Capítulo XXX

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**********Alerta de conteúdo sensível, violência adiante.*************



Aquela casa era a origem de todos pesadelos que o assombravam durante a noite. Uma mansão grande demais para acomodar uma família de quatro pessoas, extravagante e luxuosa, mas completamente oca e vazia do que realmente se fazia uma família. Ominis detestava aquele lugar, mais do que qualquer coisa no mundo. Ele passava as noites esperando que a casa um dia pegasse fogo e desaparecesse daquele mundo. Ainda esperava que isso ainda acontecesse, quem sabe pela mão dele.

Como era de se esperar, sua mãe preparou uma recepção cheia de pompa. A carruagem o entregou em frente aos pequenos degraus de mármore branco e uma cavalaria de empregadas e mordomos estavam dispostos frente a frente, numa fileira enorme. Sua mãe o esperava em frente a enorme porta de carvalho preta, e ela era uma visão assustadora. Ela trajava um vestido enorme e pomposo, usava as cores da Casa, naturalmente, a energia dela continuava a mesma, mesquinha e inconstante.

A senhora Gaunt, embora Ominis não pudesse dizer, era uma mulher esguia, de cabelos castanho-claro, olhos pretos e expressão régia. Ela usava uma trança elaborada e um vestido preto e pomposo quando seu filho mais novo chegou. Ela o mostrou um sorriso que não alcançou os olhos. Ominis fez uma breve reverência.

_Mãe - ele a cumprimentou.

_Ominis - ela respondeu, a voz tão falsamente doce quanto ele se lembrava - O filho sempre a casa retorna.

_Não tomarei muito do tempo de vocês, garanto - ele respondeu pacientemente - Meu pai está disponível?

Ela juntou as mãos em frente ao corpo, segurando-as junto. Um sinal de irritação.

_Poderá conversar com seu pai depois que nós jantarmos como uma família.

Dizendo isso ela lhe deu as costas e saiu com o barulho de seu salto ecoando atrás de si. Ela não mudara nada.

Nem a casa, conforme Ominis caminhava a dentro percebia que nada tinha mudado, a disposição das energias permanecia idêntica, não existia um quadro fora do lugar, era um pesadelo congelado no tempo. Ele sabia que casa era permeada por retratos de Gaunts ao longo do tempo, isso pois fora obrigado a aprender sobre cada um deles, mesmo sendo cego seu pai o obrigou a decorar cada quadro na casa. Na verdade, dos Gaunt que nasceram suficientemente "inteiro" para isso. A obsessão doentia da Casa com o puritanismo de sangue resultou nisso, irmãos desposando irmãs, primos e tios, sempre a fim de manter o sangue limpo. O que eles falhavam em compreender era que uniões consanguíneas tendiam a resultar em crianças com problemas genéticos, algo que até os trouxas já tinham reconhecido em sociedade, mas a comunidade bruxa se recusava a aceitar, pois isso acabaria com seu estilo de vida. Então as crianças deficientes normalmente tinham dois destinos, elas eram sacrificadas ainda bebês, ou, se os pais estivessem se sentido muito apegados, podiam criá-la em segredo, mas seu nome nunca entraria para o livro dos Gaunt. Por um tempo isso funcionou, mas gerações adiante isso se tornou cada pop vez mais impossível, até o ponto que Ominis, Marvolo e seu pai eram os únicos restantes. Sua mãe era uma sangue-puro de uma família venerada sim, os Malfoy, mas seu pai sempre a tratara com desdém, Ominis sabia que era por ele não ter conseguido desposar a própria irmã, que infelizmente nascera com uma condição física muito frágil e não passara dos dezesseis anos. Pelo menos era isso que contavam, era nisso que esperavam que ele acreditasse. E ele realmente acreditou, por um tempo. Ominis sabia que, no fundo, seu pai estava desesperado. Ele pretendia usar isso a seu favor.

Ominis foi direcionado ao seu próprio quarto, o qual permanecia intocado, como tudo naquela casa. Havia um cheiro adocicado no ar, mas muito forte, como se estivesse tentando compensar por algo e era nauseante. Ominis caminhou para a única coisa que lhe dava paz naquele quarto e naquela casa. A única coisa da qual ele talvez sentisse falta. Ele se sentou no banco acolchoado e levantou a proteção das teclas. Aquele piano era uma peça inestimável, antiga, capaz de emitir um som limpo e distinto. Ele navegou suavemente pelas teclas, sentindo-as sobre os dedos. Sem saber porque, ele começou a tocar Clair de la Lune. As teclas emitiram um som lindo, profundo que tocou a base de sua alma e Ominis suspirou com deleite. A música se estendia como uma parte dele, a melhor parte. Sua mente o levou automaticamente para uma noite fresca, na qual uma garota com a energia radiante como o sol se sentou do seu lado, e embora ela tocasse com dificuldade, o som que ela criava era tão impetuoso e potente quanto ela. Ominis se pegou sorrindo, imaginou que ela estava sentada ali tocando com ele, imaginou que ela passaria minutos elogiando e dizendo que ele era o melhor pianista do mundo bruxo. Ele riu só de pensar.

Lealdade & Ambição / Sebastian Sallow/ Ominis GauntOnde histórias criam vida. Descubra agora