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PASSEI A MAIOR PARTE DA NOITE SEGUINTE esperando Jeongin fazer cachos no meu cabelo. Eu não compreendia o jeito como meus irmãos levavam a vida e não tinha certeza se era sensato, mas nunca tinha tentado agir como eles de verdade. Decidi tentar naquela noite.

— O que acha deste? — Minho perguntou, segurando outro sobretudo. Basicamente, tudo o que ele me mostrava parecia um tubo curto de tecido, só que de cores diferentes.

— Não sei. Não faz muito o meu estilo.

Ele inclinou a cabeça para o lado.

— O problema é exatamente esse. Você não pode sair pra dançar parecendo uma dona de casa dos anos 50.

Torci o nariz.

— Ele meio que… mostra demais, não acha?

Jeongin começou a rir enquanto Minho arregalou os olhos, frustrado.

— Sim. Demais. Apenas vista, tá bom? — Minho jogou o sobretudo no meu colo. — Vou me trocar — avisou antes de sair às pressas do quarto.

Segurei um suspiro. Afinal, eu tinha que tentar parecer entusiasmada. Talvez aquela noite significasse um recomeço.

— Devíamos arrumar o seu cabelo desse jeito mais vezes — Jeongin disse, gesticulando para que eu me virasse para o espelho.

Fiquei boquiaberto.

— Está tão cheio!

— Vai murchar depois de algumas horas de dança.

Me inclinei para a frente e comecei a examinar o rosto. Eu tinha me acostumado com a beleza natural que acompanhava nossa condição de sereia. O delineador e o batom que Jeongin passou com habilidade magistral multiplicavam essa beleza por dez. Passei a entender por que os garotos praticamente formavam fila para ter a atenção de Minho.

— Obrigado. Ficou ótimo!

Ele deu de ombros.

— Às ordens.

Em seguida, ele se inclinou diante do espelho para maquiar o próprio rosto.

— Então, o que a gente faz quando chegar lá? — perguntei. — Não sei como agir num ambiente lotado.

— Não existe um passo a passo de como sair e se divertir, Felix. Provavelmente vamos pegar uma bebida e dar uma olhada na multidão. Minho com certeza vai procurar alguém, mas nós podemos ficar dançando.

— Desisti de entender como os jovens dançam há uns trinta anos. O passinho do electric slide foi a gota d’água pra mim.

— Mas dançar é tão legal!

Balancei a cabeça.

— Não. O jitterbug era legal. Mas parece que não está mais na moda seguir um ritmo e segurar a mão do parceiro.

Jeongin afastou o rímel do rosto, tentando não borrar o olho enquanto ria.

— Juro que se você fizer uns passos de jitterbug hoje à noite a Minho vai te matar.

— Boa sorte pra ele — murmurei. — Mas o que estou tentando dizer é que talvez eu não me empolgue muito com a pista de dança.

Os olhos de Jeongin encontraram os meus no espelho.

— Fico feliz de você ir para algum lugar além da biblioteca e do parque, mas não sei se está se arriscando de verdade se for só pra ficar sentado.

— Tcharam! — Minho entoou ao invadir o quarto. O sobretudo dele era preto e curto, e usava o sapato que chamava “saltos de stripper”. — Que tal?

A Sereia - hyunlixOnde histórias criam vida. Descubra agora