo monarca.

— O reino dela está escondido de você, porque você não merece fazer parte dele.

A história dela era absurda, mas me indignei por ela ter dito que eu não merecia fazer parte do reino da tal Rainha do Sul.

— E o que você fez para merecer?

— Eu a cativei.

— Como?

— Assim como você me cativou.

— E como eu cativei você?

— Ora, você passou a vir todos os dias. E a cada dia, nos sentávamos mais próximos um do outro. Na última tarde, eu já esperava e estava ansiosa pela sua chegada! E você abriu a boca primeiro com uma pergunta pessoal.

— Eu não esperava que você me respondesse.

— Sim, eu notei. – ela riu. – E percebo pela sua impaciência que eu também o cativei. Isso parece bom!

— Bom para quem?

— Ora, para ambos! Eu lhe farei companhia e lhe darei a emoção de uma nova aventura. E você...

A raposa ficou em silêncio. Foi novamente consumida pela tristeza. Assim que se lembrou do motivo pelo qual ela precisava de mim, foi como se uma faca tivesse atravessado seu coração. Consequentemente, meu coração também se partiu com o silêncio dela.

— O que eu farei por você? – perguntei com cuidado.

— Me ajude a encontrá-la?

— Encontrar quem?

— A Princesa Vermelha.

— Uma princesa? Por que você está procurando por ela?

— Eu só preciso que você entregue algo para ela, algo que eu gostaria que ela recebesse.

— Um presente?

— Não, uma carta com uma mensagem.

— Você escreveu uma carta para a princesa?

— Não posso escrever uma carta para a princesa, sou uma raposa estúpida!

— Mas você é uma raposa que fala!

— Se você não gosta de falar, tudo bem, mas isso não significa que as raposas também não falem!

Aquela conversa estava quase me convencendo de que eu havia enlouquecido de vez mesmo. A Rainha do Sul... A Princesa Vermelha... Uma raposa que fala... Decidi, então, ser firme com ela.

— Não posso te ajudar!

— Por favor. – disse a raposa num tom mais brando, quase implorando. – Não será difícil demais para você. Eu só preciso que escreva a história que eu vou lhe contar e que dê um jeito de entregar essa história para ela.

— Como farei isso? Como a encontrarei para entregar sua história a ela?

— Eu não sei, mas sei que você dará um jeito melhor do que qualquer coisa que eu consiga imaginar.

Eu ri de mim mesmo naquela situação. Mas não tinha nada melhor para fazer do que ouvir as histórias de uma raposa fofinha. Não só ouvir, também escrever. E, como se não bastasse, teria que encontrar uma Princesa Vermelha desaparecida para entregar a carta da tal raposa. Acreditei que a qualquer momento acordaria depois de um sonho maluco. Mas não era um sonho.

Conversamos por horas madrugada adentro e ela me contou coisas que me tocaram profundamente. Assim que cheguei em casa, sentei-me à mesa e obriguei-me a escrever cada letrinha de cada palavra daquela pequena raposa. Não consegui pregar os olhos por quase dois dias depois daquela conversa.

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Este capítulo merece uma estrela? Conta pra mim, por favor, qual é a sua expectativa em relação à este conto da Raposa e da Princesa Vermelha.

A Raposa e a Princesa VermelhaOnde histórias criam vida. Descubra agora