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PASSAVA A MAIOR PARTE DO TEMPO NO QUARTO, à espera de que algo acontecesse, mas não é assim que a vida funciona. Em ambientes fechados, as coisas apenas se repetem.

Minho, claro, foi o primeiro a decidir sair. Depois de quase um mês enfurnada em casa, ele finalmente veio bater na minha porta.

— Jeongin acabou de vender outra obra. Vamos fazer compras para comemorar. Quer alguma coisa?

Dei de ombros.

— Umas meias-calças talvez. E um ou dois casacos. Para fingir que tenho roupas de inverno se precisar sair.

— É algo que você pretende fazer em breve? Sair, quer dizer — ele falou como quem não quer nada, mas com um olhar incisivo.

Voltei para o meu livro.

— Não sei. Hoje não.

— Tem certeza? Você pode vir e escolher as meias. Sei que isso é implorar por confusão, mas ainda assim… — ele provocou.

Eu dei um sorriso fraco.

— Estou bem aqui.

Minho se deteve um pouco à porta, respirando fundo algumas vezes como se estivesse prestes a discutir comigo, mas acabou desistindo.

— Tudo bem então. Voltamos logo.

Ele deixou a porta entreaberta, e pude ouvi-lo cochichar preocupada com Jeongin:

— Tentei falar de um jeito casual, mas ele diz que quer ficar.

— Ele só precisa de um tempo — Jeongin cochichou de volta. — Ou aconteceu alguma coisa que ele ainda não está pronta para contar ou realmente não aguenta mais ser sereia. Está deprimido.

— Bom, e como tiramos ele dessa? Não consigo viver desse jeito — Minho sibilou.

— Ele faria isso por nós. De certa forma, ele já faz.

Por mais baixo que estivessem falando, Minho diminuiu ainda mais a voz:

— Você falou com Ela? Contou como tem sido?

— A Água sabe. Ela concorda que a paciência é o melhor caminho.

Fechei os olhos. Sabia que meu humor não era dos melhores no momento, mas fiquei surpresa por eles acharem que precisavam de um plano de ação para lidar comigo. Não conseguia acreditar que foram até a Água.

Estava prestes a entrar na sala pisando duro para mandar os dois cuidarem da própria vida quando ouvi o chamado dEla.

— Rápido! — Ela alertou. — Seu novo irmão está esperando. E muito assustado.

Saí em disparada pela porta do quarto e da casa. Vi que Jeongin e Minho já estavam a caminho. Olhei para a praia vazia atrás de nós, grata porque o inverno estava chegando e ninguém queria ficar perto da água.

Corremos para as ondas, levantando as pernas bem alto até chegarmos na profundidade suficiente para sermos arrastadas.

— Para onde vamos? — perguntei.

— Índia. Sejam delicadas com esse jovem.

— Claro.

Algo na situação me lembrava o dia em que Jeongin tinha se juntado a nós — o que me deixava preocupada. Jeongin vivera numa vila de pescadores no litoral norte do Japão. De acordo com o que nos dissera entre soluços quando o encontramos pela primeira vez, ele nem deveria estar no barco que afundou para começo de conversa. Ele contara à família sobre seu medo de água e prometera que, se o deixassem ficar na praia, trabalharia dobrado assim que tudo fosse trazido para a terra.

A Sereia - hyunlixOnde histórias criam vida. Descubra agora