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VIVI QUATRO DIAS NUM MUNDO SECRETO DE ALEGRIA ABSOLUTA. Nem dormi, porque pela primeira vez em muito tempo ficar acordado era bem melhor. Passei horas à procura de receitas, tentando encontrar uma que fosse um pouco acima do que uma principiante faria, mas que não fosse complicada demais para uma cozinha de alojamento.

Dava para sentir o peso do olhar dos meus irmãos enquanto eu cantarolava sozinho. Eles não perguntaram qual era o motivo da melhora tão repentina do meu humor, talvez porque soubessem que eu não ia contar nada. Mas quando a animação não diminuiu depois de uns dias, comecei a me perguntar como era possível um garoto causar tanto efeito sobre mim.

Disse a mim mesmo que era totalmente normal não parar de pensar em alguém diferente e novo para mim. As pessoas se apaixonavam por atores e músicos e celebridades que não tinham a menor chance de conhecer na vida real. Pelo menos estava direcionando meu afeto a alguém que me conhecia de verdade.

Eu não via a hora de o nosso encontro chegar, e tentava dar um tom divertido e leve à expectativa. Mandava mensagens como:

Você fornece o forno e os utensílios e eu levo todos os ingredientes?

E ele respondia:

Também levo o estômago, porque bolo > comida de verdade. Combinado!

Eu perguntava:

O que você acha de cobertura de cream cheese?

E vinha a resposta dele:

Acho que não recebe o reconhecimento que merece, para ser sincero.

Os dias que antecederam o encontro foram cheios de mensagenzinhas assim, em que uma única frase acabava virando uma hora seguida de alertas no celular. O que tornava tudo ainda melhor era que eu nem sempre precisava começar a conversa. Na quarta-feira, as perguntas de Hyunjin foram mais pessoais e vieram espontaneamente.

Você cozinha faz tempo?

Parece que desde sempre.

Foi sua mãe que te ensinou?

Na verdade, fui aprendendo sozinha.

Carinhas felizes. Ele mandava várias. Se viessem de qualquer outra pessoa, seriam ridículas, mas eu tinha certeza de que, se ele mandava uma, era porque estava sorrindo de verdade.

Passamos a maior parte da quinta sem nos falar, o que não me incomodou. Eu repetia a mim mesmo que estava exagerando na empolgação. O mais provável era que esse encontro seria o único, porque a nossa comunicação ia ser tão difícil que Hyunjin não ia querer me ver de novo. E seria o melhor. Afinal, que futuro poderíamos ter?

Era isso que eu dizia a mim mesmo quando, por volta das dez da noite, ele me mandou uma foto com uma expressão confusa e a legenda: “Por que, matemática? Por quê?”. Deitei na cama e comecei a rir incontrolavelmente. Primeiro: ele era tão, mas tão fofo! Segundo: ele me mandou uma foto! Um garoto havia tirado uma foto só pra mim, e senti como se aquilo fosse mais importante do que qualquer coisa que tinha vivido no último século.

Ouvi uma batida rápida na porta do quarto, mas Minho e Jeongin abriram antes que eu pudesse responder.

— Tudo bem por aqui? — Minho perguntou, apoiando a mão no quadril.

Respirei fundo e parei de rir.

— Sim, estou bem.

Jeongin deu uma olhada no quarto. Minha TV estava desligada e não havia um livro na minha mão.

— Qual é a graça?

Mostrei o celular.

— Só uma coisa que eu vi.

A Sereia - hyunlixOnde histórias criam vida. Descubra agora