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O QUE VOCÊS QUEREM FAZER HOJE À NOITE?
— Minho perguntou ao se jogar no sofá. Do lado de fora da janela atrás dele, o céu passava de azul para rosa, de rosa para laranja, e eu risquei mentalmente mais um dia entre os milhares que ainda faltavam para mim. — Não estou muito a fim de ir numa balada.

— Opa, opa, opa! — exclamei, erguendo os braços. — Está doente? — provoquei.

— Ha-ha — ele replicou. — Só estou com vontade de fazer alguma coisa diferente.

Jeongin levantou os olhos da tela do notebook que compartilhávamos.

— Onde ainda é dia? A gente podia ir a um museu.

Minho balançou a cabeça.

— Nunca vou entender como você pode gostar tanto de lugares silenciosos. Como se a gente já não ficasse quieto o bastante.

— Pfff! — desdenhei, lançando um olhar para Minho. — Você, quieto?

Minho me mostrou a língua e pulou para perto Jeongin.

— O que você está vendo?

— Paraquedismo.

— Uau! Agora sim uma coisa divertida!

— Não vai se animando. É só uma pesquisa por enquanto. Queria saber o que aconteceria com nossos níveis de adrenalina se fizéssemos uma coisa dessas — Jeongin explicou enquanto tomava notas num caderninho. — Tipo, se a gente teria um pico de adrenalina acima da média.

Comecei a rir.

— Jeongin, é para ser uma aventura ou um experimento científico?

— Um pouco dos dois. Li que picos de adrenalina podem alterar a percepção, fazer as coisas parecerem desfocadas ou meio que congelar um momento. Acho que seria interessante fazer uma coisa dessas, descobrir o que vou sentir e depois tentar reproduzir na arte.

Achei graça.

— Tenho que reconhecer que é criativo. Mas não existe um jeito mais fácil de ter um pico de adrenalina do que pular de um avião?

— Mesmo se tudo der errado, a gente sobrevive, certo? — Jeongin quis saber, e ambos se viraram para mim como se eu fosse a maior autoridade no assunto.

— Acho que sim. Em todo caso, pode me deixar fora dessa aventura em particular.

— Está com medo? — Minho caçoou, imitando um fantasma, agitando os dedos para mim.

— Não — rebati. — Só não tenho vontade.

— Ele está com medo de arranjar problemas — Jeongin especulou. — Medo de que a Água não goste.

— Como se Ela algum dia fosse ficar brava com você! — Minho disse, com uma pontinha de amargura na voz. — Ela te adora.

— Ela gosta de nós três — eu disse, cruzando as mãos sobre o colo.

— Então Ela não ia ligar se você pulasse de paraquedas.

— E se vocês ficassem aterrorizadas e começassem a gritar? — desafiei. — O que aconteceria?

Minho, que estava pronta para criticar minha preocupação, recuou.

— Bom argumento.

— Ainda faltam vinte anos pra mim — eu disse em voz baixa. — Se estragar tudo agora, vou jogar fora os últimos oitenta anos. Vocês conhecem tão bem quanto eu as histórias das sereias que fizeram algo errado. Jeongin, você viu o que aconteceu com Ifama.

Jeongin se arrepiou todo. A Água tinha salvado Ifama de um naufrágio perto da costa da África do Sul nos anos 50, e a jovem aceitou servi-La em troca da possibilidade de viver. Durante sua curta temporada conosco, ela ficou na dela, passando a maior parte do tempo sozinha no quarto, aparentemente rezando. Depois começamos a nos perguntar se essa frieza era parte de um plano para não se apegar a nós. Quando Ifama precisou cantar pela primeira vez, surgiu sobre as águas, ergueu a cabeça e se recusou. A Água a puxou para baixo tão rápido que foi como se a sereia nunca tivesse estado lá.

A Sereia - hyunlixOnde histórias criam vida. Descubra agora