Capítulo 41 - Quatro dias

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Pov. Mônica

Já fazem quatro dias desde que um dos meus piores pesadelos aconteceu; Cebola, o amor da minha vida... Está morto.

Depois de 72 horas constantes de busca a guarda deu por encerrado o caso do Cebola, acredita-se que seu corpo tenha sido levado pela correnteza do mar o que torna quase que impossível acha-lo e trazê-lo de volta para um último adeus.

- Mô? - Magali entrou no quarto com cuidado, eu estava perdida nos meus pensamentos enrolada na cama de costas para a porta. - Amiga... Eu entendo que não esteja bem, mas você precisa se alimentar ou vai acabar ficando doente. - ela sentou ao meu lado na cama.

Respirei fundo, eu queria... Juro que queria dar uma resposta a ela naquele momento, mas a dor que estou carregando cria um nó na minha garganta muito difícil de desatar.

- Por favor amiga... Reaja, o Matteo precisa de você.

Continuei em silêncio e ouvi Magali dar um suspiro de decepção, senti ela se levantar e ouvi a porta se fechar.

Eu queria poder me levantar, reagir a tudo isso, fazer o possível para estar bem mas... Eu não tenho forças.

Pov. Magali

- Ela ainda se recusa a descer? - perguntou dona Luiza preocupada.

- E a falar também - respondi com decepção me sentando no sofá.

- Está sendo muito duro para ela, perder o pai e o marido tudo de uma vez, e pior, não poder ter nem sequer visto o Cebola uma última vez.

- Não sei como a senhora consegue estar tão firme. - Falei em um tom calmo e de admiração.

Dona Luiza deu um pequeno sorriso e passou a mão no meu ombro.

- Com um tempo você aprende a lhe dar com algumas situações. - ela respondeu amávelmente.

- Parece triste - respondi

Dona Luiza riu e concordou - E é!

De repente meu celular toca.

- Alô? Oi Sr. Antenor, como o Cascão está? AINDA?! Não, tudo bem, jajá eu chego aí. - desliguei o telefone e apoiei minha testa na mão dando um forte suspiro.

- O que houve Magali? - perguntou Dona Luiza preocupada.

- O Cascão ainda está com febre e não comeu nada o dia todo, eu preciso ir lá pra falar com ele.

- Você está sendo muito forte minha querida. - falou ela colocando a mão sobre meu ombro.

Respirei fundo - Tem sido muito difícil para mim também, o Cascão perdeu um irmão, a Mônica o namorado, mas eu também perdi um amigo e me dói ver eles sofrendo e nada do que eu faça pode resolver. - comecei a chorar pois estava muito cansada e ainda os hormônios da gravidez me detonaram.

- O luto não passa do dia pra noite, principalmente da maneira que aconteceu tudo... Eu sinto muito que você esteja sofrendo tanto, mas vai passar, acredite - dona Luiza me abraçou.

- Eu espero de verdade - limpei meus olhos e me levantei do sofá - Agora eu tenho que ir, por favor dona Luiza qualquer coisa que precisar, ou se a Mônica levantar me liga que eu corro para cá.

- Vá em paz, qualquer coisa lhe aviso - sorri para ela em resposta e fui à casa do Cascão.

No meio do caminho decidi passar no píer novamente. Caminhei um pouco pela ponte de madeira descendo até o local onde o barco do Sr. Souza costumava ficar. Me sentei, coloquei os pés na água e fiquei olhando para o mar azul a minha frente.

- Ah Cebola... Se você soubesse como está nos fazendo falta... Se soubessemos que tudo isso aconteceria, com certeza não teríamos te deixado sozinho... - Depois de um tempo pensando com lágrimas caíndo dos olhos ouvi uma conversa distante.

- Estava tão ruim assim? - perguntou um homem.

- Parecia que tinha morrido já há muitos dias. - respondeu outro.

- E quando o encontraram?

- Essa madrugada.

Encontraram? Encontraram um corpo aqui? Será que... Me levantei rapidamente e corri até onde aqueles homens estavam conversando.

- Desculpe, licença, vocês por acaso estão falando que um corpo foi encontrado por aqui? - perguntei.

- Sim, sim, essa madrugada, mas os guardas não conseguiram reconhecer quem era e levaram para fazer um exame de... Como se diz mesmo? - Perguntou o homem ao amigo

- D.N.A! - respondeu

- Certo... Obrigada pela informação - respondi e me virei para ir embora já pegando meu celular. - Sr. Antenor, segura só mais um pouco as pontas ai que eu estou já chegando.

Fui até o local para onde levam os corpos das pessoas encontradas.

- Olá - falei com a atendente do local.

- Olá senhorita, bom dia, em que posso lhe ajudar? - respondeu a atendente.

- Eu soube que essa madrugada um corpo foi encontrado no píer do Limoeiro, sabe é que eu perdi um amigo meu ali nesses últimos dias, eu gostaria de saber se já sabem mais ou menos a quem o corpo pertence...

- Ah sim, sim a autópsia já foi realizada, o nome do falecido é Francisco Damaris, é seu amigo?

- Francisco Damaris? Certeza disso?

- Sim, é o que diz o prontuário.

- Não... Então não é ele, obrigada! - Saí decepcionada e sem esperança ali de dentro.

Se não era o Cebola... Então realmente não há mais esperança, ele se foi para sempre.

Pov. ?

Acordei e parecia que minha cabeça estava girando para todos os lados, ao abrir os olhos me vi dentro de uma casa só nos tijolos. Ao meu lado tinham várias toalhas em cima de uma mesinha de madeira.

Olhei para meus braços e tudo que tinha eram curativos em alguns pontos.

- Nossa! Olha só quem acordou - falou uma senhora super simpática surpresa olhando para mim.

- Q-quem é você? - perguntei.

- Ah desculpe, meu nome é Érica, Dona Érica, como você está se sentindo meu bem?

- Onde eu estou? - perguntei com uma grande confusão na mente.

- Aqui é onde eu moro... Meu marido lhe trouxe para cá.

- Seu marido? - perguntei sem entender.

- Sim, sim, eu vou lhe explicar tudo, mas aliás qual o seu nome?

- Cebola... Meu nome é Cebola...

Amor de OutonoOnde histórias criam vida. Descubra agora