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JULIE NÃO QUIS QUE HYUNJIN OU EU pagássemos pelos seus serviços. Em vez disso, nos mandou ir ao mercado — o único da cidade — fazer compras para ela.

— Ei, Hyunjin! Quem é o seu amigo? — perguntou o senhor no balcão.

— Felix. Um amigo da faculdade. Vai passar uns dias aqui.

Uns dias?, pensei. Você tem noção de como as últimas dezenove horas foram impossíveis?

— Prazer em conhecer, querido — ele disse estendendo a mão.

Eu o cumprimentei e pude notar como a pele dele parecia papel de seda. Aquele homem nunca tinha sido pescador, com certeza.

— O Dip Net está lotado hoje à noite? — Hyunjin perguntou ao pegar um cesto.

— Não.

— Ótimo! Felix vai experimentar o melhor da nossa comida — Hyunjin respondeu, piscando para mim e se despedindo do velho com um aceno. Fiz o mesmo. — Já comeu lagosta? — ele me perguntou.

Abri um sorriso amarelo. Depois de me tornar sereia, a ideia de comer frutos do mar soava como devorar um parente distante.

— Por favor, diga que é brincadeira.

Abri um sorriso ainda mais constrangido.

— Sério? Felix, o que vou fazer com você? — ele provocou enquanto caminhava pelos corredores do mercado, parando para pegar croutons e sopa. — Você surge do nada na cidade como se fosse a coisa mais normal do mundo, fala tanto que mal consigo pronunciar uma palavra, e depois ainda confessa o mais hediondo dos crimes! — Ele balançou a cabeça. — Não conte para Ben. Ele literalmente te chutaria de casa por isso.

Hyunjin sorriu consigo mesmo e correu a mão pelas prateleiras. Fiz o mesmo, apreciando o frio do metal. Adorei aquele mercadinho, o ambiente, o cheiro. Fiquei com vontade de voltar lá um dia.

— Ai! — Hyunjin gemeu puxando a mão com tudo. — Cuidado.

Quando ele estendeu a mão para me mostrar, vi um corte fino entre dois dedos. Olhei para a prateleira e vi uma parte quebrada e afiada que devia ter causado o machucado.

— Como está a sua mão? — ele perguntou esticando o pescoço para ver a minha palma.

Balancei a cabeça, sabendo que não haveria corte algum.

— Não, sério. Está tudo bem? — Ele pegou minha mão e a virou. Nada. Nem uma marca, nem uma gota de sangue. — Hum… Você é osso duro de roer — ele disse com um sorrisinho despontando nos lábios.

Ele me encarou, consciente de que eu deveria estar sangrando. Mas não havia qualquer traço de acusação ou medo na sua expressão, apenas curiosidade.

Ele suspirou.

— Infelizmente, sou um mero mortal. É melhor arranjar um curativo. Ei, Kurt! Você precisa consertar a prateleira aqui no fundo.

Com cuidado, recolhi a mão, e ele virou para o corredor seguinte à procura de produtos médicos. Passei um instante sozinha, tentando acalmar as batidas rápidas do meu coração.

Julie correu os dedos pelo meu cabelo quando ficamos diante da penteadeira do quarto dela.

— Que xampu você usa? Seu cabelo parece seda! — ela disse com inveja.

Eu precisava inventar novas expressões faciais que dissessem o que eu estava pensando o tempo todo. Como poderia fazer as bochechas dizerem que eu não lembrava e a testa expressar gratidão? Sentia falta das palavras.

— Muito bem, primeiro o mais importante: cabelo. O restaurante não é muito chique, então talvez seja melhor deixarmos de lado o seu sobretudo absolutamente maravilhoso. É um pouco acima do tom. Melhor você simplesmente pegar outra coisa do guarda-roupa.

A Sereia - hyunlixOnde histórias criam vida. Descubra agora