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NA VÉSPERA DE NATAL, a Água nos levou de volta à Suécia junto com Changbin, como ele desejava.

Meu irmão queria passar uma última noite na cabana que amava antes de ser transformado de volta. Eu e os outros o instalaríamos em sua nova vida do melhor jeito possível. Não havia muito que pudéssemos fazer depois que ele voltasse a ser humano outra vez.

- Então a gente vai deixar a cama para você esta noite - Jeongin disse. - E essas são as roupas que você escolheu?

Changbin observou a pequena mochila de couro que tinha posto no canto e o sobretudo e a meia-calça limpos que pendurou logo acima.

- São. - Sua voz era suave, cansada.

- Por que você está tão pra baixo? - Minho perguntou, se contorcendo para admirar o brilho do seu sobretudo de sal. - Você deveria estar comemorando, não é? É Natal e você vai ganhar o melhor presente de todos! Não está empolgado?

Changbin assentiu.

- Claro. Só é estranho.

- Vou começar a cozinhar - Jeongin disse. - Acho que uma refeição de primeira vai fazer bem a todas.

- Posso ajudar? - Jisung perguntou, numa tentativa clara de encontrar um jeito de se encaixar no grupo. Imaginei como seria difícil para ele assistir à partida de um irmão que só conheceu por poucas semanas.

- Claro! - Jeongin respondeu. - Vou botar todo mundo para trabalhar!

- Felix não - Changbin disse. - Preciso dele por um momento.

- Como você quiser.

Changbin e eu trocamos nossos sobretudos de sal marinho por algo mais convencional antes de sair. Reparei que ele tomava cuidado com cada movimento, como se estivesse se estudando.

Ele calçou uma bota de cano alto, pôs luvas e até chapéu, e me encorajou a fazer o mesmo. Percebi então que provavelmente descobriria mais segredos dele. A neve era apenas água congelada, então estávamos ligadas a Ela. Um dedo do pé que encostasse numa poça sem querer seria o suficiente para nos comunicarmos com a Água, quiséssemos ou não. Naquele dia, Ela permaneceria fora de alcance até Changbin decidir o contrário.

Nossa respiração pairava no ar sob o dossel de galhos que protegia nossa casinha. Changbin permanecia imóvel, com o rosto mais tenso a cada instante.

- Então, para que você precisa de mim? - perguntei.

Ele engoliu em seco, tentando sustentar o sorriso.

- Alguém tem que saber aonde me levar. Venha, tenho que cuidar de uns detalhes no caminho.

Changbin não parecia querer falar, então o acompanhei em silêncio; o ruído das botas na neve era o único som que produzíamos. Caminhamos por um bom tempo antes de avistarmos sinais de uma cidadezinha, uma área rural logo atrás da praia. Primeiro passamos por casas pequenas em fazendas enormes, depois por um punhado de lojas e alguns prédios, e por fim chegamos a uma bela praça central.

Depois de termos vivido em tantas cidades grandes, era difícil acreditar que ainda existisse um lugar tão rústico e rural como aquele. Pisca-piscas pendiam das árvores, e as vitrines das lojinhas estavam enfeitadas. As crianças corriam pela rua com seus casacos de lã, entoando canções natalinas como se fossem gritos de guerra. O cheiro de canela e frutas cítricas preenchia o ar, e fiquei feliz por aquela ser a imagem que eu teria da última residência de Changbin.

Chamei a atenção dele e comentei na língua de sinais:

- Agora vejo por que você gosta daqui.

O rosto dele ainda estava coberto de tristeza.

A Sereia - hyunlixOnde histórias criam vida. Descubra agora