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ABRACEI A BEBÊ MAIS FORTE, tentando fazê-la parar de chorar.

— Shh… — acalentei, na esperança de que a minha voz a confortasse de alguma maneira em vez de trazer mais dor. — Está tudo bem… — sussurrei enquanto ela se debatia em meus braços.

As torrentes de lágrimas dos olhos da bebê se tornaram mais densas e rápidas, até que água começou a brotar de todo o seu corpo. Então seu choro se transformou num engasgo quando a água inundou sua boca.

Eu tremia horrorizada ao vê-la se afogar de dentro para fora.

Acordei num sobressalto, esquecendo que estava no fundo do mar e com a sensação de que também estava me afogando. Gritei, sem conseguir me conter.

— Você está seguro, Felix! Está seguro!

Segurei a garganta e o peito, aterrorizado até me dar conta de quem estava falando comigo e que o que Ela dizia era verdade.

— Desculpe. Tive um pesadelo.

— Eu sei.

Suspirei. Claro que Ela sabia.

— Vá ficar com os seus irmãos. Por mais que eu ame sua companhia, você precisa ir para a terra firme. Precisa da luz do sol.

Fiz que sim com a cabeça.

— Você tem razão. Venho te visitar de novo logo.

Tomei um impulso em direção à superfície, tentando disfarçar o tamanho do meu desejo de me livrar do abraço dEla agora. Era difícil conciliar isso com o desespero para me esconder nEla que tinha sentido poucas horas antes.

Subi no píer flutuante bem a tempo de ver o sol despontar através das nuvens. Permaneci ali, tentando compreender meus sentimentos. Medo, preocupação, esperança, compaixão… tanta coisa se passava dentro de mim que me sentia paralisado. Minho e Jeongin queriam me tirar da zona de conforto. E eu sentia que nada disso aconteceria enquanto não conseguisse desfazer o caos que carregava dentro de mim.

Subi a escada e voltei para dentro de casa.
Minho estava lá, ainda com o sobretudo preto; os sapatos estavam jogados de qualquer jeito perto da porta. Ele estava às gargalhadas com Jeongin, bebendo um café que comprou no caminho, ainda elétrico por causa da noite anterior.

Ambos me olharam quando cruzei a porta, e o ânimo de Minho desapareceu na hora.

— Por favor, não me diga que entrou na água com esse sobretudo!

Olhei para as gotículas que formavam uma poça no chão.

— Hum, entrei.

— Ele só pode ser lavado a seco!

— Desculpa. Vou te dar outro.

— O que aconteceu? —Jeongin perguntou, enxergando meu sofrimento.

— Só mais pesadelos — confessei enquanto tirava o sobretudo. Eu precisava vestir alguma coisa mais suave, mais quente. — Estou bem. Acho que vou deitar e ler um livro.

— Estamos aqui se quiser conversar — Jeongin se dispôs.

— Obrigado. Vou ficar bem.

Fui logo para o quarto; não queria ouvir Minho reviver sua última conquista. Eu não tinha o menor desejo de voltar para a água, mas queria lavar o cheiro de sal da pele. O máximo possível, pelo menos.

— Por que ele se dá ao trabalho de dormir? — Ouvi Minho perguntar em voz baixa. — Eu achava que ele teria desistido a esta altura. Não precisamos disso.

Esperei a resposta de Jeongin.

— Ele deve ter algum sonho maravilhoso de vez em quando, que faça os ruins valerem a pena.

A Sereia - hyunlixOnde histórias criam vida. Descubra agora