O Filho Pródigo

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Ele odiava as férias.

Odiava não saber o que vestiria, o que comeria, que horas faria suas coisas.

Odiava qualquer coisa que lhe obrigasse a pensar no próximo passo a curto prazo.

Lesath gostava de levar adiante a rotina de Hogwarts. Adorava os horários prontos para estudos e não se preocupar com quando ou o quanto comeria. Gostava de não precisar escolher que roupa vestir de manhã, e de passar seus fins de semana reclamando que teria que voltar à rotina.

Assim, arrumou uma rotina semanal para seguir com afinco, levantando no mesmo horário, saindo para comer, voltando para estudar, aproveitando para ler alguma coisa. Tinha até uma hora por dia destinada a seus esboços e aquarelas.

Podia até ir aonde desejasse, mas não desejava sair do Beco Diagonal, e como aquela longa rua de pedras era repleta das lojas de magia mais fascinantes do mundo. Com exceção da primeira semana, quando teve que comprar roupas e escolher um apartamento no mundo trouxa e se perdeu feio no metrô, não saiu da longa rua de lojas mágicas.

Todas as manhãs ele saía cedo de seu novo e pouco mobiliado apartamento e ia tomar o café no Caldeirão Furado, onde gostava de observar os outros hóspedes: bruxas do interior, franzinas e engraçadas, que vinham passar o dia fazendo compras; bruxos de aspecto venerável discutindo o último artigo do Transfiguração Hoje; bruxos de ar amalucado; anões de voz roufenha; e, uma vez, alguém, que tinha a aparência suspeita de uma bruxa malvada, pedira um prato de fígado cru, o rosto semi escondido por uma carapuça de lã.

Depois do café Lesath saía para o pátio dos fundos, puxava a varinha, batia no terceiro tijolo a contar da esquerda, acima do latão de lixo, e se afastava enquanto se abria na parede o arco para o Beco Diagonal.

O garoto passou os dias longos e ensolarados explorando as lojas e comendo à sombra dos guarda-sóis de cores vivas à porta dos cafés, em que os seus companheiros de refeição mostravam uns aos outros as compras que tinham feito ("é um lunascópio, meu amigo – é o fim dessa história de mexer com tabelas lunares, me entende?") ou então discutiam o caso de Sirius Black ("pessoalmente, não vou deixar nenhum dos meus filhos sair sozinho até que ele esteja outra vez em Azkaban").

Ele não tinha bichos de estimação, Lucius não via sentido neles, então fez o favor a si mesmo de comprar um gato. Era de um branco tão perfeito que machucava a vista se ficasse logo abaixo da luz, com olhos enormes e azuis.

Era tão pequenininho que dormia em seu ombro enquanto estudava de noite, e tão quentinho que Lesath deixava que passasse a noite em sua cama, logo ao lado do travesseiro, mesmo tendo comprado toda uma parafernália para ele.

O gatinho mal pesava um quilo, mas tinha um arranhador de quatro andares com umas dez plataformas diferentes, uma fonte de água sempre fria, uma caixinha de areia com o triplo de seu tamanho. Tudo, ele fizera questão, era igualmente branco ao seu pelo, ou azul como seus olhos. Ele podia passar horas apenas observando-o brincar, e nem tinha dado um nome a ele (ainda não sabia se era fêmea ou macho).

Ainda assim, o número de esboços com os mais diversos traços do pequeno felino aumentava cada vez mais, em conjunto com as aquarelas das paisagens do Beco.

Lucius estava certo, ele tinha bastante dinheiro.

Pela primeira vez, Lesath pediu para descer ao cofre dos Lestrange. Geralmente pedia para algum duende pegar uma certa quantia e seguia a vida, pagando um pouco a mais pelo serviço.

Desta vez desceu, mais por curiosidade que qualquer outra coisa. Era um dos cofres mais profundos e bem protegidos, e mesmo que as cavernas em volta não estivessem tão frias, o cofre parecia prestes a congelar.

Irmãos Potter _ O Prisioneiro de AzkabanOnde histórias criam vida. Descubra agora